INTRODUÇÃO. Em Rm 9–11, Paulo
trata da eleição de Israel no passado, da sua rejeição do evangelho no
presente, e da sua salvação futura. Esses três capítulos foram escritos para
responder à pergunta que os crentes judaicos faziam: como as promessas de Deus
a Abraão e à nação de Israel poderiam permanecer válidas, quando a nação de
Israel, como um todo, não parece ter parte no evangelho? O presente estudo
resume o argumento de Paulo.
Israel (= Jacó) é uma designação que se refere tanto ao povo como também
à terra. Povo e terra formam uma unidade inseparável. Desta forma, a terra deve
pertencer aos palestinos, ou seja, aos árabes? Jamais, pois o próprio Deus
garante que ela pertence a Israel. As nações deveriam prestar atenção àquilo
que Deus diz do Seu "vermezinho Israel" e como Ele o
protege: "Porque aquele que tocar em vós toca na menina do seu
olho" (Zc 2.8b).
I)
Há três
elementos distintos no exame que Paulo faz de Israel no plano divino da
salvação
(1) O primeiro (9.6-29) é um exame
da eleição de Israel no passado. (a) Em 9.6-13, Paulo afirma que a promessa de
Deus a Israel não falhou, pois a promessa era só para os fiéis da nação. Visava
somente o verdadeiro Israel, aqueles que eram fiéis à promessa (ver Gn 12.1-3;
17.19). Sempre há um Israel dentro de Israel, que tem recebido a promessa. (b)
Em 9.14-29, Paulo chama a nossa atenção para o fato de que Deus tem o direito
de fazer o que Ele quer com os indivíduos e as nações. Tem o direito de
rejeitar a Israel, se desobedecerem a Ele e o direito de usar de misericórdia
para com os gentios, oferecendo-lhes a salvação, se Ele assim decidir.
(2) O segundo elemento
(9.30—10.21) analisa a rejeição presente do evangelho por Israel. Seu erro de
não voltar-se para Cristo, não se deve a um decreto incondicional de Deus, mas
à sua própria incredulidade e desobediência.
(3) Finalmente, Paulo explica
(11.1-36) que a rejeição de Israel é apenas parcial e temporária. Israel por
fim aceitará a salvação divina em Cristo. O argumento dele contém vários
passos. (a) Deus não rejeitou o Israel verdadeiro, pois Ele permaneceu fiel ao
“remanescente” que permanece fiel a Ele, aceitando a Cristo (11.1-6). (b) No
presente, Deus endureceu a maior parte de Israel, porque os israelitas não
quiseram aceitar a Cristo (11.7-10; cf. 9.31—10.21). (c) Deus transformou a
transgressão de Israel (i.e., a crucificação de Cristo) numa oportunidade de
proclamar a salvação a todo o mundo (11.11,12, 15). (d) Durante esse tempo
presente da incredulidade nacional de Israel, a salvação de indivíduos, tanto
os judeus como os gentios (cf. 10.12,13) depende da fé em Jesus
Cristo (11.13-24). (e) A fé em Jesus Cristo, por uma parte do Israel nacional,
acontecerá no futuro (11.25-29). (f) O propósito sincero de Deus é ter
misericórdia de todos, tanto dos judeus como dos gentios, e incluir no seu
reino todas as pessoas que creem em Cristo (11.30-36; cf. 10.12,13; 11.20-24).
II)
Várias
coisas se destacam nestes três capítulos.
(1) Esse exame da condição de
Israel não se refere à vida ou morte eterna de indivíduos após a morte. Pelo
contrário, Paulo está tratando do modo como Deus lida com nações e povos do
ponto de vista histórico, i.e., do seu direito de usar povos e nações conforme
Ele quer. Por exemplo, sua escolha de Jacó em lugar de seu irmão Esaú (9.11)
teve como propósito fundar e usar as nações de Israel e de Edom, oriundas
dos dois. Nada tinha que ver com seu destino eterno, i.e., quanto a sua
salvação ou condenação como indivíduos. Uma coisa é certa: Deus tem o direito
de chamar as pessoas e nações que Ele quiser, e determinar-lhes
responsabilidades a cumprir.
(2) Paulo expressa sua constante
solicitude e intensa tristeza pela nação judaica (9.1-3). O próprio fato que
Paulo ora para que seus compatriotas sejam salvos, revela que ele não admitia o
ensino teológico da predestinação, afirmando que todas as pessoas já nascem
predestinadas, ou para o céu, ou para o inferno. Pelo contrário, o sincero
desejo e oração de Paulo reflete a vontade de Deus para o povo judaico (cf.
10.21; ver Lc 19.41, nota sobre Jesus chorando por causa de Israel ter
rejeitado o caminho divino da salvação). No NT não se encontra o ensino de que
determinadas pessoas foram predestinadas ao inferno antes de nascer.
(3) O mais relevante neste assunto
é o tema da fé. O estado espiritual de perdido, da maioria dos israelitas, não
fora determinado por um decreto arbitrário de Deus, mas, resultado da sua
própria recusa de se submeterem ao plano divino da salvação mediante a fé em
Cristo (9.33; 10.3; 11.20). Inúmeros gentios, porém, aceitaram o caminho de
Deus, que é o da fé, e alcançaram a justiça mediante a fé. Obedeceram a Deus
pela fé e se tornaram “filhos do Deus vivo” (9.25,26). Esse fato ressalta a
importância da obediência mediante a fé (1.5; 16.26) no tocante à chamada e
eleição da parte de Deus.
(4) A oportunidade de salvação
está perante a nação de Israel, se ela largar sua incredulidade (11.23).
Semelhantemente, os crentes gentios que agora são parte da igreja de Deus são
advertidos de que também correm o mesmo risco de serem cortados da salvação
(11.13-22). Eles devem sempre perseverar na fé com temor. A advertência aos
crentes gentios em 11.20-23, pelo fato da falha de Israel, é tão válida hoje
quanto o foi no dia em que Paulo a escreveu.
(5) As Escrituras estão repletas
de promessas de uma futura restauração de Israel ao aceitarem o Messias. Tal
restauração terá lugar ao findar-se a Grande Tribulação, na iminência da volta
pessoal de Cristo (ver Is 11.10-12 nota; 24.17-23 nota; 49.22,23 nota; Jr
31.31-34; Ez 37.12-14 nota; Rm 11.26 nota; Ap 12.6 nota).
III)
A TRISTEZA DE PAULO (Rm 9.1-3)
Nestes
versículos o apóstolo Paulo declara seu amor por sua gente, os judeus. Ele
começa declarando: “Em Cristo digo a verdade, não minto”. Visto que era
conhecido como judeu zeloso, sua conversão a Cristo o tornou antipático para
os judeus, que o viam como “um traidor de sua gente”. Entretanto, Paulo garante
que seus sentimentos são sinceros e que sua consciência tinha o testemunho do
Espírito Santo, conforme o texto diz: “dando-me testemunho a minha consciência
no Espírito Santo” (v 1). Esse texto mostra que sua consciência agia sob a
orientação iluminada do Espírito Santo.
No versículo
2, Paulo ainda declara dizendo: “Que tenho grande tristeza e contínua dor no
meu coração”. É uma expressão de profundo sentimento de amor e respeito pela
sua gente, e não de traição. A despeito da hostilidade dos judeus contra a
pregação do Evangelho e contra a sua pessoa, Paulo diz que, se fosse possível
ele mesmo ser separado de Cristo, para salvar “seus parentes segundo a carne”,
ele o faria por amor a eles. Essa linguagem é bem típica de quem ama
profundamente e é capaz de dar sua vida para salvar outras. No AT podemos
lembrar Moisés (Êx 24.16,17).
- Por que essa
tristeza de Paulo para com seus irmãos de sangue? A resposta é simples e
objetiva: o repúdio do povo judeu para com Jesus Cristo. Sua tristeza tem duas
razões específicas: Primeira, Paulo declara que os judeus são seus “parentes” segundo a carne,
mas não querem ser seus irmãos segundo o espírito. Segunda, pelo fato de que os
judeus, possuindo privilégios especiais como nação, rejeitaram o “privilégio
maior”, que é a salvação em Cristo.
IV)
OS ESPECIAIS PRIVILÉGIOS DE ISRAEL (9.4,5)
Há pelo menos 8
privilégios distintos apresentados por Paulo nesta Carta. - Quais são
esses privilégios?
1. (9.4)
“...dos quais é...” - (De quem? Dos “israelitas”.) Pertence a eles a adoção, como
promessa divina, visto que foram feitos filhos ou povo
peculiar de Deus, tirado do meio das nações. (Êx 4.22; Os 11.1).
2. Pertence a eles a glória que se refere a “Shekinâ” que
significa a presença de Deus visível no tabernáculo e no templo (Êx 40.34,35).
3. Pertencem
a eles as alianças feitas com Israel. Entre todas as alianças
destaca-se a aliança feita no monte Sinai (Êx 24.8). Porém, podemos lembrar uma
ordem nas “alianças”: feita com Abraão (Gn 15.18; 17.4); nos dias de Moisés (Êx
24.8; 34.10; Dt 29.1); nos dias de Josué, o sucessor de Moisés (Dt 27.2; Js
8.30; 24.25); nos dias de Davi: (2 Sm 23.5; Sl 89.28). Subentende-se
que Paulo destaca o privilégio de sua gente como nação peculiar de Deus, de
receber toda a atenção de Jeová.
4. Pertence
a eles a Lei (9.4), mui especialmente a lei outorgada
através de Moisés, que se tornou base de jurisprudência mundial (Êx 20). A
concretização da aliança feita com o aparecimento da Lei concretiza a
preocupação divina com a vida cotidiana do povo judeu. A Lei trouxe
os requisitos de obediência para o povo, na sua vida cotidiana, no seu culto a
Deus e no relacionamento com o próximo.
5. Pertence
a eles o culto (Rm 9.4) a Deus, com todos os rituais e
cerimoniais. Paulo diz literalmente: “deles é o culto”, no sentido de que foi
privilégio particular da nação israelita cultuar ao Deus verdadeiro, visto que
as demais nações não conheciam esse Deus verdadeiro. Hoje, pela graça do Senhor
Jesus, todos quantos o aceitam têm direito de cultuar a esse Deus.
6. Pertencem
a eles as promessas (9.4) (-Quais promessas? - Todas!) Desde
Abraão Deus tem feito promessas à sua descendência e todas as promessas
messiânicas feitas a Davi e através dele acerca do vindouro reino messiânico
(Is 55.1; At 13.23,32-34).
Todas as promessas a
Israel, desde Abraão, representam o horizonte escatológico para o qual Israel
está sendo conduzido. A revelação de Deus através do cumprimento histórico
e futuro dessas promessas chegará ao seu clímax no reino messiânico.
7. Pertencem
a eles os pais (9.5), que são os patriarcas de Israel. A estes
Deus fez promessas, que representam toda a esperança de Israel. É impossível
deixar de reconhecer os “pais da antiguidade”: Abraão, Isaque e Jacó, que
revestiram de glória todas as gerações dos judeus até o presente (Êx 3.6,13;
Lc 20.37). Nestas referências a identificação patriarcal é com Abraão, Isaque e
Jacó.
8. Pertence
a eles a descendência de Cristo (9.5). “E dos quais é Cristo
segundo a carne”. Note-se que Paulo deixou por último “a Cristo” por ser o mais
eminente dos privilégios dos judeus. Os que negam a divindade de Cristo,
utilizam a expressão “segundo a carne” para rejeitar o testemunho que a Escritura
dá a respeito da divindade de Cristo. Na sequência do texto está escrito: “...o
qual é sobre todos, Deus bendito eternamente” (9.5). É indiscutível o fato de
que o Cristo, o Ungido, é o “Verbo divino que se fez carne” (Jo 1.1,14) e
“habitou entre nós”. Como Deus bendito, Cristo nasceu como homem, “segundo a
carne”, descendendo dos judeus. Sua humanização não afetou em nada a sua
divindade. Paulo faz um tributo à divindade de Cristo, quando diz que Ele é
“sobre todos”, isto é, exalta-o e o coloca em sua real posição de supremacia.
Ainda mais, Paulo o trata como “Deus bendito eternamente” (9.5). Esse
tratamento é identificado no AT, quando o salmista precede o nome de Deus com a
palavra “bendito” (Sl 68.35; 72.18). Pode-se encontrar esse mesmo
tratamento paulino em 2 Co 11.31; Rm 1.25, etc. Finalmente, entende-se que
Cristo descendeu dos judeus “segundo a carne” para revelar-se ao mundo todo
como o Redentor de todos os homens (Mt 1.1; Jo 1.14; Hb 2.16).
V)
A ELEIÇÃO DE ISRAEL SEGUNDO A SOBERANIA DE DEUS (9.6-13)
Inicialmente,
precisamos considerar as razões que levaram Paulo a escrever esta Carta aos
crentes romanos. Havia na igreja, na comunidade de crentes existentes em Roma,
dois grupos distintos, um formado por judeus, e outro por gentios. Essa
diferença racial e religiosa promoveu um litígio doutrinário quanto aos
privilégios espirituais. O problema foi levantado pelo grupo de judeus que não
aceitava o ensino de Paulo quanto à salvação, pelo fato de Paulo apresentar o
novo pacto (a graça), como capaz e superior ao velho pacto (a Lei) para salvar
o homem.
Daí, então, a
preocupação de Paulo em explicar de modo claro e especial nos capítulos 9,
10 e 11, a posição dos judeus no plano divino da salvação.
Aquele grupo
de judeus entendia que, pelo fato de seu povo ser chamado “povo escolhido de
Deus” não se considerava necessitado de salvação. O judeu cria que Deus havia
eleito seu povo e por isso a sua salvação estava pré-ordenada e
determinada. Entendia o judeu que tinha direito à salvação. Pelo fato de Jesus
ter nascido judeu, e por direito de sangue, a salvação lhes pertencia. E
chegavam ao absurdo de achar que os gentios não tinham direito à salvação e à eleição. Foi
aí que Paulo resolveu mostrar e esclarecer a verdade. O apóstolo focalizou
com destaque que a eleição para a salvação, na Nova Aliança, é feita segundo, a
graça de Deus para todos os homens. Mostrou ainda que a eleição pela graça é
feita mediante a fé, e não pelas obras, para que ninguém se glorie.
Conclusão
A eleição
divina elegeu “os que creem” em Cristo. A fé é o requisito essencial para todos
os homens, sem acepção de raça, cor, cultura ou língua, na eleição divina. A
soberania de Deus está implícita no fato de que Ele elegeu os que creem como
Abraão, e endureceu os que rejeitam crer, como fez com Faraó (vv 15-17).
Bibliografia
Comentário Bíblico Beacon. CPAD
Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. R.N. Champlin. Hagnos
Graça. Max Lucado. Thomas Nelson Brasil
Justiça e Graça. Natalino das Neves. CPAD
Maravilhosa Graça. José Gonçalves. CPAD
O poder e a mensagem do Evangelho. Paul Washer. Fiel
Um Verdadeiro Arrependimento. Manoel Flausino. Inteligência Editorial
Verdadeiro Evangelho. Paul Washer. Fiel
Pr. Manoel Flausino
Diretor de Ensino e Superintendente de Escola Dominica, escritor, formado em Teologia, Pedagogia e especialista em Psicopedagogia e Gestão de Pessoas, dirigente da Congregação Fonte das Águas MDV.
Contatos para palestras, congressos, mensagens:
(21) 99439-0392 (claro)
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