27/03/2017

Lição 1 - O caráter Cristão



Introdução

Vivemos em uma época em que os valores estão sendo invertidos e, às vezes, descartados cotidianamente. 

O mundo tenta impor, através de diversas maneiras, formas e meios, que Deus, a família, a igreja, o bom caráter e a moral não são relevantes ou necessários. Nesta sociedade relativista, o valor absoluto das coisas se perdeu, e cada qual cria seu próprio mundo, sua própria cosmovisão. Desta forma, os valores que o cristianismo apregoa são considerados por muitos como falidos e ultrapassados.

Por isso tudo e por tantos outros motivos, nós cristãos, precisamos deixar que o Espírito Santo molde nosso caráter, para que possamos refletir o Fruto do Espírito e os atributos comunicáveis de Deus.

I - O caráter cristão – formação, influências e virtudes
Segundo o Dicionário Aurélio, caráter é definido por: “qualidade inerente a uma pessoa, animal ou coisa; o que os distingue de outra pessoa, animal ou coisa; o conjunto dos traços particulares, o modo de ser de um indivíduo, ou de um grupo; índole, natureza, temperamento”.

O significado literal do termo grego charaktēr é “estampa”, “impressão”, “gravação”, “sinal”, “marca” ou “reprodução exata”.

Caráter é algo que vai sendo formado e impresso com o tempo em nosso interior, uma verdadeira marca. O caráter de cada qual não é formado do dia para noite. É um processo.
Assim como o caráter de cada indivíduo é formado desde o berço, nosso caráter cristão também passa a ser moldado desde o primeiro passo de nossa caminhada com Cristo (Jo 1.12; 3.3). Os valores do Reino de Deus passam a ser impressos em nós, para que verdadeiramente possamos ser seguidores de Jesus Cristo genuinamente.

Deus usa de muitos meios e formas para que o caráter de seus filhos seja formado, mas sem dúvida alguma, o principal fator de influência é o agir da Palavra dEle na vida de cada um, bem como o consolo e direção que o Espírito Santo dá aos Seus (Ef 1.13). Afinal, o que pode ser considerado como um caráter cristão? Podemos relacionar alguns pontos, que evidentemente, não serão os únicos:

a) Não se trata apenas de bons valores morais | Apesar do cristianismo carregar implicitamente um forte viés moral – pois a Bíblia nos dá parâmetros morais – o caráter cristão não está repousando apenas sobre o fato de ser “bom”. A boa moral está contida, mas de modo algum é o todo. Cada um de nós pode dar exemplos de pessoas que confessam ser cristãs, mas que não são bons exemplos de conduta digna, bem como pessoas não-cristãs que são cidadãos de bem.

b) O cristão genuinamente bíblico admite suas falhas | Cada um de nós, sem exceção, é um pecador (Rm 3.23). Todos temos o pecado dentro de nós, e isso produz limitações e consequentemente falhas. A virtude do cristão de caráter é ser transparente, é ter dignidade suficiente para admitir que é limitado e que depende completamente da misericórdia e graça do Senhor.

c) O caráter moldado cria controle | Quando nosso caráter entra em fase de maturidade, conseguiremos controlar situações que de algum modo podem manchar a marca de Jesus em nós, afetando nosso testemunho cristão. Neste ponto de plenitude, não haverá espaço para amargura, ira, discórdia, egoísmo, arrogância, discussões, facções. Apesar de – eventualmente – tais coisas ocorrerem, precisam ser enfrentadas e enfraquecidas. Nosso ser por completo, mente, atitude, palavras, precisa ser um meio de culto e adoração permanente (Mc 12.30; Gl 5.22).
Com tal caráter formado em nós, passaremos a frutificar em atitudes que atestam que somos de Deus e temos Sua Palavra em nossas vidas. Passamos a frutificar em virtudes, como: 
Pureza | vida separada – santificação – para o Senhor. Uma vida distinta num mundo corrupto (Fp 4.8).
Imparcialidade | trataremos a todos – seja quem for – de modo único, sem acepção de pessoas. Seremos justos com as pessoas, independente de afinidade, sejam amigos, parentes, irmãos, parceiros de caminhada (1Ts 5.15).
Sem fingimento | é prezar pela verdade. Não existe espaço para máscaras e ânimo duplo (1Pe 2.1; Tg 4.8).
Humildade | ninguém é auto-suficiente. Vaidade e soberba não devem encontrar espaço no coração do cristão; tais coisas devem ser banidas de nosso meio! Somos um corpo e dependemos uns dos outros (Mt 5.3).
Mansidão | serenidade. Ser manso, não permitindo que disputas e discórdias tomem conta. Gentil, sensível e paciente com todos (Mt 5.5).
Misericórdia | compaixão pela dor, “pela miséria do coração” alheio. Entender que nosso próximo pode passar por lutas, dores, infelicidades extremas. Experimentar e participar do sofrimento alheio (Mt 5.7)
Coração puro | ser livre de impurezas no altar – no coração. Relacionamento constante com Deus e com a Sua presença, nos limpando genuinamente daquilo que nos separa dEle (Mt 5.8).

II O modelo supremo de caráter – fonte de inspiração

Nosso modelo supremo de formação de caráter é nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo! Ele deve ser nosso alvo, razão, adoração, modelo, tudo! Afirmar que somos cristãos é carregar nos ombros a responsabilidade de sermos seguidores e praticantes dos ensinos do Mestre.
Ter um modelo é fundamental na formação do caráter, e para formação do caráter cristão, o modelo do Senhor nos leva a amá-Lo, admirá-Lo, imitá-Lo, segui-Lo. Ele nos faz, dia-a-dia ver que podemos aplicar, viver e frutificar em tudo que vimos acima.

– Conhecer o Filho de Deus | Buscar estar em pura intimidade com o mestre e o auxílio do Consolador (Ef 4.13; Jo 15.5; 26-27; 1Jo 1.1-3). O testemunho da Palavra e do Espírito Santo nos levam a conhecer e ter intimidade com Ele.
– Submeter-se ao senhorio de Jesus | Rm 10.8-9 – estar submetido completamente ao governo e autoridade de Cristo sobre nós. Não basta reconhecer e ter Jesus como Salvador, mas sim estar submisso a Seu senhorio.
– Obediência irrestrita | A época em que vivemos tem ressaltado cada vez mais que o ser humano vive em rebeldia contra Deus e Sua Palavra. Jesus nos mostrou que a obediência ao Pai deve ser praticada (Fp 2.8).
– Negar a si mesmo | Matar nossa carne e viver para ele; o negar a si mesmo é um verdadeiro atestado de compromisso com o Reino. Jesus serviu e não foi servido. Adoramos ao Senhor de modo especial quando estamos negando ao nosso ego e mortificando nossa vontade, deixando que Ele viva em nós (Gl 2.20).

III O caráter e o Temperamento

Teoricamente Hipócrates (460 – 370 a.C), conhecido como pai da medicina, se interessou em estudar as diferenças de temperamentos das pessoas e apresentou tais diferenças.  De acordo com Hipócrates o temperamento depende dos “humores” do corpo: sangue, bílis preta, bílis amarela e fleuma. Hipócrates a partir de observações finalmente formulou uma teoria que explica essas diferenças. A teoria de Hipócrates era bioquímica e essa substancia desapareceu, ficando apenas a sua forma, hoje falamos em hormônios e não em humores.

Emmanuel Kant foi quem mais influenciou na divulgação da ideia de quatro temperamentos na Europa. Isso foi feito de forma incompleta, mas foi bem interessante: A pessoa sanguínea é alegre e esperançosa; é bem-intencionada, porém não consegues cumprir com seus compromissos. O sanguíneo é um mau devedor pede sempre mais prazo para efetuar seus pagamentos, é muito sociável e brincalhão, contenta se facilmente, não leva as coisas muito sérias, e vive rodeado de amigos. Ele não é mau, mas vive em dificuldades de deixar de cometer seus pecados, ele se arrepende, mas logo se esquece de tudo. O sanguíneo é instável, porem persistente.

Quanto ao melancólico descobrem que em tudo há uma razão para a ansiedade e em qualquer circunstância a primeira coisa que lhes vem à mente é a dificuldade. São contrários aos sanguíneos não fazem promessas com facilidades, uma das suas insistências é o cumprimento da palavra, primeiro fazem analise se podem cumprir com o que vai falar e depois falam. Não agem assim por uma ordem moral, mas pelo fato de viver preocupado demasiadamente com os outros, e isso o faz cauteloso e desconfiado. Estão sempre infelizes.

Já os coléricos são cabeças quentes, se agitam com facilidade, mas se acalma assim que o adversário é vencido. A reação do colérico é instantânea, ele se aborrece, mas logo passa, ele é persistente, não desiste nunca, vive sempre ocupado, embora não goste disso, não sabe receber ordens, prefere ser o chefe e gosta de elogios públicos ao seu respeito. Gosta muito de valorizar as aparências, da formalidade, é orgulhoso e cheio de amor próprio, avarento, polido e cerimonioso; o que mais lhe aborrece é quando alguém desacata as suas ordens. Esse temperamento é o mais infeliz, pois é o que mais atrai a oposição.

O fleumático não é preguiçoso, mas desmotivado, não se emociona com facilidade e nem se move com facilidade, em tudo há moderação e persistência. Ele se aquece com mais lentidão, mas retém por mais tempo o calor humano. Age por princípio e não por instinto; aparentemente ele parece estar cedendo quando na verdade está conseguindo o que quer, por ser persistente em seus objetivos é astucioso.
Com o surgimento da psicologia esses temperamentos receberam impulsos que tendem a melhorar os nossos conhecimentos sobre o assunto.
Ao aceitar a Cristo como Salvador e Senhor, o ser humano passa a ser uma nova criatura, o apóstolo Pedro negou a Jesus pela sua inconstância, mas como pode um sanguíneo como ele se tronar constante?  Pedro se tornou corajoso e cheio de fé, dormia em uma prisão sabendo que seria morto, somente Deus pode mudar uma pessoa com temperamento impulsivo dando lhe calma, um homem controlado (At 4.19,20), estranho num sanguíneo. Com tudo vemos um Pedro humilde, amoroso e com maturidade.

Ao ver  Paulo falando em paz, mansidão, amabilidade ou bondade, dá para imaginar um colérico, cabeça dura, obstinado, falar em bondade ou agradecendo seus cooperadores pelos serviços prestados? Um melancólico a busca de perfeição que nunca se contenta com nada? Geralmente eles desistem quando não conseguem e Moises faz exatamente o contrário? O fleumático Abraão ser considerado o pai na fé, quando na verdade eles já se parecem crentes? O Espírito Santo com seu poder transformador transforma o caráter doentio, a insensibilidade moral no que concerne aos princípios e valores morais, onde até alguns denominados evangélicos estão corrompidos em suas naturezas e consciências cauterizadas entristecendo a Deus o Criador. Observemos os limites da Palavra de Deus e vivamos de modo digno da fé que professamos. Sem que a permissividade, a mentira, a malicia, a concupiscências, a cobiça, a ambição e outras coisa semelhantes encontrem em nós guarida.

CONCLUSÃO
“Só o poder do evangelho de Cristo é capaz de transformar e aperfeiçoar o caráter humano”. Que sejamos humildes e obedientes à Palavra de Deus, para que alcancemos os propósitos do Senhor em nossas vidas.


Referências Bibliográficas 

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal
Bíblia de Estudo do Expositor
Bíblia de Estudo Pentecostal
Comentário Bíblico Beacon. CPAD
Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. R.N. Champlin. Hagnos
O poder e a mensagem do Evangelho. Paul Washer. Fiel
Um verdadeiro Arrependimento. Manoel Flausino. Inteligência Editorial
Revista Ensinador Cristão. CPAD
Verdadeiro Evangelho. Paul Washer. Fiel

Pr. Manoel Flausino
Diretor de Ensino e Superintendente de Escola Dominical, escritor, formado em Teologia, Pedagogia e especialista em Psicopedagogia e Gestão de Pessoas, dirigente da Congregação Fonte das Águas MDV.
Contatos para palestras, congressos, mensagens:
www.manoelflausino.com.br
(21) 99439-0392 (claro)

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