31/12/2010

Lição 1 - A Ação do Espírito Santo Através da Igreja

INTRODUÇÃO

“Atos dos Apóstolos” (ou mais corretamente: “Atos do Espírito Santo“, pois, do começo ao fim, ele é o registro de seu advento e atividade) é um registro histórico preciso da Igreja Primitiva. Mas também é um livro teológico, com lições e exemplos vivos da obra do Espírito Santo, das relações da Igreja e sua organização, das implicações da graça e da lei do amor. É também um trabalho apologético, que ajudou a construir um forte alicerce para a fé cristã ao demonstrar o cumprimento das afirmações e promessas de Cristo [1]. Se não fosse por Atos, não teríamos nenhuma informação acerca da Igreja Primitiva e haveria uma enorme lacuna entre a vida de Jesus nos evangelhos e as epístolas. Além de servir de ponte entre a vida de Cristo e a vida segundo o exemplo de Cristo enunciada nas epístolas, também faz a transição entre o judaísmo e o cristianismo, entre a lei e a graça.

CONTEXTO

Atos dos Apóstolos é um livro que pulsa com vida e ação. Nele, vemos a operação do Espírito Santo ao formar a Igreja, conferindo-lhe poder e expandindo seu alcance. É o registro impressionante de como o Espírito Soberano usou os instrumentos mais improváveis, superou os obstáculos mais formidáveis, empregou os métodos menos convencionais e obteve os resultados mais extraordinários.

Atos retoma a narrativa dos evangelhos e, com suas descrições dinâmicas e comoventes, nos conduz pelos anos turbulentos da infância da Igreja. É um registro do período importante de transição no qual a Igreja do Novo Testamento começou a se livrar dos velhos costumes do judaísmo e apresentar suas características distintivas como uma nova comunidade na qual judeus e gentios constituem um só corpo em Cristo. Por esse motivo, Atos dos Apóstolos foi chamado apropriadamente de relato do “desmame de Isaque”.

Ao lermos esse relato, sentimos um pouco da empolgação espiritual que se manifesta quando Deus opera. Ao mesmo tempo, percebemos a tensão quando Satanás e o pecado se opõem e procuram frustrar a operação divina.

O apóstolo Pedro desempenha um papel fundamental nos doze primeiros capítulos ao pregar o evangelho com ousadia à nação de Israel. A partir do capítulo 13, Paulo ocupa o primeiro plano como o apóstolo zeloso, inspirado e incansável que levou o evangelho aos gentios.

Atos dos Apóstolos abrange um período de aproximadamente trinta anos. Como disse J. B. Phillips, em nenhum período semelhante da história humana “um grupo tão pequeno de pessoas exerceu um impacto tão grande sobre o mundo a ponto de seus inimigos se referirem a ele, com lágrimas de raiva nos olhos, como ‘esses que têm transtornado o mundo’” [2].

O livro de Atos termina de modo repentino com Paulo em Roma aguardando julgamento perante César. Mesmo com o resultado do referido julgamento ainda pendente, o livro termina de modo triunfante, estando Paulo prisioneiro, porém cheio de ânimo e sem impedimento para pregar e ensinar acerca do reino de Deus e do Senhor Jesus(Atos 28:31) [3].

I. AUTORIA, DATA E TEMA

1. Autoria. Três evidencias em Atos apontam para a autoria de Lucas. Em primeiro lugar, no inicio do livro, o escritor se refere de forma especifica a uma obra anterior, também dedicada a Teófilo. Lucas 1:1-4 mostra que o terceiro evangelho é o relato em questão. O estilo, a visão compassiva de mundo, o vocabulário, a ênfase apologética e vários outros detalhes constituem vínculos importantes entre as duas obras. Se não fosse pelo desejo de colocar o evangelho de Lucas com os outros dois evangelhos sinóticos, sem dúvida ele apareceria lado a lado com Atos, como ocorre com 1 - 2 Coríntios.

Em segundo lugar, o texto de Atos deixa claro que o autor foi um companheiro de viagem de Paulo. As passagens escritas na primeira pessoa do plural (Atos 16:10-17; 20:5-21:18; 27:1-28:16) mostram que o autor estava presente nos acontecimentos registrados.

Por fim, ao eliminar os companheiros de Paulo mencionados pelo autor na terceira pessoa e também os companheiros que não acompanharam Paulo nas seções redigidas na primeira pessoa do plural, a única possibilidade viável é Lucas [4].

2. Data de composição. Apesar de a data de alguns dos livros do Novo Testamento não ser essencial, ela é mais importante em Atos, em que encontramos a primeira história da Igreja.

Existem argumentos convincentes de que Lucas concluiu Atos logo depois que a história narrada no livro chegou ao fim, ou seja, durante a primeira prisão de Paulo em Roma.

É possível que Lucas estivesse planejando escrever mais uma obra (mas, ao que parece, não era essa a vontade de Deus). Isso explica por que ele não menciona os acontecimentos ocorridos entre 63 a 70 d.C., que tiveram um impacto devastador sobre os cristãos. As seguintes omissões, porém, sugerem uma data mais antiga: a perseguição intensa de Nero aos cristãos na Itália depois do incêndio de Roma (64 d.C); a guerra entre judeus e romanos(66-70 d.C); o martírio de Pedro e Paulo(final da década de 60) e a destruição de Jerusalém, o acontecimento mais traumático de todos para judeus e cristãos hebreus. Assim, é mais provável que Lucas tenha escrito Atos enquanto Paulo estava preso em Roma, por volta de 62 ou 63.d.C. [5].

3. Tema. Podemos assim resumir o tema central dos “Atos dos Apóstolos”: A propagação triunfal do Evangelho através da Igreja pelo poder do Espírito Santo.

II. O CONTEÚDO DE ATOS DOS APÓSTOLOS

O conteúdo do livro de Atos começa onde o Evangelho de Lucas termina: com o período pós-ressurreição e a ascensão de Jesus Cristo.

Há quem considere o conteúdo do livro de Atos como se pertencesse a uma outra era bíblica e não como o padrão divino para a igreja e seu testemunho durante todo o período que o Novo Testamento chama de “últimos dias”(Atos 2:17). O livro de Atos não é simplesmente um compêndio de historia da igreja primitiva; é o padrão perene para a vida cristã e para qualquer congregação cheia do Espírito Santo.

Os crentes devem desejar, buscar e esperar, como norma para a Igreja atual, todos os fatos vistos no ministério e na experiência da igreja do Novo Testamento(exceto a redação de novos livros para o Novo Testamento). Esses fatos são evidentes quando a Igreja vive na plenitude do poder do Espírito Santo. Nada, em Atos e no restante do Novo Testamento, indica que os sinais, maravilhas, milagres, dons espirituais ou o padrão apostólico para a vida e o ministério da Igreja cessariam, repentina ou de uma vez, no fim da era apostólica [6].

Arthur T.Pierson, assim descreve de forma comovente: “Igreja de Cristo! Os relatos desses Atos do Espírito Santo nunca foram completados. Esse é o livro que não possui fim, pois está à espera de novos capítulos a serem acrescentados no ritmo e na medida em que o povo de Deus confirma o bendito Espírito na sua santa cadeira de comando” [7] .

“Atos dos Apóstolos” fragmenta-se em três principais momentos: o derramamento do Espírito Santo; a vida comunitária da Igreja Primitiva em Jerusalém; e a expansão da Igreja entre os gentios. No desenvolvimento desse processo, o Espírito Santo protagoniza o papel de condutor essencial do caminho missionário da Igreja. Sob Sua ação, a Igreja caminha poderosa, testemunhando acerca de Jesus Cristo de Nazaré [8].

Novas igrejas estão sendo continuamente fundadas. Pela fé em Jesus Cristo e através do poder do Espírito Santo, a Igreja cristã pode ser um agente de mudanças. À medida que enfrentamos novos problemas, encontraremos no livro de “Atos dos Apóstolos” importantes soluções.

III. O PROPÓSITO DE ATOS DOS APÓSTOLOS

Lucas tem pelo menos quatro propósitos ao narrar os começos da Igreja.

1. Narrar a expansão da Igreja (At 1:1-15). “Atos” demonstra que o evangelho avançou triunfalmente das fronteiras estreitas do judaísmo para o mundo gentio. Para que isso ocorresse foi necessária uma dispersão dos crentes que estavam em Jerusalém para que a mensagem de Jesus se espalhasse. Nem sempre o crescimento da Igreja se deu em ocasiões em que a pregação e o culto eram propícios, e esse foi o caso dos crentes de Jerusalém, que precisaram ser perseguidos para cumprir o mandamento do Senhor.

2. Revelar a missão do Espírito Santo na vida e no papel da Igreja e enfatiza o batismo no Espírito Santo como a provisão de Deus para capacitar a Igreja a proclamar o evangelho e a dar continuidade ao ministério de Jesus. O autor do livro de Atos, Lucas, registra três vezes, expressamente, o fato de o batismo no Espírito Santo ser acompanhado de enunciação em outras línguas (2:1-4; 10:44-47; 19:1-6). O contexto destas passagens mostra que isto era normal no princípio da Igreja, e que é o padrão permanente de Deus para ela . [9]

3. Justificar os Atos dos Apóstolos. Quando lemos o livro de Atos passamos a entender a forma com que os discípulos agiram, e o contexto em que agiram. Os apóstolos do Senhor se viram diante de diversas situações, como perseguição religiosa e política, a mão de Deus sendo estendida aos gentios - inclusive dando-lhes o batismo com o Espírito Santo, a conversão de perseguidores como Paulo e milagres confirmando a participação da mão de Deus na criação da Igreja. Conhecendo esses fatos, entendemos a forma com que os primeiros desafios foram vencidos e de que forma as estratégias usadas pelos apóstolos podem ser usadas em nossos dias também [10].

4. Estimular os crentes. A história pode servir de inspiração para as pessoas que dela se servem. Nós, crentes do século 21, podemos ler o livro de Atos e perceber o cuidado de Deus para com seu povo. Entenderemos que o fator “perseguição” não é novo para o povo de Deus, e que mesmo em uma situação assim, Deus estende sua mão para que o Evangelho cresça e seu nome seja glorificado. Nossa motivação reside aqui: da mesma forma que os primeiros discípulos agiram, confiando no Senhor, temos esse precedente para dar prosseguimento à obra de Deus [11].

CONCLUSÃO

Ao ler o livro de Atos, coloque-se no lugar dos discípulos: identifique-se com aqueles que foram cheios do Espírito Santo e experimente a emoção de ver milhares de respostas à mensagem do evangelho! Sinta o comprometimento demonstrado pelos que dedicaram cada talento de seu tesouro a Cristo. Ao ler Atos, perceba a ousadia e a coragem que o Espírito Santo concedia aos crentes do primeiro século que, mesmo diante do sofrimento e da morte, aproveitavam todas as oportunidades para falar de seu Senhor crucificado e ressuscitado. Então, decida ser uma versão deste século daqueles homens e mulheres de Deus! [12].

Elaboração: Luciano de Paula Lourenço - Prof. EBD - Assembléia de Deus - Ministério Bela Vista. E-Mail: luloure@yahoo.com.br. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Atos Dos Apóstolos

No primeiro trimestre de 2011, ano que comemoraremos o Centenário das Assembléias de Deus no Brasil, iniciaremos a Escola Bíblica Dominical, estudando o Livro de Atos, livro este, que narra a criação, organização e a expansão da igreja, além, é claro, da atuação do Espírito Santo de Deus.


Lição 1 Atos – A Ação do Espírito Santo Através da Igreja


Lição 2 A Ascensão de Cristo e a Promessa de Sua Vinda

Lição 3 O Derramamento do Espírito Santo no Pentecostes
Lição 4 O Poder Irresistível da Comunhão na Igreja

Lição 5 Sinais e Maravilhas na Igreja

Lição 6 A Importância da Disciplina na Igreja

Lição 7 Assistencia Social, Um Importante Negócio

Lição 8 Quando a Igreja de Cristo é Perseguida

Lição 9 A Conversão de Paulo

Lição 10 O Evangelho Propaga-se Entre os Gentios

Lição 11 O Primeiro Concílio da Igreja de Cristo

Lição 12 As Viagens Missionárias de Paulo

Lição 13 Paulo Testifica de Cristo em Roma

23/12/2010

Boas Festas

A Paz do Senhor amados!

Desejamos a todos Boas Festas e um Feliz 2011, na Paz do Senhor e Salvador Jesus Cristo.

A Ele a Glória!!

Marchemos para grandes conquistas no ano de 2011.

Ano que vem estaremos de volta!!!!!!!!

11/12/2010

A Oração que Conduz ao Perdão

Leitura Bíblica: Salmo 51.1-13


“Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto“(Sl 51.10).

INTRODUÇÃO

Desvincular quaisquer procedimentos das regras de conduta que a Palavra de Deus estabelece para o nosso viver é realmente perigoso. Ao perceber que o crente está se conduzindo inconvenientemente, fora dos padrões bíblicos, Satanás usa os seus ardis para conduzir aquela pessoa à ruína espiritual, moral, e até mesmo material. Render-se a Deus em oração de forma contrita e pedir perdão pelo pecado cometido é a maneira propícia para corrigir o erro(ver 1João 1:9). Como homem, Davi errou e quase veio a sucumbir, no entanto, ao contrário de Saul, não tentou se justificar, mas reconheceu o seu pecado, arrependeu-se profundamente e pediu perdão a Deus (2Sm 12:13a; Sl 51:4). Davi é o retrato mais claro do que significa arrepender-se do pecado. O Salmo 51 mostra a profundidade da contrição de Davi. Ele assumiu plena responsabilidade pelo pecado, e pediu a ajuda de Deus para renovar seu coração. É este arrependimento que Deus quer. O pecador que volta para Deus precisa reconhecer seu erro, seu pecado. “Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto”(Sl 32:1). Reconhecer e confessar o pecado, com um coração sincero e arrependido, sempre trará o perdão gracioso da parte de Deus, a remoção da culpa e a dádiva da sua presença constante. Disse Davi: “Confessei-te o meu pecado e a minha maldade não encobri; dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado”(Sl 32:5).

I. O PECADO NOS AFASTA DE DEUS

1. O pecado afronta a Deus. Pecado é a transgressão deliberada e consciente das leis estabelecidas por Deus. Transgressão “é o ato de” transgredir “e” transgredir “, por sua vez, é “passar de uma parte a outra”, “violar”, “infringir”. “Transgredir” é a quebra de um dever e de uma ordem(Rm 2:23). Eis o motivo por que a Bíblia diz que, ao pecar, Eva caiu em transgressão (1Tm 2:14), o mesmo se dando com relação a Adão (Rm 5:14).

A Bíblia diz que a transgressão receberá de Deus a justa retribuição (Hb 2:2). Com efeito, sendo a transgressão um afastamento da vontade de Deus, uma quebra de uma ordem divina, o ser moral que a toma assume a responsabilidade pelos seus atos e deverá, pois, prestar contas ao Criador e Senhor de todas as coisas(ler: Hb 4:13; Ap 20:6-15). Quando transgredimos a Deus, estamos condenados à rejeição por Ele e à morte, como ocorreu com Saul (1Cr 10:13).

A maneira correta de lidarmos com nosso pecado é nos arrependermos dele e, com toda a sinceridade, buscarmos em Deus o perdão, a graça e a misericórdia(Sl 51; Hb 4:16; 7:25), e nos dispormos a aceitar, sem amargura nem rebelião, o castigo divino pelo nosso pecado. Davi tanto reconheceu quanto confessou seus pecados terríveis, voltou-se para Deus, e aceitou a repreensão de Deus, com humildade(2Sm 12:9-13,20;24:10-25;Sl 51).

2. As consequências do pecado. Qualquer pecado contra a santidade de Deus é propenso ao perdão, desde que haja deliberação sincera ao arrependimento por parte do transgressor, como aconteceu com Davi, por exemplo. Porém, as consequencias são inevitáveis e implacáveis.

O relacionamento pecaminoso de Davi com Bate-Seba foi rápido, mas as suas consequências foram duradouras. A mão de Deus pesava sobre ele dia e noite, e o seu vigor se tornou em sequidão de estio. Depois, Davi perdeu sua reputação. Os ímpios blasfemaram do nome de Deus por causa de sua loucura. Perdeu o filho do adultério; a criança morreu a despeito da insistente petição de Davi. Este teve ainda outras perdas: sua filha Tamar foi desonrada pelo próprio irmão Amnon; Absalão irmão de Tamar, mandou matar seu próprio irmão Amnon para vingar o que este havia feito com ela. Depois, Absalão rebelou-se e conspirou contra Davi, seu pai, para tirar-lhe a vida e tomar-lhe o reino. E nessa empreitada, Absalão é assassinado por Joabe, comandante do exército de Davi. Tragédias e mais tragédias desabaram sobre a vida de Davi. Jamais ele podia imaginar que o pecado fosse ter um preço tão alto. Cuidado com o pecado, pois ele vai lhe custar mais caro do que você quer pagar.

Muitas pessoas passam a vida inteira chorando por uma decisão errada feita apenas num instante. Pagam um alto preço por uma desobediência. Choram amargamente por tomar uma direção errada na vida. Cuidado com o pecado, pois ele pode levar você mais longe do que você quer ir. Quer viver uma vida de acordo com a vontade de Deus? Então persevere em oração e no estudo devocional da Palavra de Deus. A única maneira de o crente manter comunhão com Deus, por meio do seu Espírito Santo, é andar segundo a sua vontade (Rm 8.1,2,8,9,13,14).

O pecado é uma fraude. Promete prazer e paga com o desgosto. Levanta a bandeira da vida, mas seu salário é a morte. Tem um aroma sedutor, mas ao fim cheira a enxofre. Só os loucos zombam do pecado. O pecado é maligníssimo. Ele é pior do que a pobreza, do que a solidão, do que a doença. Enfim, o pecado é pior do que a própria morte. Esses males todos não podem destruir sua alma nem afastar você de Deus, mas o pecado arruína seu corpo, sua alma e afasta você eternamente de Deus. O rei Davi mais do que ninguém sentiu na pele e na alma as consequencias do pecado.

3. Consciência do pecado. “Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste. Esconde a tua face dos meus pecados e apaga todas as minhas iniqüidades“(Sl 51:7-9).

As expressões usadas por Davi nestes trechos demonstram a plena consciência do pecado praticado contra a santidade de Deus e à sua Lei. Esta percepção leva a uma oração renovada por purificação. “Hissopo” era o ramo do arbusto do deserto usado para borrifar o sangue sobre um leproso para sua purificação e cura(Lv 14:4; cf Hb 9:13-14; 1João 1:7). Ao pedir a Deus que o limpasse com “hissopo” (Sl 51:7), ele revela que se havia contaminado tal qual um leproso ou alguém que havia tocado em um morto; símbolos de impureza máxima em sua época (Lv 14; Nm 19: 16-19).

A consciência do pecado era tão profunda, que era semelhante à dor de ossos quebrados (51:8). Os ossos constituem a força e estrutura do corpo. Por isso o esmagar dos ossos é uma figura muito forte, que denota uma prostração completa, tanto mental como corporal. A intervenção e a ação de Deus foram a única esperança de Davi (51:9).

O pecado destrói a paz com Deus, e a falta dessa paz, como decorrência do pecado, é como um sinal vermelho, a fim de que o crente pare imediatamente e volte-se para Deus em oração. É preciso que se arrependa, confesse o seu pecado e abandone-o, e pela fé em Cristo, e por Ele, receba o perdão de Deus (leia 1Jo 1.7-9).

II. CONFISSÃO E PERDÃO

1. Reconhecer e confessar o pecado. “Então disse Davi a Natã: Pequei contra o Senhor. Tornou Natã a Davi: Também o Senhor perdoou o teu pecado; não morreras“(2Sm 12:13). Depois de cair em si, Davi reconheceu o seu pecado: “Pequei contra o Senhor”. E imediatamente após a confissão, foi absolvido da culpa: “O Senhor perdoou o seu pecado”. Observe que a confissão e o perdão estão no mesmo versículo (2Sm 12:13). Davi não dividiu a sua culpa com ninguém. A sua confissão é limpa, tal qual a do publicano: “Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador” (Lc 18:13). Ele não disse que pecou porque suas mulheres e concubinas não o satisfaziam sexualmente. Não pôs culpa no pecado original herdado de Adão (Sl 51:5). Em nenhum momento responsabilizou Bate-Seba pela sua lascívia. Ele colocou o verbo pecar na primeira pessoa do singular, tanto no caso do adultério (2Sm 12:13; Sl 51:4) como no caso do recenseamento (1Cr 21:8, 17).

Qual é a garantia de que a confissão é importante para Deus? A própria Palavra de Deus. Ela garante que a confissão é premiada com a misericórdia. “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Pv 28:13). Deus sabe que estamos sujeitos às leis deste mundo, mais exige que pautemos uma vida dentro dos padrões estabelecidos por Ele. E quando nos afastamos desse padrão, Ele espera que reconheçamos nossa falha e retornemos para Ele por meio da confissão. Todos nós conhecemos o texto áureo da confissão: ‘Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça’ (1João 1:9).

Portanto, reconhecer e confessar o pecado, com um coração sincero e arrependido, sempre trará o perdão gracioso da parte de Deus, a remoção da culpa e a dádiva da sua presença constante. Disse Davi: “Confessei-te o meu pecado e a minha maldade não encobri; dizia eu: Confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado“(Sl 32:5).

2. Conhecendo o caráter de Deus (Sl 51:6,16). Davi sabia o que era ter intimidade, comunhão com o Senhor. Ainda jovem nos campos era pastor de ovelhas, e o seu tempo era dividido em contemplar as belezas de Deus e o seu trabalho de pastoreio. Desde cedo Davi aprendera a confiar no Senhor. Durante toda a sua vida quando se via em meio às dificuldades, adversidades e desafios lá estava ele buscando refúgio com a pessoa certa e fazendo declarações como vemos neste Salmo: “A ti Senhor, elevo a minha alma. Deus meu, em ti confio. Tu és a minha salvação e por ti espero o dia todo. Os meus olhos estão postos continuamente no Senhor, pois Ele tirará os meus pés da rede“(25:2,5,15). Com certeza estas declarações faziam derreter o coração de Deus. Davi conhecia de perto o caráter de seu Deus e mesmo em meio às lutas, sofrimentos, decepções, depressões, nada absolutamente nada, o fazia desistir de confiar no Senhor. Havia temor no seu coração, por isso ele diz o seguinte: “Qual é o homem que teme ao Senhor? Este lhe ensinará o caminho que deve escolher. A sua alma repousará na prosperidade e a sua descendência herdará a terra. O segredo do Senhor é para os que o temem. Ele fará saber a sua aliança”(Sl 25:12-14).

Por conhecer o caráter de Deus, Davi sabia que Sua Santidade não admite que os seus servos tenham uma vida desregrada diante dEle. Ele sabia que somente homens limpos de mãos e puros de coração entram no santuário (Sl 24:3,4).

Hoje, pode ser que você não entenda o porquê de algumas regras que Deus nos deu. Faz mal satisfazer algum determinado desejo da carne? Tem problema em tomar uma cervejinha de vez em quando? Prejudica alguém assistir filmes com cenas de sexo? Faz mal alugar fitas pornográficas ou comprar revistas pornográficas? Por que não furtar um pouquinho de dinheiro quando ninguém sentirá falta? Uma mentirinha de vez em quando vai causar problemas? Tais coisas, embora sejam frívolas aos olhos dos seres humanos, vão, porém, de encontro ao caráter de Deus. Logo, devemos respeitar as suas regras (ler 1João 3:3-10).

3. O afastamento de Deus. Está escrito: “Mas as vossas iniqüidades faz separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobre o seu rosto de vós, para que não vos ouça”(Is 59:1,2). Numa sociedade em que a maldade é explicada e justificada de diversas maneiras sociológicas e psicológicas, é fácil esquecer que o pecado é a transgressão da vontade de Deus (1João 3:4) que cria uma barreira entre Deus e os pecadores. A pessoa que quer voltar para Deus precisa identificar o problema de pecado na sua vida. Davi disse: “Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim” (Sl 51:3).

Não é suficiente reconhecer que o pecado nos afasta de Deus. É necessário assumir responsabilidade pessoal pelos pecados que temos cometido. Diferente de crianças que apontam os dedos para jogar a culpa nos outros, precisamos agir como adultos e assumir a responsabilidade pelas nossas próprias transgressões. Embora o pecado de Davi tenha atingido várias outras pessoas (Bate-Seba, Urias, Joabe, a família dele, etc.), Davi entendeu que o principal problema foi a ofensa contra Deus: “Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mal perante os teus olhos, de maneira que serás tido por justo no teu falar e puro no teu julgar” (Sl 51:4). O meu pecado não é culpa da família, da igreja, da sociedade, etc. É culpa minha!

O nosso coração pode cair em incredulidade, provocando afastamento de Deus. Ninguém deixa a igreja de uma hora para a outra, o que ocorre é um distanciamento gradativo, e quando a pessoa percebe já está longe de Deus. É por isso mesmo que cada crente deve procurar incentivar os outros na fé, pois os cuidados e caprichos deste mundo são coisas que querem a todo custo nos afastar dos valores celestiais.

III. A RESTAURAÇÃO DO PECADOR

A restauração, sob o ponto de vista humano, é a maneira de se colocar contritamente nas mãos do divino “Oleiro” para que ele refaça o “vaso quebrado” e lhe dê novamente a forma e a beleza anteriores, depois de qualquer escorregão e queda ou de qualquer escândalo e desastre de natureza moral e religiosa.

Depois de qualquer período de frieza espiritual e crise existencial, depois de qualquer escândalo e desastre de natureza espiritual, depois de qualquer ressentimento ou revolta contra Deus, é necessário que haja restauração para que se retorne ao estado original.

Davi, autor de 73 dos 150 salmos, e que possuía certos traços de caráter muito especiais (1Sm 24:6; 26:8-11; 2 Sm 23:13-17; 1Cr 21:18-27), teve o seu padrão espiritual e moral - tão elogiado por Deus(At 13:22) e pelos de fora(1Sm 16:18) - quebrado, destruído, porque desprezou a Palavra do Senhor(2Sm 12:9). Se quisesse voltar o que era antes (”o homem segundo o coração de Deus”), era necessário uma cabal restauração em sua estrutura espiritual; uma restauração sincera.

A ordem do processo de restauração é sempre essa: arrependimento, conscientização, confissão e abandono da prática pecaminosa. Mesmo tendo pecado e tentado ocultar o que fizera, Davi tinha um coração bom e voltado para Deus, pois era uma pessoa quebrantada. Ele podia, como rei, punir Natã, ou mesmo se escusar daquela acusação, mas se quebrantou diante do profeta e reconheceu seu pecado. Era isto que Deus esperava dele, e assim começou a recuperação de Davi.

Na cruz, Jesus morreu pelos nossos pecados. Quando nos voltamos para a cruz, encontramos perdão, cura, restauração completa. “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça”(1João 1:9).

Os versículos 1 e 2 do salmo 51 mostram o pavor de Davi pelo pecado cometido contra a Santidade de Deus, e clama com todo ímpeto de sua alma pela Sua misericórdia: “Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Lava-me completamente da minha iniqüidade e purifica-me do meu pecado”. Esse clamor mostra o desespero de Davi por perda de algo muito importante, e foi importante mesmo, vejamos então: a perda da comunhão de Deus; a perda da sua proteção; a perda do título do homem segundo o coração de Deus; a perda da tranquilidade diante dos inimigos; e consequências nefastas na área política, espiritual, familiar, etc. Para restaurar a sua posição original ele necessitava do favor e da compaixão do Senhor. Mas, para encontrar o caminho da restauração, Davi precisava:

a) Admitir o seu pecado(Sl 51:3) - “…eu conheço as minhas transgressões…”. Davi por um tempo escondeu o seu pecado, mas isso estava arruinando a sua vida (a alegria foi embora, a mão de Deus pesava sobre ele, etc). Até que ele viu seriamente sua situação e teve convicção do pecado. Não há esperança de perdão e restauração enquanto você não admitir o seu pecado. Não olhe para os outros. Não julgue e nem culpe os outros. Pare de se justificar. Diga como Davi: ” Eu reconheço as minhas transgressões”; “Pequei contra o Senhor”. Ou como o filho pródigo: “Pai, eu pequei contra os céus e diante de ti”. Davi reconheceu que o problema não estava fora dele (beleza de Bate-Seba), mas no seu coração sujo. O caminho da restauração passa pelo arrependimento e confissão do erro cometido e abandono da prática do pecado. O arrependimento é o reconhecimento de que você não merece nada a não ser o juízo.

Você sabe qual a diferença entre Saul e Davi em relação ao pecado? Ao pecar, Saul tentou justificar-se transferindo a responsabilidade para o povo (1Sm 13.13,14; 15.1-3,9, 15-31); ao passo que Davi admitiu o seu pecado, e arrependeu-se profundamente (2Sm 12.13a; Sl 51.4). Se o crente não admitir os seus erros e rejeitar a disciplina do Senhor, poderá ter o mesmo destino de Saul.

b) Confessar o seu pecado(2Sm 12:13) - “Então, disse Davi a Natã: Pequei contra o Senhor”. Quando confessamos nossas faltas ao Senhor, damos o primeiro passo em direção à recuperação da comunhão com Ele - “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça“(1João 1.9). O crente não pode se limitar apenas ao quebrantamento. É preciso confessar e deixar o pecado. Dizer a Deus o que fizemos não é confissão. A idéia de confissão exige da pessoa o desejo de abandonar o erro. Deus não quer que leiamos para ele a lista de nossos erros, e sim que os confessemos, admitindo nossas falhas e dependendo dEle para nossa restauração - “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia”(Pv 28:13).

c) Buscar o perdão de Deus (Sl 51:1) - “Tem misericórdia de mim, ó Deus“. Davi reconheceu sua culpa, mas foi além. Somente sentir o peso do pecado pode levar ao remorso e autodestruição (por exemplo: Judas). Davi não se suicidou, não fugiu de Deus, mas correu para ele. Precisava ser perdoado e purificado. “A confissão busca o perdão de Deus, não a anistia. Perdão presume culpa; anistia, derivada da mesma palavra grega para amnésia, ‘esquece’ a suposta ofensa sem imputar culpa” (LUCADO, Max. Nas Garras da Graça, RJ: CPAD, 1999, p.120).

Davi pecou contra Deus, mas o que ele mais desejava era ter Deus de volta. Muitos que pecam, abandonam a sua fé em Deus, abandonam a comunhão com os irmãos da Igreja, a Bíblia, a oração. Fogem de Deus, que é o caminho oposto ao arrependimento. Mas Davi sabia que só Deus podia restaurá-lo, e que Deus não rejeita um coração quebrantado.

Na cruz, Jesus morreu pelos nossos pecados. Quando nos voltamos para a cruz, encontramos perdão, cura, restauração completa. “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça”(1 João 1:9). O perdão e a restauração da comunhão que se fizeram necessários são efetuados mediante a confissão dos pecados (1João 1: 9) e o arrependimento (Lc 17: 3,4; 24: 47).

d) Mudar de atitude. O arrependimento é uma tristeza que opera uma mudança de atitude para com Deus, ou seja, só há arrependimento quando a pessoa muda a sua maneira de viver, ou seja, deixa de proceder em desobediência a Deus para passar a obedecer-Lhe. O arrependimento, portanto, é o atendimento ao chamado divino para a salvação, como deixou claro o apóstolo Pedro no seu sermão no dia de Pentecostes.

Quando o pecador se arrepende, deixa a sua vida de pecados e, por isso, muda de direção na sua vida, atitude que os estudiosos da Bíblia denominam de “conversão” e que implica no início da jornada no “caminho apertado que conduz à vida”, como o apóstolo Paulo deixa claro em 1Ts 1:9. Não há salvação sem que a pessoa mude de orientação na sua vida, passe a ter atitudes diferentes, modifique a sua anterior vã maneira de viver(1Pedro 1:18). A conversão, pois, é a concretização, a realização do arrependimento, quase que como seu complemento, que faz com que o homem arrependido passe a andar no caminho certo(João 14:6).

As pessoas precisam rever suas atitudes quando o coração fala mais alto que a razão. Quando nossos sentimentos nos fazem fracassar precisamos mudar e gerar novas atitudes. Vejamos quais as atitudes Davi diante do seu pecado:

Acatou a palavra do Senhor (2Sm 12:1a). “O Senhor enviou Natã a Davi….”. Natã confrontou o pecado de Davi com a palavra do Senhor. Davi aceitou as palavras do profeta e não resistiu a elas.

Reconheceu os erros cometidos(2Sm 12:13). Davi disse: “…Pequei contra o Senhor“. O reconhecimento de Davi foi o princípio de sua restauração espiritual.

Confessou o seu pecado e decidiu não pecar mais(Salmo 51:1,13,17).

A Escritura comprova que Davi foi totalmente restaurado diante de Deus, e suas poesias expostas nos Salmos confirmam essa restauração.

CONCLUSÃO

Devemos reconhecer os nossos pecados e buscar em Deus o perdão e a purificação deles. Quando acontece isso os resultados são: o perdão divino e a reconciliação com Deus; a purificação (isto é, remoção) da culpa e a destruição do poder do pecado, a fim de vivermos uma vida de santidade (Sl 32:1-5; Pv 28:13; Jr 31:34; Lc 15:18; Rm 6:2-14).

Devemos nos conscientizar de que a carne, ou a natureza humana pecaminosa é uma ameaça constante na nossa vida, e que devemos sempre estar mortificando as nossas más obras por meio do Espírito Santo que em nós habita (Rm 8:13; Gl 5:16-25).

Mais que condenar Davi, precisamos estar atentos ao fato de que, em maior ou menor escala, somos parecidos com ele e estamos sujeitos a fazer coisas tão graves quanto as que ele fez. Não estamos imunes ao pecado em um mundo decaído. Não podemos dizer que jamais pecaremos, mas podemos ter certeza de que Deus, em sua grande misericórdia, aceitará o pecador arrependido e o restaurará à comunhão perdida. Glórias a Deus!

——–

Elaboração: Luciano de Paula Lourenço - Prof. EBD - Assembléia de Deus - Ministério Bela Vista. E-Mail: luloure@yahoo.com.br. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

——-

Fonte de Pesquisa: Bíblia de Estudo-Aplicação Pessoal. Bíblia de Estudo Pentecostal. Bíblia de Estudo das Profecias. O novo dicionário da Bíblia. Revista Ensinador Cristão - CPAD nº 44. Guia do leitor da Bíblia. A Teologia do Antigo Testamento - Roy B.Zuck. Comentário Bíblico Beacon - CPAD. Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento - William Macdonald. Através da Bíblia - Lucas - John Vernon McGee.

26/11/2010

Lição 09 A ORAÇÃO E A VONTADE DE DEUS

ELEMENTOS DE UMA ORAÇÃO EFICAZ João 14.13-17; 15.7; 1 João 5.14,15
Orações não respondidas é, de fato, uma frustração para o crente. Como entender o que faz que uma oração não seja respondida?

O apóstolo João descreve que a resposta à oração está ligada ao relacionamento da “confiança que temos para com ele [Deus]” com a vontade soberana dEle: “E esta é a confiança que temos nele: que se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve” (1 Jo 5.15).

O Pastor Estevam Ângelo de Souza ensina, pelo menos, quatro elementos importantes para uma oração eficaz. São eles:

1. Orar com o coração limpo do pecado. [...] “Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido” (Sl 66.18). A Bíblia fala da oração como sendo uma conversa do filho com o Pai celestial e, enfaticamente, fala da oração dos santos, o que é uma referência às pessoas que se relacionam com Deus de modo digno da sua onisciência. Se, ao contrário, a pessoa ora a Deus com o coração cheio de pecados, sem arrependimentos e sem temor, faz simplesmente o papel de hipócrita; e, para o hipócrita, não há promessa na Bíblia. Pode ser ainda o comportamento de quem abusa da misericórdia de Deus e escarnece da sua santidade. É bom orar como filho obediente.

2. Orar com fé. É o apostolo Tiago que ensina. Ele diz que devemos pedir com fé e em nada duvidando, pois, conforme acrescenta, “o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento. Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa” (Tg 1.6,7). Tudo o que recebemos de Deus é tão-somente pela fé. Está escrito: “Sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam” (Hb 11.6). A Bíblia tanto fala da fidelidade e da infalibilidade de Deus, como relata em numerosos detalhes as muitíssimas vezes em que Deus tem atendido aos que o buscam com fé. É para confiarmos inteiramente em Deus. Duvidar das suas promessas, tanto nos prejudica como o ofende, pois Ele a tantos tem feito tanto, que merece ser invocado com segura fé.

3. Orar segundo a vontade de Deus. Diz o apóstolo Paulo que “a vontade de Deus é boa, agradável e perfeita” (Rm 12.2). Também está escrito: “Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação” (1 Ts 4.3). E ainda: “Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1 Tm 2.3,4). O apóstolo João afirma: “Se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve” (1 Jo 5.14). O que estamos estudando são declarações dos santos apóstolos. Veja agora o que o próprio Senhor Jesus diz acerca da vontade de Deus: “Porque eu desci do céu não para fazer a minha vontade; e, sim, a vontade daquele que me enviou. E a vontade de quem me enviou é esta: Que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia. De fato a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6.38-40). É muito boa a vontade de Deus!

4. Orar com perseverança. O inconstante nada alcança, qualquer que seja a atividade na vida. Enquanto isso, a perseverança, tudo alcança. A oração eficaz deve ter o caráter de uma batalha ordenada como propósito seguro de vencer; e quem luta ao lado do Senhor de tudo e de todos deve orar, com certeza de ser mais do que vencedor. E esta é a divisa de todos os que têm perseverado diante de Deus em oração, não aceitando nenhuma derrota, nenhum fracasso. Conserve limpo o seu coração, ore com fé, peça segundo a vontade de Deus; persevere e vença, pois a sua perseverança e vitória com certeza glorificarão a Deus!

Prezado professor, é importante ressaltar ao aluno a importância de termos uma vida de Santidade, Fé, Perseverança e no centro de Sua vontade. Deus é soberano e dotou o ser humano de livre arbítrio. Para uma manutenção da vida com o Eterno é fundamental seguir o conselho do apóstolo Paulo: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” (Fp 4.8). Fazei tudo o que glorifica a Deus e o nome do Senhor será exaltado em sua vida!

[1] SOUZA, Estevam Ângelo. Guia Básico de Oração: Como Orar com Eficácia no seu Dia-a-Dia. Rio de Janeiro, CPAD, 2002, p.85-87.

22/11/2010

A Oração Sacerdotal de Jesus Cristo - CPAD

A maior de todas as orações

LEITURA EM CLASSE

João 17.1-4; 15-17; 20-22.

A MAIOR DE TODAS AS ORAÇÕES

Alguns irmãos costumam fazer orações bem compridas; porém, a verdadeira oração é medida por seu peso, não por seu comprimento.

Assim se expressou o grande pregador brintânico Charles Haddon Spurgeon; e ele está certo! A maior oração já feita está registrada em João 17, e leva cerca de seis minutos para ser lida em voz alta, e em tom de reverência. Não há muito comprimento nela, mas certamente há muitíssima profundidade e peso.


De acordo com o que diz Herbert Lockyer, há 650 orações definidas registradas na Bíblia; porém, nenhuma delas pode igualar-se à “Oração Sacerdotal” de Jesus, registrada em João 17 - nem o poderá nenhuma outra, registrada fora da bíblia.


O que há nessa oração que a faz assim tão grande? Ela é grande por causa da pessoa que a proferiu. E essa pessoa é nada menos que o próprio Jesus Cristo, o Filho de Deus. Ele não é somente o Filho de Deus, mas Deus, o Filho, o Deus eterno que veio à terra em forma humana, porém sem pecado.


Cada um dos quatro evangelhos tem sua ênfase especial. Em seu evangelho, Mateus enfatiza Cristo, o Rei, o Messias prometido nas Escrituras do Antigo Testamento. O de Marcos é o Evangelho do Servo, e Lucas pinta no seu a simpatia do Filho do Homem. Porém, o propósito de João ao escrever o seu evangelho foi apresentar a divindade de Jesus Cristo

“Em verdade, Jesus operou na presença de seus discípulos, ainda muito outros sinais que não estão escritos neste livro; estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.30,31).



Isso explica porque João incluiu esta oração em seu evangelho; ela destaca a impressionante verdade de que Jesus Cristo é o Deus eterno. Quase todos os versículos de João 17 expressam esse grande fato.

Somente Deus, o Filho, poderia pedir ao Pai para glorificá-lo (v.1). Moisés pediu para “ver” a glória de Deus (Ex 33.18). Jesus pediu para “receber” a glória de Deus, e a identificou como sendo a mesma glória na qual havia estado com o Pai “antes que o mundo existisse” (v.5). Somente alguém desequilibrado mentalmente ou então o Deus eterno poderia afirmar ter a glória ou qualquer outra coisa “antes que o mundo existisse”.

[…] Com esta simples declaração, Jesus afirmou ser Deus. Por quatro vezes, nesta oração, Jesus disse que Deus, o Pai, o enviou (vv. 3,18,21,25). Naturalmente que qualquer apóstolo ou profeta pode afirmar ter sido enviado por Deus; contudo, nenhum mero ser humano poderia afirmar que “saiu de Deus” (Jo 17.8; 16.28). Qualquer cristão poderia orar “Tudo que é meu, é teu”, mas somente o Filho de Deus poderia adicionar a isso “e tudo o que é teu, é meu” (v.10). Jesus afirmou que possuía tudo o que o Pai possuía! Ele afirmou também ser “um com o Pai” (vv. 11,21).

[…] Pense no que deve ter significado para o nosso Salvador o fato de comunicar-se com seu Pai! O cálice que Ele estava prestes a beber viria da mão de seu Pai (Jo 18.11). Haveria a vergonha, a dor e mesmo a morte e uma separação temporária de seu Pai; [porém], Ele veio ao mundo para esse propósito, e o Pai o veria através de sua gloriosa vitória.

É interessante contrastar esta ocasião de oração com algumas outras ocasiões de intercessão registradas nas Escrituras. Em Gênesis 18, lemos que Abraão intercedeu pela cidade de Sodoma. Mas Jesus estava encarregado “do mundo inteiro” e deveria morrer para salvar os pecadores perdidos. Moisés intercedeu por toda uma nação, o povo de Israel (Êx 32), e até ofereceu-se para morrer para que eles fossem perdoados. Porém Jesus morreu! E por causa de sua morte, todos aqueles que nEle creem são perdoados e salvos por toda eternidade. Salomão fez uma grande oração na dedicação do Templo ao Senhor; porém a oração de Jesus Cristo em João 17 significa a criação de um templo espiritual, a Igreja (1 Pe 2.5).
Aqui, Jesus nos deu um bom exemplo: a oração é essencial. Não somente nos fatos do dia-a-dia, mas especialmente nas crises que atravessamos ao longo da vida. “Não orem para terem vidas fáceis”, disse Phillips Brooks. “Orem para serem homens mais vigorosos. Não orem por tarefas que se igualem às suas forças. Orem por forças que se igualem às suas tarefas”.
Texto adaptado da obra “A Oração Intercessória de Jesus: Prioridades para uma Vida Cristã Dinâmica”, Rio de Janeiro: CPAD.
Publicado no Portal CPAD

13/11/2010

Lição 7 - A ORAÇÃO DA IGREJA E O TRABALHO DO ESPÍRITO SANTO

A Oração na Vida da Igreja Antiga

A expansão do Evangelho está diretamente interligada à vida de oração da Igreja do Primeiro Século. A ordem expressa aos discípulos para “que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do pai”, resultou num estado de espera cuja característica principal foi o cultivo da oração (At 1.13,14,24,25): “perseveravam unanimemente em oração e súplicas”.

No dia de Pentecoste é possível ver o resultado dessa perseverança. Todos estavam reunidos unânimes em vários cultos semanais buscando a Deus e aguardando a promessa. “E, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados” (At 2.2), enchendo as pessoas que adoravam o Eterno na casa em que estavam.

O poder vivificante de Deus espalhou-se pela terra a exemplo da criação, quando o Santo Espírito do Senhor pairava sobre as águas (Gn 1.2). A promessa chegara a partir de pessoas simples que buscavam a Deus em oração crendo na promessa do Cristo.

1. ELE TRABALHA PARA A IGREJA CONTINUAR A OBRA DE CRISTO

Seu propósito é equipar os santos para a grande comissão - Atos 1.8 Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.

Seu propósito é motivar os santos a cumprir a grande comissão - Lucas 24.49 E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.

Seu propósito é conduzir os santos na obra da grande comissão - Atos 13.2 E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado.

2. ELE DERRAMA PODER SOBRE OS QUE PERSEVERAM EM BUSCAR

Pela oração somos motivados a exercitar nossa espiritualidade - Atos 1.14 Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus, e com seus irmãos.

Pela oração alcançamos a efusão prometida e dádivas espirituais - Atos 2.4 E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.

Pela oração somos revestidos a pregar a palavra com ousadia - Atos 2.38 E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.

3. ELE CAPACITA A TODOS QUE SE DISPÕE PELA CAUSA DE CRISTO

A oração é um meio de buscar ousadia para levar almas a Cristo - Atos 2.40 E com muitas outras palavras isto testificava e os exortava, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa.

A oração é um meio de receber unção para proclamar a salvação - Atos 2. 41 De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e, naquele dia, agregaram-se quase três mil almas.

A oração é um meio de preparação para o êxito em nossas missões - Atos 4. 32 E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns.

Através da oração Deus opera poderosamente. A oração era o elemento principal na vida do Senhor Jesus, dos apóstolos e da Igreja Primitiva onde a luta diária era constante, porém, na mesma proporção era o desejo dessa igreja em ver o seu Senhor anunciado a todos.



CONSIDERAÇÕES FINAIS:



O ESPÍRITO SANTO FAZ DA IGREJA UM PODEROSO INSTRUMENTO PARA A EVANGELIZAÇÃO:

• Jo 20:19 - A mudança na vida dos discípulos foi total. Desde que Jesus foi preso, até o dia de Pentecoste, eles, com medo dos judeus, estavam com as portas cerradas, totalmente isolados do povo. A sua atividade espiritual havia cessado. Porém, a partir do Pentecoste, foram cheios do Espírito Santo: Foram impulsionados a testificar de Jesus e o fizeram com tanto poder, que já na primeira arrancada foram agragadas quase três mil almas - At 2:41

• A partir do Pentecoste, a Igreja se levantou com poder; foi conduzida pelo Espírito Santo para uma eficiente e dinâmica evangelização. O Espírito Santo os guiou em continuação, de tal maneira, até o ponto de seus inimigos dizerem: “Eis que enchestes Jerusalém dessa vossa doutrina” - At 5:28

• As perseguições não fizeram a Igreja primitiva recuar. Ela se entregava à morte por amor a Cristo; tinha qualidade em sua vida espiritual; eram homens e mulheres santos. Viver numa comunidade estéril e descompromissada com o reino de Deus era-lhes como experimentar a morte.

• Assim, para a Igreja Primitiva…:

• (A) - PODIA-SE MATAR OS SANTOS DE DEUS, PORÉM NÃO SE PODE MATAR O DEUS DOS SANTOS; e

• (B) - MORRER NÃO ERA PROBLEMA; O PROBLEMA ERA A IGREJA NÃO ESTAR VIVA.

• Igreja do Senhor! Fiquemos “em fervente oração”, pois ela é a respiração e o suspiro do espírito humano por Deus. Somente a Sua gloriosa presença em nosso meio é que nos mantém com vida santa, no altar… para Sua glória.



Baruch Habá B’Shem Adonai!
Bendito o que vem em nome do Senhor!
Ev. Manoel Flausino

25/10/2010

As 95 Teses de Lutero

Movido pelo amor e pelo empenho em prol do esclarecimento da verdade discutir-se-á em Wittemberg, sob a presidência do Ver. Padre Martinho Lutero, o que segue. Aqueles que não puderem estar presentes para tratarem do assunto verbalmente connosco, poderão fazê-lo por escrito. Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém !.




1. Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: "Arrependei-vos" etc., certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo arrependimento.



2. E esta expressão não pode e não deve ser interpretada como referindo-se ao sacramento da penitência, isto é, à confissão e satisfação, a cargo do ofício dos sacerdotes.



3. Todavia não quer que apenas se entenda o arrependimento interno; o arrependimento interno nem mesmo é arrependimento quando não produz toda sorte de mortificações da carne.



4. Assim sendo, o arrependimento e o pesar, isto é, a verdadeira penitência, perdura enquanto o homem se desagradar de si mesmo, a saber, até a entrada desta para a vida eterna.



5. O papa não quer e não pode dispensar outras penas, além das que impôs ao seu alvitre ou em acordo com os cânones, que são estatutos papais.



6. O papa não pode perdoar dívida senão declarar e confirmar aquilo que já foi perdoado por Deus; ou então faz nos casos que lhe foram reservados. Nestes casos, se desprezados, a dívida deixaria de ser em absoluto anulada ou perdoada.



7. Deus a ninguém perdoa a dívida sem ao mesmo tempo o subordine, em sincera humildade, ao sacerdote, seu vigário.



8. Canones poenitendiales, que são as ordenanças de prescrição da maneira em que se deve confessar e expiar, apenas são impostas aos vivos, e, de acordo com as mesmas ordenanças, não dizem respeito aos moribundos.



9. Eis porque o Espírito Santo nos faz bem mediante o papa, excluindo este de todos os seus decretos ou direitos o artigo da morte e da necessidade suprema.



10. Procedem desajuizadamente e mal os sacerdotes que reservam e impõem os moribundos poenitentias canonicas ou penitências para o purgatório afim de ali serem cumpridas.



11. Este joio, que é o de se transformar a penitência e satisfação, previstas pelas cânones ou estatutos, em penitência ou apenas do purgatório, foi semeado quando os bispos se achavam dormindo.



12. Outrora canonicae poenae, ou sejam penitência e satisfação por pecados cometidos eram impostos, não depois, mas antes da absolvição, com a finalidades de provar a sinceridade do arrependimento e do pesar.



13. Os moribundos tudo satisfazem com a sua morte e estão mortos para o direito canónico, sendo, portanto, dispensados, com justiça de sua imposição.



14. Piedade ou amor imperfeitos da parte daquele que se acha às portas da morte necessariamente resultam em grande temor; logo, quanto menor o amor, tanto maior o temor.



15. Este temor e espanto em si tão só, sem falar de outras cousas, bastam para causar o tormento e horror do purgatório, pois que se avizinham da angústia do desespero.



16. Inferno, purgatório e céu parecem ser tão diferentes quanto o são um do outro o desespero completo, incompleto ou quase desespero e certeza.



17. Parece que assim como no purgatório diminuem a angústia e o espanto das almas, nelas também deve crescer e aumentar o amor.



18. Bem assim parece não ter sido provado, nem por boas razões e nem pela Escritura, que as almas no purgatório se encontram for a da possibilidade do mérito ou do crescimento no amor.



19. Ainda não parece ter sido provado que todas as almas do purgatório tenham certeza de sua salvação e não receiem por ela, não obstante nós teremos absoluta certeza disto.



20. Por isso o papa não quer dizer e nem compreende com as palavras "perdão plenário de todas as penas" que todo o tormento é perdoado, mas apenas as penas por ele impostas.



21. Eis porque erram os apregoadores de indulgências ao afirmarem ser o homem perdoado de todas as penas e salvo mediante a indulgência do papa.



22. Com efeito, o papa nenhuma pena dispensa às almas no purgatório das que segundo os cânones da Igreja deviam ter expiado e pago na presente vida.



23. Verdade é que se houver qualquer perdão plenário das penas, este apenas será dado aos mais perfeitos, que são muito poucos.



24. Assim sendo, a minoria do povo é ludibriada com as pomposas promessas do indistinto perdão, impressionando-se o homem singelo com as penas pagas.



25. Exactamente o mesmo poder geral, que o papa tem sobre o purgatório, qualquer bispo e cura de almas tem no seu bispado e na sua paróquia, quer de modo especial e quer para com os seus em particular.



26. O papa faz muito bem em não conceder o perdão em virtude do poder das chaves ( ao qual não possue ), mas pela ajuda ou em forma de intercessão.



27. Pregam futilidades humanas quantos alegam que no momento em que a moeda soa ao cair na caixa a alma se vai do purgatório.



28. Certo é que no momento em que a moeda soa na caixa vêm o lucro e o amor ao dinheiro, cresce e aumenta; a ajuda porém, ou a intercessão da Igreja tão só correspondem à vontade e ao agrado de Deus.



29. E quem sabe, se todas as almas do purgatório querem ser libertadas, quando há quem diga o que suceder com Santo Severino e Pascoal.



30. Ninguém tem certeza da suficiência do seu arrependimento e pesar verdadeiros; muitos menos certeza pode ter de haver alcançado pleno perdão dos seus pecados.



31. Tão raro como existe alguém que possui arrependimento e pesar verdadeiros, tão raro também é aquele que alcança indulgência, sendo bem poucos os que se encontram.



32. Irão para o diabo juntamente com os seus mestres aqueles que julgam obter certeza de sua salvação mediante breves de indulgência.



33. Há que acautelar-se muito e ter cuidado daqueles que dizem: A indulgência do papa é a mais sublime e mais preciosa graça ou dádiva de Deus, pela qual o homem é reconciliado com Deus.



34. Tanto assim, que a graça da indulgência apenas se refere à pena satisfatória estipulada por homens.



35. Ensinam de maneira ímpia quantos alegam que aqueles que querem livrar almas do purgatório ou adquirir breves de confissão não necessitam de arrependimento e pesar.



36. Todo e qualquer cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados, sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe pertence mesmo sem breve de indulgência.



37. Todo e qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, é participante de todos os bens de Cristo e da Igreja, dádiva de Deus, mesmo sem breve de indulgência.



38. Entretanto se não deve desprezar o perdão e a distribuição por parte do papa. Pois, conforme declarei, o seu perdão constitui uma declaração do perdão divino.



39. É extremamente difícil, mesmo para os mais doutos teólogos, exaltar diante do povo ao mesmo tempo a grande riqueza da indulgência e ao contrário o verdadeiro arrependimento e pezar.



40. O verdadeiro arrependimento e pesar buscam e amam o castigo; mas a profusão da indulgência livra das penas e faz com que se as aborreça, pelo menos quando há oportunidade para isso.



41. É necessário pregar cautelosamente sobre a indulgência papal para que o homem singelo não julgue erroneamente ser a indulgência preferível às demais obras de caridade ou melhor do que elas.



42. Deve-se ensinar aos cristão, não ter pensamento e opinião do papa que a aquisição de indulgência de alguma maneira possa ser comparada com qualquer obra de caridade.



43. Deve-se ensinar aos cristãos proceder melhor quem dá aos pobres ou empresta aos necessitados do que os que compram indulgências.



44. É que pela obra de caridade cresce o amor ao próximo e o homem torna-se mais piedoso; pelas indulgências porém, não se torna melhor senão mais segura e livre da pena.



45. Deve-se ensinar aos cristãos que aquele que vê seu próximo padecer necessidade e a despeito disto gasta dinheiro com indulgências, não adquire indulgências do papa, mas provoca a ira de Deus.



46. Deve-se ensinar aos cristão que, se não tiverem fartura, fiquem com o necessário para a casa e de maneira nenhuma o esbanjem com indulgências.



47. Deve-se ensinar aos cristãos, ser a compra de indulgências livre e não ordenada.



48. Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa precisa conceder mais indulgências, mais necessita de uma oração fervorosa de que de dinheiro.



49. Deve-se ensinar aos cristãos, serem muito boas indulgências do papa enquanto o homem não confiar nelas; mas muito prejudiciais quando, em consequências delas, se perde o temor de Deus.



50. Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa tivesse conhecimento da traficância dos apregoadores de indulgências, preferiria ver a catedral de São Pedro ser reduzida a cinzas a ser edificada com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.



51. Deve-se ensinar aos cristãos que o papa, por dever seus, preferiria distribuir o seu dinheiro aos que em geral são despojados do dinheiro pelos apregoadores de indulgência, vendendo, se necessário fosse, a própria catedral de São Pedro..4



52. Comete-se injustiça contra a Palavra de Deus quando, no mesmo sermão, se consagra tanto ou mais tempo à indulgência do que à pregação da Palavra do Senhor.



53. São inimigos de Cristo e do papa quantos por causa da prédica de indulgências proíbem a Palavra de Deus nas demais igrejas.



54. Esperar ser salvo mediante breves de indulgências é vaidade e mentira, mesmo se o comissário de indulgências, mesmo se o próprio papa oferecesse sua alma como garantia.



55. A intenção do papa não pode ser outra do que celebrar a indulgência, que é a causa menor, com um sino, uma pompa e uma cerimónia, enquanto o Evangelho, que é essencial, importa ser anunciado mediante cem sinos, centenas de pompas e solenidades.



56. Os tesouros da Igreja, dos quais o papa tira e distribui as indulgências, não são bastante mencionadas e nem suficientemente conhecidos na Igreja de Cristo.



57. Que não são bens temporais, é evidente, porquanto muitos pregadores a este não distribuem com facilidade, antes os ajuntam.



58. Tão pouco são os merecimentos de Cristo e dos santos, porquanto estes sempre são eficientes e, independentemente do papa, operam salvação do homem interior e a cruz, a morte e o inferno para o homem exterior.



59. São Lourenço aos pobres chamava tesouros da Igreja, mas no sentido em que a palavra era usada na sua época.



60. Afirmamos com boa razão, sem temeridade ou leviandade, que este tesouros são as chaves da Igreja, a ela dado pelo merecimento de Cristo.



61. Evidente é que para o perdão de penas e para a absolvição em determinados casos o poder do papa por si só basta.



62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.



63. Este tesouro, porém, é muito desprezado e odiado, porquanto faz com que os últimos sejam os primeiros



64. Enquanto isso o tesouro das indulgências é sabidamente o mais apreciado, porquanto faz com que os últimos sejam os primeiros.



65. Por essa razão os tesouros evangélicos outrora foram as redes com que se apanhavam os ricos e abastados.



66. Os tesouros das indulgências, porém, são as redes com que hoje se apanham as riquezas dos homens.



67. As indulgências apregoadas pelos seus vendedores com ao mais sublimes graça decerto assim são considerados porque lhes trazem grandes proventos.



68. Nem por isso semelhante indulgência não deixa de ser a mais íntima graça comparada com a graça de Deus e a piedade da cruz.



69. Os bispos e sacerdotes são obrigados a receber os comissários das indulgências apostólicas com toda a reverência.



70. Entretanto têm muito maior dever de conservar abertos olhos e ouvidos, para que estes comissários, em vez de cumprirem as ordens recebidas do papa, não preguem os seus próprios sonhos.



71. Aquele, porém, que se insurgir contra as palavras insolentes e arrogantes dos apregoadores de indulgências, seja abençoado.



72. Quem se levanta a sua voz contra a verdade das indulgências papais é excomungado e maldito.



73. Da mesma maneira em que o papa usa de justiça ao fulminar com a excomunhão aos que em prejuízo do comércio de indulgências procedem astuciosamente.



74. Muito mais deseja atingir com o desfavor e a excomunhão àqueles que, sob o pretexto de indulgência, prejudiquem a santa caridade e a verdade pela sua maneira de agir.



75. Considerar as indulgências do papa tão poderosa, a ponto de poderem absolver alguém dos pecados, mesmo que ( cousa impossível ) tivesse desonrado a mãe de Deus, significa ser demente.



76. Bem ao contrário, afirmamos que a indulgência do papa nem mesmo o menor pecado venial pode anular no que diz respeito à culpa que constitui.



77. Dizer que mesmo São Pedro, se agora fosse papa, não poderia dispensar maior indulgência, significa blasfemar São Pedro e o papa.



78. Em contrário, dizemos que o atual papa, e todos os que o sucederem, é detentor de muito maior indulgência, isto é, o Evangelho, as virtudes, o dom de curar, etc. , de acordo com o que diz I Coríntios 12.



79. Afirmar ter a cruz de indulgências adornada com as armas do papa e colocada na igreja tanto valor como a própria cruz de Cristo, é blasfémia.



80. Os bispos, padres e teólogos que consentem em semelhante linguagem diante do povo, terão de prestar contas deste procedimento.



81. Semelhante pregação, a enaltecer atrevida e insolentemente a indulgência, faz com que mesmo a homens doutos é difícil proteger a devida reverência ao papa contra a maledicência e as fortes objeções dos leigos.



82. Eis um exemplo: Por que o papa não tira duma vez todas as almas do purgatório, movido por santíssima caridade e em face da mais premente necessidade das almas, que seria justíssimo motivo para tanto, quando em troca de vil dinheiro para construção da catedral de São Pedro, livra um sem número de almas, logo por motivo bastante insignificante?



83. Outrossim: Por que continuam as exéquias e missas de ano em sufrágio das almas dos defuntos e não se devolve o dinheiro recebido para o mesmo fim ou não se permite os doadores busquem de novo os benefícios ou prebendas oferecidos em favor dos mortos, visto ser injusto continuar a rezar pelos já resgatados?



84. Ainda: Que nova piedade de Deus e do papa é esta, que permite a um ímpio e inimigo resgatar uma alma piedosa e agradável a Deus por amor ao dinheiro e não resgatar esta mesma alma piedosa e querida de sua grande necessidade por livre amor e sem paga ?



85. Ainda: Por que os cânones de penitência, que de fato, faz muito caducaram e morreram pelo desuso, tornam a ser resgatados mediante dinheiro em forma de indulgências como se continuassem bem vivos e em vigor ?



86. Ainda: Por que o papa, cuja fortuna hoje é a mais principesca do que a de qualquer Credo, não prefere edificar a catedral de São Pedro de seu próprio bolso em vez de o fazer com o dinheiro de fiéis pobres ?



87. Ainda: Que ou que parte concede o papa do dinheiro proveniente de indulgências aos que pela penitência completa assiste direito à indulgência plenária ?



88. Afinal: que maior bem poderia receber a Igreja, se o papa, como já o fez cem vezes ao dia, concedesse a cada fiel semelhante dispensa e participação da indulgência a título gratuito.



89. Visto o papa visar mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que revoga os breves de indulgência outrora por ele concedidos, aos quais atribuía as mesmas virtudes ?



90. Refutar estes argumentos sagazes dos leigos pelo uso da força e não mediante argumentos da lógica, significa entregar a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e desgraçar os cristãos.



91. Se a indulgência fosse apregoada segundo o espírito e sentido do papa, aqueles receios seriam facilmente desfeitos, nem mesmo teriam surgido.



92. Fora, pois, com todos estes profetas que dizem ao povo de Cristo: Paz! Paz! e não há paz.



93. Abençoados seja, porém, todos os profetas que dizem à grei de Cristo: Cruz! Cruz! e não há cruz.



94. Admoestem-se os cristãos a que se empenham em seguir sua Cabeça Cristo através do padecimento, morte e inferno.



95. E assim esperem mais entrar no reino dos céus através de muitas tribulações do que facilitados diante de consolações infundadas.

MARTINHO LUTERO - A REFORMA PROTESTANTE

"É preciso exortar os fiéis a entrarem no céu por meio de muitas tribulações, em vez de descansarem na segurança de uma falsa paz" 95ª tese.
No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero fixou suas famosas teses (total de 95) contra a venda de indulgências, na porta da Igreja Católica do Castelo de Wittenberg, na Alemanha, contrariando os interesses teológicos e, principalmente, econômicos da Igreja Católica. O impacto foi tamanho, que se comemora nessa data o início da Reforma Protestante.


Lutero não foi, como alguns pensam, o fundador de uma nova religião, o protestantismo. A Reforma Protestante, da qual foi impulsionador, foi além do movimento da libertação nacional, que resultou na formação de igrejas nacionais entre os anos de1517 a 1563. Foi, sem dúvida, o grande precursor da liberdade religiosa atual e quem mais contribuiu para um retorno do cristianismo às Escrituras.

Para não admitir suas falhas, são diversas as acusações da Igreja Católica a Lutero, de louco a rebelde orgulhoso.


A preparação para a Reforma

No decorrer dos séculos, desde os tempos de Cristo, tem havido um desvio daquilo que Jesus ensinou. Sempre se levantaram vozes em defesa da pureza do Evangelho.


Apesar do zelo, sempre existiram aqueles que se desviavam, trazendo para dentro da Igreja práticas de outras religiões. Esses desvios, a princípio em número reduzido, foram aumentando a ponto de paganizar a Igreja, transformando-a no que conhecemos hoje por Igreja Católica.


No começo, foi apenas a inclusão da hierarquia onde o papa era o líder supremo; depois vieram o batismo para a salvação, a adoração de santos, e outros, atingindo um patamar tal, que por volta do século XIV, a Igreja Católica estava completamente envolvida no paganismo. Daí a salvação passou a ser comercializada como qualquer outro objeto.

Enquanto o cristianismo romano se paganizava, muitas pessoas às quais o nome "cristão" fora negado, lutavam para que a Igreja retornasse aos princípios do Novo Testamento. Entretanto, ela já havia se institucionalizado, e esses reformadores passaram a ser acusados de hereges. Geralmente eram expulsos de suas congregações e perseguidos, pagando, muitas vezes com a vida, pelo zelo cristão.

Até o século XIV, os protestos dessas pessoas foram abafados; porém com o advento de uma nova mentalidade, que deu origem às transformações políticas, sociais, científicas, literárias e mais, foram sendo notados. Naquele período, as grandes descobertas marítimas, a invenção da imprensa, a descoberta do maravilhoso mundo clássico da literatura e arte, até então perdidos, produziram um despertar da natureza humana, que se processou de forma intensa e geral. Esse período ficou conhecido como Renascença, movimento que produziu a energia necessária para a revolução religiosa que se daria no século XVI.


O grande nome dessa revolução religiosa foi Martinho Lutero, monge agostiniano. que, revoltado contra a venda de indulgências, levantou a bandeira da liberdade religiosa frente à corrompida Igreja Católica.


Peregrinação espiritual


Lutero nasceu em 1483, em Eisleben, Alemanha, onde seu pai, de origem camponesa, trabalhava em minas. A sua infância não foi feliz. Seus pais eram extremamente severos. Durante toda a sua vida foi prisioneiro de períodos de depressão e angústia profunda, quando aspirava pela salvação de sua alma.


Em 1505, antes de completar 22 anos, ingressou - contra a vontade de seu pai, que sonhava com a carreira de advogado para ele - no mosteiro Agostinho de Erfurt. Dos motivos que o levaram a tal passo, esse acontecimento foi decisivo: duas semanas antes, quando sobremaneira o temor da morte e do inferno o afligia, prometeu a santa Ana caso se salvasse se tornaria um monge. Portanto, a razão principal, foi o seu interesse pela própria salvação.

Ingressou no mosteiro como filho fiel da Igreja no propósito de utilizar os meios de salvação que ela lhe oferecia e dos quais o mais seguro lhe parecia o monástico. Acreditava que, sendo um sacerdote, as boas obras e a confissão seriam as respostas para suas necessidades, almejadas desde a infância. Mas não bastava.

Embora tentasse ser um monge perfeito - repentinamente castigava seu corpo, a conselho de seu superior - tinha consciência de sua pecaminosidade e cada vez, por isso, tratava de sobrepor-se a ela. Porém, quanto mais lutava contra esse sentimento, mais se apercebia de que o pecado era muito mais poderoso do que ele.


Frente a essa situação desesperadora, o seu conselheiro espiritual recomendou que lesse as obras dos místicos, mas não adiantou; então, foi proposto que se preparasse para dirigir cursos sobre as Escrituras na Universidade de Wittenberg.


A grande descoberta


É certo que, quando se viu obrigado a preparar conferências sobre a Bíblia, Lutero começou a ver nelas uma possível resposta para suas angústias.


Em 1513, começou a dar aulas sobre Salmos, os quais interpretava cristologicamente. Neles, era Cristo quem falava. E assim, viu Cristo passando pelas angústias semelhantes às que passava. Esse foi o princípio de sua grande descoberta, que aconteceu provavelmente em 1515, quando começou a dar conferências sobre a Epístola aos Romanos. Lutero confessou que encontrou resposta para as suas dificuldades, no primeiro capítulo dessa Epístola.


Essa resposta, no entanto, não veio facilmente. Não ocorreu de um dia para outro. A grande descoberta foi precedida por uma grande luta e uma amarga angústia.


O texto básico é Romanos 1.17, no qual é dito que o Evangelho é a revelação da justiça de Deus, e era precisamente essa justiça que Lutero não podia tolerar e dizia que odiava a frase "justiça de Deus". Nela, esteve meditando dia e noite para compreender a relação entre as duas partes do versículo que diz "a justiça de Deus se revela no evangelho", e conclui dizendo que "o justo viverá pela fé".


O protesto
A resposta foi surpreendente. Lutero concluiu que a justiça de Deus, em Romanos 1.17. não se refere ao fato de que Deus castigue os pecadores, mas ao fato de que a justiça do justo não é obra sua, mas dom de Deus. Portanto, a justiça de Deus só tem quem vive pela fé: não porque seja em si mesmo justo ou porque Deus lhe dê esse dom, mas por causa da misericórdia de Deus que, gratuitamente, justifica o pecador desde que este creia.


A partir dessa descoberta, a justiça de Deus não passou mais a ser odiada; agora, ela tornou-se em uma frase doce para sua vida. Em conseqüência as Escrituras passaram a ter um novo sentido para ele. Inconformado com a Igreja Católica, Lutero compôs algumas teses, que deveriam servir como base para um debate acadêmico.


Naquele período, teve início, por ordem do papa Leão X, a venda de indulgências por Tetzel, através da qual o portador tinha a garantia de sua salvação. Não concordando com a exploração de seus compatriotas, Lutero fixou suas famosas 95 teses na porta da Igreja (local utilizado para colocar informações da universidade) do Castelo de Wittenberg.
As teses foram escritas acaloradamente com sentimento de indignação profunda, mas com todo o respaldo Bíblico. E além do mais. ao atacar a venda de indulgências, colocava em perigo os projetos dos exploradores, dentre eles, a ganância do papa Leão X em arrecadar dinheiro suficiente para terminar a construção da Basílica de São Pedro. Os impressos despertaram o povo e produziram um sentimento de patriotismo, o que facilitou a Reforma na Alemanha.


A importância de Lutero para o protestantismo moderno não deve ser esquecida. Foi ele quem teve mais sucesso na investida contra Roma. Foi ele o grande bandeirante da volta às Escrituras como regra de fé e prática. Foi um dos poucos homens que alterou profundamente a História do mundo. Através do seu exemplo, outras pessoas seguiram o caminho da Reforma em seus próprios países, e em poucos anos quase toda a Europa havia sido varrida pelos ventos reformadores.


Lutero foi responsável por três pontos básicos do protestantismo atual: a supremacia das Escrituras sobre a tradição; a supremacia da fé sobre as obras; e a supremacia do sacerdócio de cada cristão sobre o sacerdócio exclusivo de um líder. Humanamente falando, deve-se a Lutero um retomo à leitura da Bíblia.


A Contra-Reforma e os jesuítas


Lutero teve de enfrentar o tremendo poderio da Igreja Católica que, imediatamente organizou a Companhia de Jesus (jesuítas) para atacar a Reforma. Vide o juramento dos jesuítas (livro Congregacional de Relatórios, página 3.362) que em resumo, diz: "Prometo na presença de Deus e da Virgem Maria e de ti meu pai espiritual, superior da Ordem Geral dos Jesuítas... e pelas entranhas da Santíssima Virgem defender a doutrina contra os usurpadores protestantes, liberais e maçons sem hesitar. Prometo e declaro que farei e ensinarei a guerra lenta e secreta contra os hereges... tudo farei para extirpá-los da face da terra, não pouparei idade, nem sexo, nem cor... farei arruinar, extirpar, estrangular e queimar vivo esses hereges. Farei arrancar seus estômagos e o ventre de suas mulheres e esmagarei a cabeça de suas crianças contra a parede a fim de extirpar a raça.

Quando não puder fazer isso publicamente usarei o veneno, a corda de estrangular, o laço, o punhal e a bala e chumbo.

Com este punhal molhado no meu sangue farei minha rubrica como testemunho! Se eu for falso ou perjuro, podem meus irmãos, os Soldados do Papa cortar mãos e pés, e minha garganta; minha barriga seja aberta e queimada com enxofre e que minha alma seja torturada pelos demônios para sempre no inferno!"


Preocupada em conter o avanço dessas ideias, a igreja Romana iniciou através do Tribunal da Santa Inquisição a perseguição mais infame e sangrenta da história, onde, no caso da França, numa única noite, chamada de "Noite de São Bartolomeu", três mil protestantes foram assassinados e seus corpos

23/10/2010

Reforma Protestante - 31 de outubro de 1517

Reforma Protestante


Lutero com 46 anos









Erasmo de Roterdão.






João Calvino.

John Wycliffe.

John Knox.



Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.Ir para: navegação, pesquisa

A Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão iniciado no século XVI por Martinho Lutero, que, através da publicação de suas 95 teses,[1] protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica, propondo uma reforma no catolicismo. Os princípios fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos como os Cinco solas.[2]
Lutero foi apoiado por vários religiosos e governantes europeus provocando uma revolução religiosa, iniciada na Alemanha, e estendendo-se pela Suíça, França, Países Baixos, Reino Unido, Escandinávia e algumas partes do Leste europeu, principalmente os Países Bálticos e a Hungria. A resposta da Igreja Católica Romana foi o movimento conhecido como Contra-Reforma ou Reforma Católica, iniciada no Concílio de Trento.
O resultado da Reforma Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os católicos romanos e os reformados ou protestantes, originando o Protestantismo.

Pré-Reforma

A Pré-Reforma foi o período anterior à Reforma Protestante no qual se iniciaram as bases ideológicas que posteriormente resultaram na reforma iniciada por Martinho Lutero.
A Pré-Reforma tem suas origens em uma denominação cristã do século XII conhecida como Valdenses, que era formada pelos seguidores de Pedro Valdo, um comerciante de Lyon que se converteu ao Cristianismo por volta de 1174. Ele decidiu encomendar uma tradução da Bíblia para a linguagem popular e começou a pregá-la ao povo sem ser sacerdote. Ao mesmo tempo, renunciou à sua atividade e aos bens, que repartiu entre os pobres. Desde o início, os valdenses afirmavam o direito de cada fiel de ter a Bíblia em sua própria língua, considerando ser a fonte de toda autoridade eclesiástica. Eles reuniam-se em casas de famílias ou mesmo em grutas, clandestinamente, devido à perseguição da Igreja Católica, já que negavam a supremacia de Roma e rejeitavam o culto às imagens, que consideravam como sendo idolatria.[3]


John Wycliffe.No seguimento do colapso de instituições monásticas e da escolástica nos finais da Idade Média na Europa, acentuado pelo Cativeiro Babilônico da igreja no papado de Avignon, o Grande Cisma e o fracasso da conciliação, se viu no século XVI o fermentar de um enorme debate sobre a reforma da religião e dos posteriores valores religiosos fundamentais.
No século XIV, o inglês John Wycliffe,[4] considerado como precursor da Reforma Protestante, levantou diversos questionamentos sobre questões controversas que envolviam o Cristianismo, mais precisamente a Igreja Católica Romana. Entre outras idéias, Wycliffe queria o retorno da Igreja à primitiva pobreza dos tempos dos evangelistas, algo que, na sua visão, era incompatível com o poder político do papa e dos cardeais, e que o poder da Igreja devia ser limitado às questões espirituais, sendo o poder político exercido pelo Estado, representado pelo rei. Contrário à rígida hierarquia eclesiástica, Wycliffe defendia a pobreza dos padres e os organizou em grupos. Estes padres foram conhecidos como "lolardos". Mais tarde, surgiu outra figura importante deste período: Jan Hus. Este pensador tcheco iniciou um movimento religioso baseado nas ideias de John Wycliffe. Seus seguidores ficaram conhecidos como Hussitas.[5]



 Reforma

Na Alemanha, Suíça e França

No início do século XVI, o monge alemão Martinho Lutero, abraçando as idéias dos pré-reformadores, proferiu três sermões contra as indulgências em 1516 e 1517. Em 31 de outubro de 1517 foram pregadas as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, com um convite aberto ao debate sobre elas.[6] Esse fato é considerado como o início da Reforma Protestante.[7]


Martinho Lutero, aos 46 anos de idade.Essas teses condenavam a "avareza e o paganismo" na Igreja, e pediam um debate teológico sobre o que as indulgências significavam. As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. Após um mês se haviam espalhado por toda a Europa.[8]


Após diversos acontecimentos, em junho de 1518 foi aberto um processo por parte da Igreja Romana contra Lutero, a partir da publicação das suas 95 Teses. Alegava-se, com o exame do processo, que ele incorria em heresia. Depois disso, em agosto de 1518, o processo foi alterado para heresia notória.[9] Finalmente, em junho de 1520 reapareceu a ameaça no escrito "Exsurge Domini" e, em janeiro de 1521, a bula "Decet Romanum Pontificem" excomungou Lutero. Devido a esses acontecimentos, Lutero foi exilado no Castelo de Wartburg, em Eisenach, onde permaneceu por cerca de um ano. Durante esse período de retiro forçado, Lutero trabalhou na sua tradução da Bíblia para o alemão, da qual foi impresso o Novo Testamento, em setembro de 1522.[10]


Extensão da Reforma Protestante na Europa.Enquanto isso, em meio ao clero saxônio, aconteceram renúncias ao voto de castidade, ao mesmo tempo em que outros tantos atacavam os votos monásticos. Entre outras coisas, muitos realizaram a troca das formas de adoração e terminaram com as missas, assim como a eliminação das imagens nas igrejas e a ab-rogação do celibato. Ao mesmo tempo em que Lutero escrevia "a todos os cristãos para que se resguardem da insurreição e rebelião". Seu casamento com a ex-freira cisterciense Catarina von Bora incentivou o casamento de outros padres e freiras que haviam adotado a Reforma. Com estes e outros atos consumou-se o rompimento definitivo com a Igreja Romana.[11] Em janeiro de 1521 foi realizada a Dieta de Worms, que teve um papel importante na Reforma, pois nela Lutero foi convocado para desmentir as suas teses, no entanto ele defendeu-as e pediu a reforma.[12] Autoridades de várias regiões do Sacro Império Romano-Germânico pressionadas pela população e pelos luteranos, expulsavam e mesmo assassinavam sacerdotes católicos das igrejas,[13] substituindo-os por religiosos com formação luterana.[14]
Toda essa rebelião ideológica resultou também em rebeliões armadas, com destaque para a Guerra dos camponeses (1524-1525). Esta guerra foi, de muitas maneiras, uma resposta aos discursos de Lutero e de outros reformadores. Revoltas de camponeses já tinham existido em pequena escala em Flandres (1321-1323), na França (1358), na Inglaterra (1381-1388), durante as guerras hussitas do século XV, e muitas outras até o século XVIII. A revolta foi incitada principalmente pelo seguidor de Lutero, Thomas Münzer,[14] que comandou massas camponesas contra a nobreza imperial, pois propunha uma sociedade sem diferenças entre ricos e pobres e sem propriedade privada,[14] Lutero por sua vez defendia que a existência de "senhores e servos" era vontade divina,[14] motivo pelo qual eles romperam,[15] sendo que Lutero condenou Münzer e essa revolta.[16]


O Muro dos Reformadores. Da esquerda à direita, estátuas de Guilherme Farel, João Calvino, Teodoro de Beza e John Knox.Em 1530 foi apresentada na Dieta imperial convocada pelo Imperador Carlos V, realizada em abril desse ano, a Confissão de Augsburgo, escrita por Felipe Melanchton [17] com o apoio da Liga de Esmalcalda. Os representantes católicos na Dieta resolveram preparar uma refutação ao documento luterano em agosto, a Confutatio Pontificia (Confutação), que foi lida na Dieta. O Imperador exigiu que os luteranos admitissem que sua Confissão havia sido refutada. A reação luterana surgiu na forma da Apologia da Confissão de Augsburgo, que estava pronta para ser apresentada em setembro do mesmo ano, mas foi rejeitada pelo Imperador. A Apologia foi publicada por Felipe Melanchton no fim de maio de 1531, tornando-se confissão de fé oficial quando foi assinada, juntamente com a Confissão de Augsburgo, em Esmalcalda, em 1537.[18]
Ao mesmo tempo em que ocorria uma reforma em um sentido determinado, alguns grupos protestantes realizaram a chamada Reforma Radical. Queriam uma reforma mais profunda. Foram parte importante dessa reforma radical os Anabatistas, cujas principais características eram a defesa da total separação entre igreja e estado e o "novo batismo" [19] (que em grego é anabaptizo).[20]


João Calvino.Enquanto na Alemanha a reforma era liderada por Lutero, Na França e na Suíça a Reforma teve como líderes João Calvino e Ulrico Zuínglio .
João Calvino foi inicialmente um humanista. Nunca foi ordenado sacerdote. Depois do seu afastamento da Igreja católica, este intelectual começou a ser visto como um representante importante do movimento protestante.[21] Vítima das perseguições aos huguenotes na França, fugiu para Genebra em 1533 [22] onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se um centro do protestantismo europeu e João Calvino permanece desde então como uma figura central da história da cidade e da Suíça. Calvino publicou as Institutas da Religião Cristã,[23] que são uma importante referência para o sistema de doutrinas adotado pelas Igrejas Reformadas.[24]
Os problemas com os huguenotes somente concluíram quando o Rei Henry IV, um ex-huguenote, emitiu o Édito de Nantes, declarando tolerância religiosa e prometendo um reconhecimento oficial da minoria protestante, mas sob condições muito restritas. O catolicismo se manteve como religião oficial estatal e as fortunas dos protestantes franceses diminuíram gradualmente ao longo do próximo século, culminando na Louis XIV do Édito de Fontainebleau, que revogou o Édito de Nantes e fez do catolicismo única religião legal na França. Em resposta ao Édito de Fontainebleau, Frederick William de Brandemburgo declarou o Édito de Potsdam, dando passagem livre para franceses huguenotes refugiados e status de isenção de impostos a eles durante 10 anos.
Ulrico Zuínglio foi o líder da reforma suíça e fundador das igrejas reformadas suíças. Zuínglio não deixou igrejas organizadas, mas as suas doutrinas influenciaram as confissões calvinistas. A reforma de Zuínglio foi apoiada pelo magistrado e pela população de Zurique, levando a mudanças significativas na vida civil e em assuntos de estado em Zurique.[25]

No Reino Unido

O curso da Reforma foi diferente na Inglaterra. Desde muito tempo atrás havia uma forte corrente anticlerical, tendo a Inglaterra já visto o movimento Lollardo, que inspirou os Hussitas na Boémia. No entanto, ao redor de 1520 os lollardos já não eram uma força ativa, ou pelo menos um movimento de massas.

Henrique VIII.Embora Henrique VIII tivesse defendido a Igreja Católica com o livro Assertio Septem Sacramentorum (Defesa dos Sete Sacramentos), que contrapunha as 95 Teses de Martinho Lutero, Henrique promoveu a Reforma Inglesa para satisfazer as suas necessidades políticas. Sendo este casado com Catarina de Aragão, que não lhe havia dado filho homem, Henrique solicitou ao Papa Clemente VII a anulação do casamento.[26] Perante a recusa do Papado, Henrique fez-se proclamar, em 1531, protetor da Igreja inglesa. O Ato de Supremacia, votado no Parlamento em novembro de 1534, colocou Henrique e os seus sucessores na liderança da igreja, nascendo assim o Anglicanismo. Os súditos deveriam submeter-se ou então seriam excomungados, perseguidos [27] e executados, tribunais religiosos foram instaurados e católicos foram obrigados à assistir cultos protestantes,[28] muitos importantes opositores foram mortos, tais como Thomas More, o Bispo John Fischer e alguns sacerdotes, frades franciscanos e monges cartuchos. Quando Henrique foi sucedido pelo seu filho Eduardo VI em 1547, os protestantes viram-se em ascensão no governo. Uma reforma mais radical foi imposta diferenciando o anglicanismo ainda mais do catolicismo.[29]
Seguiu-se uma breve reação católica durante o reinado de Maria I (1553-1558). De início moderada na sua política religiosa, Maria procura a reconciliação com Roma, consagrada em 1554, quando o Parlamento votou o regresso à obediência ao Papa.[26] Um consenso começou a surgir durante o reinado de Elizabeth I. Em 1559, Elizabeth I retornou ao anglicanismo com o restabelecimento do Ato de Supremacia e do Livro de Orações de Eduardo VI. Através da Confissão dos Trinta e Nove Artigos (1563), Elizabeth alcançou um compromisso entre o protestantismo e o catolicismo: embora o dogma se aproximasse do calvinismo, só admitindo como sacramentos o Batismo e a Eucaristia, foi mantida a hierarquia episcopal e o fausto das cerimônias religiosas.
John Knox.A Reforma na Inglaterra procurou preservar o máximo da Tradição Católica (episcopado, liturgia e sacramentos). A Igreja da Inglaterra sempre se viu como a ecclesia anglicanae, ou seja, A Igreja cristã na Inglaterra e não como uma derivação da Igreja de Roma ou do movimento reformista do século XVI. A Reforma Anglicana buscou ser a "via média" entre o catolicismo e o protestantismo.[30]
Em 1561 apareceu uma confissão de fé com uma Exortação à Reforma da Igreja modificando seu sistema de liderança, pelo qual nenhuma igreja deveria exercer qualquer autoridade ou governo sobre outras, e ninguém deveria exercer autoridade na Igreja se isso não lhe fosse conferido por meio de eleição. Esse sistema, considerado "separatista" pela Igreja Anglicana, ficou conhecido como Congregacionalismo.[31] Richard Fytz é considerado o primeiro pastor de uma igreja congregacional, entre os anos de 1567 e 1568, na cidade de Londres. Por volta de 1570 ele publicou um manifesto intitulado As Verdadeiras Marcas da Igreja de Cristo.[32] Em 1580 Robert Browne, um clérigo anglicano que se tornou separatista, junto com o leigo Robert Harrison, organizou em Norwich uma congregação cujo sistema era congregacionalista,[33] sendo um claro exemplo de igreja desse sistema.
Na Escócia, John Knox (1505-1572), que tinha estudado com João Calvino em Genebra, levou o Parlamento da Escócia a abraçar a Reforma Protestante em 1560, sendo estabelecido o Presbiterianismo. A primeira Igreja Presbiteriana, a Church of Scotland (ou Kirk), foi fundada como resultado disso.[34]

Nos Países Baixos e na Escandinávia


Erasmo de Roterdão.A Reforma nos Países Baixos, ao contrário de muitos outros países, não foi iniciado pelos governantes das Dezessete Províncias, mas sim por vários movimentos populares que, por sua vez, foram reforçados com a chegada dos protestantes refugiados de outras partes do continente. Enquanto o movimento Anabatista gozava de popularidade na região nas primeiras décadas da Reforma, o calvinismo, através da Igreja Reformada Holandesa, tornou a fé protestante dominante no país desde a década de 1560 em diante. No início de agosto de 1566, uma multidão de protestantes invadiu a Igreja de Hondschoote na Flandres (atualmente Norte da França) com a finalidade de destruir das imagens católicas,[35][36][37] esse incidente provocou outros semelhantes nas províncias do norte e sul, até Beeldenstorm, em que calvinistas invadiram igrejas e outros edifícios católicos para destruir estátuas e imagens de santos em toda a Holanda, pois de acordo com os calvinistas, estas estátuas representavam culto de ídolos. Duras perseguições aos protestantes pelo governo espanhol de Felipe II contribuíram para um desejo de independência nas províncias, o que levou à Guerra dos Oitenta Anos e eventualmente, a separação da zona protestante (atual Holanda, ao norte) da zona católica (atual Bélgica, ao sul).[34]
Teve grande importância durante a Reforma um teólogo holandês: Erasmo de Roterdã. No auge de sua fama literária, foi inevitavelmente chamado a tomar partido nas discussões sobre a Reforma. Inicialmente, Erasmo se simpatizou com os principais pontos da crítica de Lutero, descrevendo-o como "uma poderosa trombeta da verdade do evangelho" e admitindo que, "É claro que muitas das reformas que Lutero pede são urgentemente necessárias.".[38] Lutero e Erasmo demonstraram admiração mútua, porém Erasmo hesitou em apoiar Lutero devido a seu medo de mudanças na doutrina. Em seu Catecismo (intitulado Explicação do Credo Apostólico, de 1533), Erasmo tomou uma posição contrária a Lutero por aceitar o ensinamento da "Sagrada Tradição" não escrita como válida fonte de inspiração além da Bíblia, por aceitar no cânon bíblico os livros deuterocanônicos e por reconhecer os sete sacramentos.[39] Estas e outras discordâncias, como por exemplo, o tema do Livre arbítrio fizeram com que Lutero e Erasmo se tornassem opositores.


Catedral luterana em Helsinque, Finlândia.Na Dinamarca, a difusão das idéias de Lutero deveu-se a Hans Tausen. Em 1536 [40] na Dieta de Copenhaga, o rei Cristiano III aboliu a autoridade dos bispos católicos, tendo sido confiscados os bens das igrejas e dos mosteiros. O rei atribuiu a Johann Bugenhagen, discípulo de Lutero, a responsabilidade de organizar uma Igreja Luterana nacional.[41] A Reforma na Noruega e na Islândia foi uma conseqüência da dominação da Dinamarca sobre estes territórios; assim, logo em 1537 ela foi introduzida na Noruega e entre 1541 e 1550 [40] na Islândia, tendo assumido neste último território características violentas.
Na Suécia, o movimento reformista foi liderado pelos irmãos Olaus Petri e Laurentius Petri. Teve o apoio do rei Gustavo I Vasa,[42] que rompeu com Roma em 1525, na Dieta de Vasteras. O luteranismo, então, penetrou neste país estabelecendo-se em 1527.[40] Em 1593, a Igreja sueca adotou a Confissão de Augsburgo. Na Finlândia, as igrejas faziam parte da Igreja sueca até o início do século XIX, quando foi formada uma igreja nacional independente, a Igreja Evangélica Luterana da Finlândia.

Em outras partes da Europa

Na Hungria, a disseminação do protestantismo foi auxiliada pela minoria étnica alemã, que podia traduzir os escritos de Lutero. Enquanto o Luteranismo ganhou uma posição entre a população de língua alemã, o Calvinismo se tornou amplamente popular entre a etnia húngara.[43] Provavelmente, os protestantes chegaram a ser maioria na Hungria até o final do século XVI, mas os esforços da Contra-Reforma no século XVII levaram uma maioria do reino de volta ao catolicismo.[44]
Fortemente perseguida, a Reforma praticamente não penetrou em Portugal e Espanha. Ainda assim, uma missão francesa enviada por João Calvino se estabeleceu em 1557 numa das ilhas da Baía de Guanabara, localizada no Brasil, então colônia de Portugal. Ainda que tenha durado pouco tempo, deixou como herança a Confissão de Fé da Guanabara.[45] Na Espanha, as idéias reformadas influíram em dois monges católicos: Casiodoro de Reina, que fez a primeira tradução da Bíblia para o idioma espanhol, e Cipriano de Valera, que fez sua revisão,[46] originando a conhecida como Biblia Reina-Valera.[47]


Massacre de São Bartolomeu.Imediatamente após o início da Reforma Protestante, a Igreja Católica Romana decidiu tomar medidas para frear o avanço da Reforma. Realizou-se, então, o Concílio de Trento (1545-1563),[48] que resultou no início da Contra-Reforma ou Reforma Católica,[49] na qual os Jesuítas tiveram um papel importante.[50] A Inquisição e a censura exercida pela Igreja Católica foram igualmente determinantes para evitar que as idéias reformadoras encontrassem divulgação em Portugal, Espanha ou Itália, países católicos.[51]
O biógrafo de João Calvino, o francês Bernard Cottret, escreveu: "Com o Concílio de Trento (1545-1563)… trata-se da racionalização e reforma da vida do clero. A Reforma Protestante é para ser entendida num sentido mais extenso: ela denomina a exortação ao regresso aos valores cristãos de cada "indivíduo"". Segundo Bernard Cottret, "A reforma cristã, em toda a sua diversidade, aparece centrada na teologia da salvação. A salvação, no Cristianismo, é forçosamente algo de individual, diz mais respeito ao indivíduo do que à comunidade",[52] diferente da pregação católica que defende a salvação na igreja.[53]
O principal acontecimento da contra-reforma foi a Massacre da noite de São Bartolomeu. As matanças, organizadas pela casa real francesa, começaram em 24 de Agosto de 1572 e duraram vários meses, inicialmente em Paris e depois em outras cidades francesas, vitimando entre 70.000 e 100.000 protestantes franceses (chamados huguenotes).[54]
Um dos pontos de destaque da reforma é o fato de ela ter possibilitado um maior acesso à Bíblia, graças às traduções feitas por vários reformadores (entre eles o próprio Lutero) a partir do latim para as línguas nacionais.[55] Tal liberdade fez com que fossem criados diversos grupos independentes, conhecidos como denominações. Nas primeiras décadas após a Reforma Protestante, surgiram diversos grupos, destacando o Luteranismo e as Igrejas Reformadas ou calvinistas (Presbiterianismo e Congregacionalismo). Nos séculos seguintes, surgiram outras denominações reformadas, com destaque para os Batistas e os Metodistas.
A seguir, uma tabela ilustrando o surgimento a traves dos séculos das diferentes correntes ou ramos do Protestantismo.

Igreja Livro Sagrado Salvação humana Sacramentos Rito religioso Principais áreas de influência européia

Católica A Bíblia é a fonte de fé, mas devia ser interpretada pelos padres da Igreja. A tradição católica também é uma fonte de fé, assim como o Magistério da Igreja. Salvação pela fé com o auxílio das obras. São sete: batismo, crisma, Eucaristia, matrimônio, penitência, ordem e unção dos doentes. Missa solene em latim. Espanha, Portugal, Itália, sul da Alemanha, maioria da França, maioria da Irlanda.

Luterana A Bíblia é a única fonte de fé. Permitia-se seu livre exame. Salvação pela fé em Deus. São dois: batismo (adulto e infantil) e eucaristia. Culto simples (com liturgia) com o uso das línguas nacionais. Norte da Alemanha, Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlândia.

Calvinista A Bíblia é a única fonte de fé. Permitia-se seu livre exame. Salvação pela fé e graça de Deus (predestinação). As boas obras eram vistas como conseqüência da salvação. São dois: batismo (adulto e infantil) e Eucaristia. Culto bem simples (com liturgia) com o uso das línguas nacionais. Suíça, Países Baixos, parte da França (huguenotes), Inglaterra (puritanos), Escócia (presbiterianos).

Anglicana A Bíblia é a fonte principal de fé. Devia ser interpretada pela Igreja (tradição) e permitia-se seu livre exame (razão). Salvação pela fé e graça de Deus (predestinação). As boas obras eram vistas como conseqüência da salvação. Para os anglicanos o batismo (adulto e infantil) e a Eucaristia foram os dois sacramentos instituídos por Jesus Cristo. Os demais ritos sacramentais da Igreja também são aceitos, apesar de não terem sido instituídos por Cristo, mas são reconhecidos por serem, em parte, estados de vida aprovados nas Escrituras: a confirmação, penitência, ordens, matrimônio e a unção dos enfermos. Culto conservando a forma católica (liturgia, hierarquia da Igreja). Uso da língua nacional (inglês). Inglaterra.



Referências

1.↑ Espaço Acadêmico.com.br. Página visitada em 18 de outubro de 2008.
2.↑ Monergismo. Página visitada em 18 de outubro de 2008.
3.↑ Águas Vivas. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
4.↑ Monergismo. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
5.↑ Dw-World.de. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
6.↑ Monergismo. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
7.↑ Folha Online. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
8.↑ ARQnet. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
9.↑ Águas Vivas. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
10.↑ IELB (Igreja Evangélica Luterana do Brasil). Página visitada em 13 de outubro de 2008.
11.↑ Música e Adoração. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
12.↑ Monergismo. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
13.↑ Janssen, Johannes, History of the German People From the Close of the Middle Ages, 16 vols., tr. AM Christie, St. Louis: B. Herder, 1910 (orig. 1891).
14.↑ a b c d História. Volume Único. Gislane Campos Azevedo e Reinaldo Seriacopi. Editora Ática. 2007. ISBN 978-85-08-11075-9. Pág.: 143.
15.↑ História das cavernas ao terceiro milênio. Myriam Becho Mota. Patrícia Ramos Braick. Volume I. Editora Moderna. Pág.: 179. ISBN 85-16-0402-4.
16.↑ DW-World. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
17.↑ IELB. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
18.↑ CELST (Comunidade Evangélica Luterana Santíssima Trindade). Página visitada em 13 de outubro de 2008.
19.↑ Águas Vivas. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
20.↑ Helênica. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
21.↑ Sara Nossa Terra. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
22.↑ CACP. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
23.↑ Portal Mackenzie. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
24.↑ Teu Ministério. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
25.↑ Levando a Palavra. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
26.↑ a b Saber História. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
27.↑ Veritatis. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
28.↑ Macaulay. A História da Inglaterra. Leipzig, pag.:54.
29.↑ Cleofas. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
30.↑ Metodista. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
31.↑ Centro White (pdf). Página visitada em 13 de outubro de 2008.
32.↑ IECT (Igreja Evangélica Congregacional da Tijuca). Página visitada em 13 de outubro de 2008.
33.↑ [http http://www.mackenzie.br/7058.98.html Portal Mackenzie]. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
34.↑ a b Arminianismo. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
35.↑ Van der Horst, Han (2000). Nederland, de vaderlandse geschiedenis van de prehistorie tot nu (in Dutch) (3rd ed.). Bert Bakker. pp. 133. ISBN 90-351-2722-6.
36.↑ Spaans, J. "Catholicism and Resistance to the Reformation in the Northern Netherlands". In: Benedict, Ph.
37.↑ Spaans, J. Reformation, Revolt and Civil War in France and the Netherlands, 1555-1585 (Amsterdam 1999), 149-163.
38.↑ Galli, Mark, and Olsen, Ted. 131 Christians Everyone Should Know. Nashville: Holman Reference, 2000, p. 344.
39.↑ Opera omnia Desiderii Erasmi Roterodami, vol. V/1, Amsterdam: Norht-Holland, pp. 278-290
40.↑ a b c Missão Jovem. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
41.↑ Centro de literatura. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
42.↑ Monergismo. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
43.↑ Revesz, Imre, History of the Hungarian Reformed Church, Knight, George A.F. ed., Hungarian Reformed Federation of America (Federação Reformada Húngara da América) (Washington, D.C.: 1956).
44.↑ Eldr Barry (em inglês). Página visitada em 13 de outubro de 2008.
45.↑ IPB (Igreja Presbiteriana do Brasil). Página visitada em 13 de outubro de 2008.
46.↑ IELB. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
47.↑ Literatura Bautista (em espanhol). Página visitada em 13 de outubro de 2008.
48.↑ Archivo Secreto Vaticano (em espanhol). Página visitada em 20 de outubro de 2008.
49.↑ Saber História. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
50.↑ Lepanto. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
51.↑ Jornal A Gaxéta. Página visitada em 20 de outubro de 2008.
52.↑ Águas Vivas. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
53.↑ Globo. Página visitada em 18 de outubro de 2008.
54.↑ DW-World. Página visitada em 13 de outubro de 2008.
55.↑ Antropos. Página visitada em 13 de outubro de 2008.