07/04/2017

Lição 2 - Abel, Exemplo de Caráter que Agrada a Deus



INTRODUÇÃO
Nesta lição analisaremos a definição da palavra caráter; estudaremos a pessoa de Caim e Abel como dois tipos de adoradores opostos; pontuaremos Abel como um grande exemplo de um verdadeiro adorador, e por fim, comentaremos sobre quais as lições que Abel nos deixou com sua vida piedosa e obediente.

I – DEFINIÇÃO DA PALAVRA CARÁTER

1.1 Definição da palavra caráter. Segundo o dicionário Aurélio caráter é: “formação moral; honestidade, caracterização do próprio sujeito; índole, humor, temperamento, traço distintivo; conjunto de características que, sendo boas ou más, distinguem uma pessoa, um povo”. O caráter refere-se ao aspecto fisiológico ou morfológico usado para diferenciar os seres em diferentes espécies ou numa mesma espécie. Reunião de caracteres psicológicos comuns que compõem um indivíduo ou um grupo de pessoas (FERREIRA, 2004, p. 402).

II – CAIM E ABEL: DOIS TIPOS DE ADORADORES
Caim e Abel foram as primeiras crianças citadas na Bíblia (Gn 4.1-2). Como irmãos, foram criados por seus pais, Adão e Eva, recebendo os mesmos ensinamentos e educação. A principal diferença entre os dois é que Abel agradou a Deus, mas Caim não. Com os ensinos ministrados pelos pais, tanto Caim como Abel, sabiam a vontade de Deus, de como agradá-lo; apenas Abel obedeceu. O autor da epístola aos Hebreus dá-nos uma explicação inspirada da diferença entre as duas ofertas: “Pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim […] dando Deus testemunho dos seus dons” (Hb 11.4). Esta explicação centraliza-se sobre a diferença do espírito manifestado pelos dois irmãos. Notemos:

2.1 Abel um adorador com intenções certas, e motivações certas (Hb 11.4). Pelas aparências, ambas as ofertas, a de Abel e Caim, expressavam ação de graças e devoção a Deus. Mas, o que parece é que Caim tinha falta de fé genuína no seu coração e por isso não podia agradar a Deus, embora sua oferta material fosse aceitável. Deus não se agradou de Caim porque olhara para ele e vira o que havia no seu coração. Todavia, Abel veio a Deus com a atitude certa de um coração disposto a adorar, logo “o sacrifício de Caim foi inferior porque a motivação deste não era boa, e a de Abel sim”.

2.2 Caim um adorador com intenções certas, mas motivações erradas (Gn 4.3,4). É provável que Caim só refletiu superficialmente na sua oferta e a apresentou por mera formalidade, mas Deus não aprova a simples adoração formal.
Caim havia desenvolvido uma péssima atitude de adorador, o Senhor discerniu que ele tinha motivações erradas. A palavra motivação alude a intenção, propósito ou objetivo com que fazemos as coisas. Jesus exortou seus seguidores a não fazerem as coisas certas com motivações erradas (Mt 6.2,5,16). Caim e Abel trouxeram ofertas ao Senhor, todavia, enquanto a motivação de Abel era boa, a motivação de Caim não era (Gn 4.7). Sob a análise divina a oferta tem valor secundário, enquanto que o ofertante tem valor primário (Is 1.11-17; Mq 6.6-8; Ml 1.6-14; Lc 21.1-4; 18.10-14). A diferença entre a oferta de Caim e de Abel não era o produto em si, mas o modo como foram apresentadas.

III – CAIM: UM MAL EXEMPLO DE ADORADOR

3.1 Antes de atentar para a oferta, Deus atenta para o ofertante (Gn 4.3-5). Fica claro que Deus atenta primeiramente para o homem e depois para a oferta. Nada que possamos oferecer a Deus pode comprá-lo. Ele não receberá uma oferta de procedência duvidosa (Dt 23.18), nem aquela dada como se fosse uma obrigação incômoda (2Co 9.7). A visão de Deus se uma oferta é correta ou não, está mais ligada ao coração daquele que ofertou do que com a oferta em si. Observe que Deus se agradou “de Abel e de sua oferta”. Primeiro o Senhor olhou para o coração de Abel, e depois observou que sua oferta era adequada. Da mesma forma Deus não se agradou “de Caim e de sua oferta”. A atitude de Caim após a rejeição de sua oferta mostrou o que de verdade ele tinha em seu coração: “Não como Caim, que era do maligno e matou a seu irmão. E por que causa o matou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas.” (1Jo 3.12).
 
3.2 Abel ofereceu a Deus o melhor que tinha, enquanto Caim não (Jd 11-a). Caim não foi rejeitado por causa da oferta que escolheu, mas sua oferta foi rejeitada por causa de Caim, pois seu coração não estava em ordem com Deus. A Bíblia nos mostra que Deus observa o coração do ofertante (Is 1.11-20; Mt 5.23-26). Muitos anos depois, a lei de Moisés prescreveu a oferta de grãos e de frutas (Lv 2; Dt 26:1-11), de modo que não temos motivos para acreditar que tais ofertas (de cereais) não eram aceitáveis desde o princípio. Contudo, mesmo que Caim tivesse sacrificado animais e derramado o sangue deles, não teriam sido aceitáveis para Deus por causa da disposição do coração de Caim. Abel trouxe o que tinha de melhor e procurou verdadeiramente agradar a Deus; Caim, porém, não teve essa atitude de fé (1Sm 15.22; Is 1.11-13; Os 6.6; Mq 6.6-8; Mc 12.28-34, 41-44)” (WIERSBE, 2010, p. 43).

3.3 Caim jamais experimentou um relacionamento verdadeiro com o Senhor. Sem um coração submisso, nem mesmo as mais preciosas ofertas podem tornar o adorador aceitável diante de Deus (Sl 51.16, 17; 2Tm 3.5). O Senhor usando o profeta Isaías disse: “Este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim” (ls 29.1 3; Mt 15.8). O caminho de Caim é o caminho da vontade própria e da incredulidade (Jd 11) (WIERSBE, 2010, p. 44). Caim representa a humanidade caída, pecadora e fugitiva da presença de Deus: “E saiu Caim de diante da face do Senhor […]” (Gn 4.16). O rei Salomão disse: “O sacrifício dos ímpios é abominação; quanto mais oferecendo-o com intenção maligna!” (Pv 21.27). Somente quando são oferecidos com fé, os sacrifícios e o serviço dos homens agradam a Deus (Is 1.11-17; Ml 1.6-14).

3.4 Caim foi o agricultor que sabia cuidar da terra mas não do seu espírito (Gn 4.2). Caim aprendeu com o seu pai Adão, a arte da agricultura e certamente foi um bom lavrador da terra, porém não adiantava ser um bom lavrador da terra se o seu coração era voltado para o mal. Caim foi recebido em seu lar como uma bênção de Deus (Gn 4.1), e assim poderia ter sido se tivesse buscado servi-lo. Ele se afastou de Deus, e, por conseguinte, todos os seus descendentes caíram em desgraça, por isso foram destruídos no dilúvio (Gn 6.13). Judas nos exorta que evitemos nos apartar do Deus vivo, pois este caminho conduz, inevitavelmente, à destruição (Jd 11-13). Apesar das honras que lhe conferiam a primogenitura, Caim deixou-se dominar por uma inveja tola e injustificável. Como primeiro filho de Adão, cabia-lhe, entre outras coisas, a herança messiânica se tivesse permanecido fiel, estaria hoje entre os ancestrais de Cristo.

IV – ABEL: EXEMPLO DE UM VERDADEIRO ADORADOR
Abel pode ser um derivado do vocábulo hebraico que significa: “sopro, fôlego, vapor, respiração”, possivelmente para prefigurar assim que sua vida seria curta (GARDNER, 1999, p. 11 – acréscimo nosso). Abel é lembrado nas Escrituras como um homem de fé, um homem de Deus, alguém de destaque (Hb 11.4). Embora saibamos muito pouco dele, o pouco que nos é revelado é suficiente para nos mostrar alguém especial e agradável aos olhos de Deus (Gn 4.2-9; Mt 23.35; Lc 11.51; Hb 11.4, 12.24). Diante disso, comentaristas tem afirmado que Abel é, sem dúvidas, um exemplo para os cristãos em todos os tempos.

4.1 Abel: um exemplo de verdadeiro adorador. O termo “primícias” no AT é usado correspondentemente em relação a produtos da terra (Gn 49.3; Êx 23.16,19; 34.22, 26; Lv 2.12, 4; 23.10,17,20; Nm 15.20,21; Dt 18.4, 21.17) da mesma forma como os “primogênitos” eram os mais preciosos entre os animais, as “primícias” o eram entre os cereais. A ausência do termo primícias em relação a oferta de Caim mostra que a sua oferta foi de pouca qualidade em contraste com o melhor que Abel havia trazido, Caim simplesmente trouxe a Deus algo sem importância. Ao ofertar, Caim trouxe uma oferta “comum” para Deus, e quando Abel traz sua oferta, a Bíblia faz questão em explicitar que não se tratava de uma oferta comum, mas dos primogênitos, ou seja, os primeiros animais nascidos. Enquanto a oferta de Abel foi com fé e zelo, a de Caim foi sem compromisso e desprezo (BROADMAN, 1987, p. 187).

4.2 Abel: um exemplo de adorador com caráter. O crente verdadeiro e o não verdadeiro são diferenciados por suas atitudes básicas em relação a Deus. Embora as Escrituras não contenham nem uma única palavra proferida por Abel, ele “ainda fala” por intermédio de seu caráter exemplar (Hb 11.4). Seu sangue, que “clamava a Deus desde o solo”, não foi esquecido (Gn 4.10; Lc 11.48-51). Jesus fala do caráter de Abel em Mateus 23.34-35, e com esses dois versos aprendemos três lições: a) Que Jesus reputava a Abel como um profeta: “eis que eu vos envio profetas…”; b) Que Jesus reputava a Abel como um mártir: “…o sangue justo derramado sobre a terra”; e c) Que Jesus reputava Abel como Justo: “… desde o sangue do justo Abel até ao sangue de Zacarias”. Duas vezes Jesus usa o termo “justo” do grego “dikaiós” para descrever a Abel, uma vez em referência a seu sangue e outro em relação a sua pessoa.

4.3 Abel: um exemplo de adorador que tinha uma visão de Deus. Abel não viveu uma vida-longa, mas uma vida que se prolonga até hoje. Foi o primeiro a ser assassinado, e o foi exatamente por causa da visão que tinha de adorador. Caim e Abel ambos haviam recebido a vida, saúde e condições de trabalhar. Ambos foram abençoados em seu trabalho, ambos criam em Deus, mas a visão de adorador foi diferente. A oferta de Abel era uma oferta das suas primícias. O termo hebraico “bekowrah” é usado poucas vezes no AT, e normalmente significa primogênito (Gn 43.33), ou até mesmo primogenitura (Gn 25.31). A ideia que se tem desse texto é que Abel trouxe o que tinha de melhor. Caim por sua vez lembrou-se do culto, mas não preocupou-se em dar o melhor, pegou qualquer coisa dos produtos da terra e ofertou ao Senhor (Gn 4.3-5).

CONCLUSÃO
Concluímos que o pecado de Adão e Eva não causou infortúnio apenas para suas vidas, mas passou de pai para filho, de geração para geração. Somos advertidos pelo mau exemplo de Caim, a não trilharmos o seu caminho de impiedade, nem imitarmos as suas obras injustas, mas vivermos uma vida de caráter que agrade a Deus como fez Abel.

REFERÊNCIAS
CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. HAGNOS.
GARDNER, Paul. Quem é quem na Bíblia Sagrada. VIDA.
RADMACHER, Earl D. Et al. O Novo Comentário Bíblico: AT. CENTRAL GOSPEL.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
WIERSBE, Warren W. Comentario Biblico Espositivo do Antigo Testamento. PDF
Publicado no Portal da Rede Brasil de Comunicação

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