27/03/2016

Maravilhosa Graça - A Epístola aos Romanos


Introdução
Neste trimestre, estudaremos a Epístola de Paulo aos Romanos. Para Champlin, nenhuma pessoa tem exercido tanta influência como intérprete do Senhor Jesus Cristo e da fé Cristã como o apóstolo Paulo e esta carta é um dos escritos com maior profundidade teológica e doutrinária e, ao mesmo tempo, com maior cuidado pastoral do Apóstolo. De maneira ímpar, Paulo expõe a Justificação pela fé, mediante a Graça de Deus. João Calvino a considerava como parte Central e principal da Bíblia.

Escrita por Paulo à igreja localizada em Roma, com auxílio de Tércio, seu amanuense (Rm 16.22), por volta de 56, 57 d.C., quando o apóstolo estava em Corinto. Schreiner lista três possibilidades quanto à liberdade dada por Paulo ao escriba: (1) Paulo listou os temas, enquanto Tércio escreveu mais livremente, sobre a instrução de Paulo. Assim, aspectos gerais da carta seriam atribuídos a Paulo, enquanto características específicas seriam atribuídas a Tércio; (2) Tércio escreveu rápida e abreviadamente as palavras de Paulo e depois as redigiu por completo e de uma forma mais usual; (3) Paulo ditou cada palavra e Tércio as escreveu exatamente como as ouviu.

O texto desta surpreendente epístola nos apresenta, de forma progressiva, a compreensão que seu autor tem da expressão de Habacuque 2:4: “O justo viverá pela sua fé”. Apresentando de outra forma esta expressão-chave, redigi-la-íamos, de forma livre, assim: “aquele que pela fé é justificado, terá vida eterna”. A Bíblia na Linguagem de Hoje fornece a seguinte tradução: “Viverá aquele que, por meio da fé, é aceito por Deus”.

A carta de Paulo aos Romanos, como um todo, pode ser dividida nas duas partes: uma parte doutrinária (capítulos 1 a 11) e outra prática (capítulos 12 a 16). Dentro da parte doutrinária, Paulo desenvolve de forma soberba seu tema introdutório, deixando para a parte prática recomendações de santidade. Essa primeira parte, divide-a ele em dois segmentos. O primeiro, trata da iniciativa de Deus em relação à redenção humana (“aquele que pela fé é justificado)”, onde desenvolve os temas da justiça de Deus em condenar o pecador, da indesculpabilidade humana, da justificação do pecador e da aceitabilidade do homem diante de Deus, através da fé. O segundo segmento, (“viverá”), fala da vida prometida aos justificados por Deus, incluindo aí as expectativas de Deus quanto à resposta humana à sua iniciativa de amor.

1) Algumas considerações de líderes no decorrer da história da Igreja:

“Não li mais nada, e não precisei de coisa alguma. Instantaneamente, ao terminar a sentença (Rm 13.13,14), uma clara luz inundou meu coração e todas as trevas da dúvida se desvaneceram.” Agostinho em 386 (Confissões VIII.29)

“Ansiava muito por compreender a Carta de Paulo aos Romanos, e nada me impedi o caminho, senão a expressão: a justiça de Deus”. (Luther’s Work, edição Weimar, vol 54)

“Esta carta fornece o sumário da doutrina Cristã.” Philip Melanchthon
Ao ler o prefácio do comentário que Lutero fez de Romanos, John Wesley afirmou: “Senti meu coração aquecer-se estranhamente. Senti que confiava em Cristo, somente em Cristo, para a minha salvação. Foi-me dada a certeza de que Ele tinha levado embora os meus pecados, sim, os meus. E me salvou da lei do pecado e da morte.”

“Ouvir a leitura, conforme faço continuamente, das epístolas do bem-aventurado Paulo...deleito-me no aprendizado de sua trombeta espiritual, e o meu coração salta de alegria, e os meus anseios começam a vibrar, ao reconhecer aquela voz que me é tão clara, que me parece estar diante de mim, a imagem do orador, vendo-o discursar.” Crisóstomo, no preâmbulo de suas homilias sobre a epístola aos Romanos.

2) Principais temas em Romanos
A justificação de Deus (Rm 1.17; 3.3; 4.25)
A bondade de Deus (Rm 2.4; 5.8; 8.31-39; 9.15; 10.21; 11.22, 35; 15.3,5
A Soberania de Deus (9.11)
A Graça de Deus (3.24-25; 6.1
A Lei de Deus (7.22; 8.1-17)

3) Lutero e a Epístola aos Romanos

Impossível negar que a experiência de Paulo não era parecida a de Lutero. Paulo julgava que estava certo em busca da sua vida impecável diante dos preceitos que ali rodeavam “quando ao zelo perseguia a igreja, quanto à justiça que há na lei, eu era irrepreensível”. Mais diante deixou claro que não foi convertido mediante este cumprimento fervoroso mas “a ser achado nele, não tendo por minha justiça que procede da lei, mas sim a que procede da fé em Cristo, a saber, a justiça que vem  de Deus pela fé”.  E Lutero se achava impecável em seus esforços de cumprir na íntegra toda exigência monástica, contudo consciente de que diante de Deus nada era. A genuína conversão de Lutero se deu quando começou ensinar disciplinas relacionadas às Escrituras. Em 1515 iniciou a lecionar sobre  carta de Paulo aos Romanos, onde a sua alma foi consumida pelas palavras de Paulo.


Lutero podia explicar como se achava diante dos homens “Minha situação era que, apesar de ser um monge impecável, eu me punha diante de Deus como um pecador perturbado por minha consciência e não tinha confiança de que meus méritos poderiam satisfazê-lo”. Entretanto, consciente da limitação dos méritos humanos perante o Todo Criador, lhe fez voltar meditar na Bíblia, particularmente na Epístola aos Romanos, com vista de conseguir uma resposta sólida na qual pudesse acalmar duma vez para toda  a sua alma: 
“Noite e dia eu ponderava, até que via conexão entre a justiça de Deus e a afirmação de que ‘o justo viverá pela sua fé’. Então, entendi que a justiça de Deus é a retidão pela qual a graça e a absoluta misericórdia de Deus nos justificam pela fé. Em razão desta descoberta, senti que renascera e entrara pelas portas abertas do paraíso. Toda Escritura passou a ter um novo significado [...] esta passagem de Paulo tornou-se  para mim, o portão para o Céu.” Lutero

Quando Lutero descobriu a justiça de Deus em Rm 1.17 “o justo viverá pela sua fé”, foi ali que o monge lançou de fora todas as suas vestiduras das obras meritórias e rendendo assim a graça salvadora mediante a fé somente em Jesus Cristo.

4) Orientação Pedagógica

Aprendizado conjunto
Paulo Freire criticava a ideia de que ensinar é transmitir saber porque para ele a missão do professor era possibilitar a criação ou a produção de conhecimentos. Mas ele não comungava da concepção de que o aluno precisa apenas de que lhe sejam facilitadas as condições para o auto-aprendizado. Freire previa para o professor um papel diretivo e informativo – portanto, ele não pode renunciar a exercer autoridade. Segundo o pensador pernambucano, o profissional de educação deve levar os alunos a conhecer conteúdos, mas não como verdade absoluta. Freire dizia que ninguém ensina nada a ninguém, mas as pessoas também não aprendem sozinhas. "Os homens se educam entre si mediados pelo mundo", escreveu. Isso implica um princípio fundamental para Freire: o de que o aluno, alfabetizado ou não, chega à escola levando uma cultura que não é melhor nem pior do que a do professor. Em sala de aula, os dois lados aprenderão juntos, um com o outro – e para isso é necessário que as relações sejam afetivas e democráticas, garantindo a todos a possibilidade de se expressar. "Uma das grandes inovações da pedagogia freireana é considerar que o sujeito da criação cultural não é individual, mas coletivo", diz José Eustáquio Romão, diretor do Instituto Paulo Freire, em São Paulo.


Conclusão
“Esta Epístola é realmente a parte principal do Novo Testamento e o mais puro Evangelho, sendo digna não apenas que todo cristão a conheça, de coração, palavra por palavra, mas que se ocupem diariamente com ela, como o puro pão diário da alma. Seu conteúdo jamais pode ser esgotado, e quanto mais nos dedicamos ao seu estudo, mais preciosa se torna, e mais saborosa fica.” Lutero

Bibliografia
Comentário Bíblico Beacon. CPAD
Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. R.N. Champlin. Hagnos
Graça. Max Lucado. Thomas Nelson Brasil
Justiça e Graça. Natalino das Neves. CPAD
Maravilhosa Graça. José Gonçalves. CPAD
Verdadeiro Evangelho. Paul Washer. Fiel



Pr. Manoel Flausino
Diretor de Ensino e Superintendente de Escola Dominica, escritor, formado em Teologia, Pedagogia e especialista em Psicopedagogia e Gestão de Pessoas, dirigente da Congregação Fonte das Águas MDV.

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