10/09/2010

Lição 11 - O Dom Ministerial de Profeta e o Dom de Profecia

INTRODUÇÃO

Existe uma razoável diferença entre o dom ministerial e o dom de profecia. Em que pese ambos serem enviados por Deus e de estrema utilidade para a igreja, o primeiro(o dom ministerial), tratado em 1Co 12:28 e Ef 4:11, é concedido a crentes com chamada específica, com finalidade de trazer maturidade espiritual ao povo de Deus e prepará-lo convenientemente para o exercício das tarefas cometidas pelo Senhor a cada um dos membros do “Corpo de Cristo”; ao passo que o segundo(o dom de profecia), tratado em 1Co 12:10, pode ser concedido a qualquer crente, de acordo com a vontade do Espírito Santo, com a finalidade de exortar, edificar e consolar o povo de Deus (1Co 14.3). O dom de profecia não pode ser considerado indicativo de santidade, pois o mesmo é concedido não por mérito, mas dado “a cada um para o que for útil”(1Co 12:7).

I. OS DONS MINISTERIAIS Esses dons são enumerados em Efésios 4:11 e 1Coríntios 12:28, 29, a saber: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores, doutores ou mestres. São os dons Ministeriais propriamente dito.

1. Distinção entre o colégio apostólico e o dom ministerial de apóstolo. É importante que façamos uma distinção entre os doze apóstolos de Cristo (Lc 6:12-16) e o apóstolo como dom ministerial(Ef 4:11; 1Co 12:28).

a) O colégio apostólico. Em sentido especial, os doze apóstolos constituíram o início do alicerce da Igreja (cf Ef 2:20; 3:5; Mt 16:18; Ap 21:14). Tinham autoridade ímpar na igreja, no tocante à revelação divina e à mensagem original do evangelho, como ninguém mais até hoje (Ef 3:5). Daí, aquele grupo de apóstolos não ter sucessores. São “apóstolos do Cordeiro” num sentido único (Ap 21:14; 1Ts 2:6; Jd 17).

Mas outros além dos doze foram chamados para ser apóstolos; o mais conhecido é Paulo (Rm 1:1), o último dos apóstolos (1Co 15:8) no sentido de receber um mandato especial através de um encontro com o Senhor ressurreto para integrar a formação do testemunho inicial e fundamental de Jesus Cristo (cf At 9:3-8; 22:6-11; 26:12-18). Barnabé (At 14:14); Tiago, o irmão de Jesus (Gl 1:19); Silas e Timóteo(1Ts 1:1;2:6) também são chamados de apóstolos. Juntamente com os profetas do Novo Testamento, esses apóstolos lançaram, com seus ensinamentos acerca do Senhor Jesus Cristo, os alicerces doutrinários da Igreja (Ef 2:20).

2. Uma consideração acerca dos dons ministeriais. Devemos distinguir os dons ministeriais dos “títulos ministeriais” ou dos “cargos eclesiásticos”. Nos nossos dias, muitos têm confundido estas duas coisas, que são completamente diferentes. O dom é uma dádiva de Cristo, é um dom que vem diretamente do Senhor para o crente, dom este que é percebido pelo crente através da comunhão que tem com Deus e pela presença do Espírito Santo na sua vida e que independe de qualquer reconhecimento humano, mesmo da igreja local. Já os “títulos ministeriais” e os “cargos eclesiásticos”, são posições sociais criadas dentro das igrejas locais, posições estas que, em sua nomenclatura, muitas vezes estão baseadas na relação de Ef 4:11, como a indicar que o seu ocupante tem o referido dom ministerial, mas que, nem sempre, corresponde a este dom. Como a igreja local, via de regra, é também uma organização humana, acabam sendo criados “títulos” e “posições” com o propósito de esclarecer a hierarquia administrativa, a própria estrutura de governo da organização eclesiástica, dados que, se apenas refletem uma necessária ordem que deve existir em todo grupo social, nada tem que ver, a princípio, com os dons ministeriais.

Na igreja primitiva, notamos, claramente, que, apesar da existência de uma organização da administração das igrejas locais (At.14:23), o que é necessário já que cada igreja local precisa ter governo, também não é menos notado que não havia muita preocupação com “títulos” ou “posições”, tanto que, no texto sagrado, os incumbidos do governo da igreja, com exceção dos apóstolos (estes próprios assim estabelecidos pelo próprio Jesus, cujos requisitos se encontram em At.1:21,22) e dos diáconos (At.6:5,6, cuja função é nitidamente administrativa e social), são chamados de vários nomes, indistintamente, como “presbíteros” (1Pe.5:1), “anciãos” (At.14:23) e “bispos” (At.20:28; Fp.1:1), prova de que não havia, àquela época, uma “carreira administrativo-eclesiástica”, como se tem hoje em dia.

a) Apóstolos – “ ele mesmo deu uns para apóstolos…” (Ef 4:11). Em Efésios 4:11 o termo apóstolo (cujo significado é “enviado”) se refere a um mensageiro nomeado e enviado como missionário ou para alguma outra responsabilidade especial. São homens de reconhecida e destacada liderança espiritual, ungidos com poder para defrontar-se com os poderes das trevas e confirmar o Evangelho com milagres. Cuidam do estabelecimento de igrejas segundo a verdade e pureza apostólicas. São servos itinerantes que arriscam suas vidas em favor do nome de nosso Senhor Jesus Cristo e da propagação do evangelho. São homens de fé e de oração, cheios do Espírito.

b) Evangelistas – “…outros para evangelistas…”(Ef 4:11). O dom de Evangelista é imprescindível à Igreja. É o dom de ganhar almas para Cristo e de instruí-las nas doutrinas fundamentais da vida espiritual (Hb 6:1,2), a fim de que, superada a fase inicial, possam prosseguir por conta própria na caminhada para o céu. É o anunciador das boas-novas da salvação, aquele que está na linha de frente do “ide” de Jesus. Eles têm habilidade especial para diagnosticar a condição do pecador, sondar sua consciência, responder a objeções, encorajar a decisão por Cristo e ajudar o convertido a encontrar segurança na Palavra de Deus (2Tm 4:5).

c) Pastores e doutores (ou mestres) – “… e outros para pastores e doutores”(Ef 4:11).

* Pastores são homens que servem debaixo da autoridade do “Supremo Pastor” cuidando das “ovelhas” do Cristo. Guiam e alimentam o rebanho. O seu ministério é o de sábio conselho, correção, encorajamento e consolo.

* Doutores (ou Mestres) são homens que receberam poder de Deus para explicar o que a Bíblia diz, interpretar o sentido da Palavra e aplicá-la ao coração e à consciência dos santos. Enquanto um evangelista pode pregar o evangelho usando um texto sem prestar atenção ao contexto, o mestre procura mostrar como a passagem se harmoniza com o contexto.

Há quem pense que os dois termos (Pastores e Mestres) se referem a um só dom, devendo ser traduzido “pastores-mestres” já que as palavras “pastores e mestres” estão unidas nesse versículo. Porém, não é necessariamente assim, pois um homem pode ter o dom de ensinar sem ter o coração de pastor. E um pastor pode ser hábil na Palavra de Deus sem ter o dom de ensinar. Se pastores e mestres são as mesmas pessoas em Efésios 4:11, então, pela mesma regra gramatical, apóstolos e profetas também são em Efésios 2:20 e 3:5. Devemos ter cuidado em distinguir entre dons divinos(espirituais ou ministeriais) e habilidades naturais. Nenhuma pessoa que não seja convertida, mesmo que tenha muita habilidade, pode ser evangelista, pastor ou mestre no sentido do Novo Testamento. Aliás, nem mesmo um cristão poderia sem receber um dom especial. Os dons do Espírito são sobrenaturais; capacitam o homem a fazer o que de outra forma seria humanamente impossível.

3. Objetivo dos dons ministeriais. Na visão do apóstolo Paulo, os dons ministeriais são dádivas concedidas por Cristo para “o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não mais sejamos como meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente”(Ef 4:12-14).

Não se trata de operações episódicas, de demonstrações esporádicas e temporalmente limitadas, com vistas a um consolo, uma exortação, o suprimento de uma necessidade ou uma instantânea manifestação do poder de Deus para a igreja, mas de uma atividade contínua, no meio do povo de Deus, para que a igreja cumpra com suas tarefas neste mundo, quais sejam, a evangelização e o aperfeiçoamento dos salvos. Através dos dons ministeriais, Cristo concede à Igreja homens que, diuturnamente, estarão servindo ao corpo de Cristo, que serão, eles mesmos, verdadeiros dons para a igreja.

Em resumo, os dons ministeriais são dados para aperfeiçoar ou equipar todos os crentes a fim de poderem servir ao Senhor e então edificarem o “corpo de Cristo”. O processo é assim: (a) Os dons equipam os santos; (b) Os santos então servem; (c) O corpo enfim é edificado.

Conforme versículo 14, quando os dons operam de acordo com a vontade de Deus e os santos são ativos no serviço do Senhor, três perigos são evitados: imaturidade (Hb 5:12); Instabilidade; e Ingenuidade

II. “OUTROS PARA PROFETAS” (Ef 4.11a).

1. A distinção entre “apóstolo-profeta” e “profeta”. O emprego do termo profeta em Efésios 4:11 apresenta sentido distinto daquele encontrado nos textos de Efésios 2:20 e 3:5. Efésios 2.20: “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina”. Efésios 3.5: “o qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora, tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas”. Efésios 4.11: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas…”.

a) “Apóstolo-profeta”. Em Efésios 2:20 e 3:5 trata-se de um mesmo grupo: os “apóstolos-profetas”. De forma alguma o texto faz referência aos profetas do Antigo Testamento porque esses nada sabiam acerca da Igreja. Isso não quer dizer que os “apóstolos-profetas” eram o fundamento da igreja. Cristo é o fundamento da Igreja(1Co 3:11). Porém, eles foram os que lançaram o fundamento através das doutrinas que ensinaram sobre a pessoa e obra do Senhor Jesus. A igreja é fundada sobre Cristo no sentido de que Ele foi revelado através do testemunho e dos ensinamentos dos “apóstolos – profetas”. Quando Pedro confessou Jesus como Cristo, o Filho do Deus vivo, Jesus anunciou que a sua igreja seria edificada sobre esta Pedra, a saber, sobre a Verdade sólida de que Jesus era o ungido de Deus e o seu Filho Único (Mt 16:18).

Em Apocalipse 21:14 os apóstolos de Cristo são associados aos doze fundamentos da Santa Jerusalém. Eles não são o fundamento, mas são ligados a ele por terem ensinado a grande verdade sobre Cristo e sua igreja. O fundamento de qualquer edifício precisa ser lançado uma vez só. Os “apóstolos-profetas” fizeram essa obra de uma vez por todas. O fundamento que lançaram é preservado nas Escrituras do Novo Testamento.

b) “Profeta”. Em Efésios 4.11 o apóstolo Paulo deixa claro que “apóstolos” e “profetas” referem-se a mensageiros usados pelo Espírito Santo que cooperavam na edificação da Igreja(At 13:1), dedicando-se ao ensino e à interpretação da Palavra de Deus. Em todas as épocas tem havido homens cujo ministério foi de natureza apostólica ou profética. Os missionários, os que plantam igrejas e os que ministram a palavra para edificação dos santos são profetas, porém, não são “profetas e apóstolos” no sentido primário.

2. As principais funções do profeta. Assim como no Antigo Testamento, a função instintiva do profeta do Novo Testamento é transmitir e interpretar a Palavra de Deus através do Espírito Santo, para admoestar, exortar, animar, consolar e edificar o povo de Deus (At 2.14-36; 3.12-26; 1Co 12.10; 14.3). Como eu disse na aula nº 10 é dever do profeta do Novo Testamento, assim como fora do Antigo Testamento, desmascarar o pecado, proclamar a justiça, advertir do juízo vindouro e combater o mundanismo e frieza espiritual entre o povo de Deus. Por causa da sua mensagem de justiça, o profeta pode esperar ser rejeitado por muitos nas igrejas, em tempos de mornidão e apostasia.

A obrigação profética da Igreja não é, em absoluto, a autorização para que, mediante uma “tradição”, acrescente o que foi revelado pelas Escrituras a respeito de Cristo (João 5:39), mas tão somente a divulgação, o anúncio, a explicação daquilo que está contido na Bíblia Sagrada, que é a Verdade (João17:17) e que se encontra em posição superior à própria Igreja, seja porque é fonte de sua santificação, seja porque a Palavra se encontra engrandecida acima do próprio nome do Senhor (Sl.138:2), nome que está acima de todo o nome (Fp.2:9), precisamente por ser Jesus o Verbo (João 1:1), aquele que é a própria Palavra de Deus (Ap.19:13). Por isso, quando não se conhecem as Escrituras, cometem-se erros (Mt.22:29).

III. O DOM DE PROFECIA(1Co 12:10)

1. O que é Profecia. A Profecia é um dom de manifestação sobrenatural de mensagem verbal pelo Espírito, para a edificação, exortação e consolação do povo de Deus (1Co 14.3). O maior valor da profecia é que ela, uma vez proferida, sendo de Deus, ao contrário das línguas estranhas(que edifica a própria pessoa), edifica a coletividade e não unicamente o que profetiza. A profecia é necessária para impedir a corrupção espiritual e moral do povo de Deus. Apresenta-se, assim, como uma verdadeira manifestação de alívio e de descanso ao crente que, revigorado pela profecia, tem alento para prosseguir na sua caminhada rumo ao céu.

2. Características. O dom de profecia, hoje, não tem a mesma autoridade canônica das Escrituras (2Pe 1.20), que são infalíveis e não passíveis de correção. A profecia atual deve ser julgada e que o profeta deve obedecer ao ensino bíblico (1Co 14.29-33). Pode acontecer que a pessoa que é detentora do dom de profecia receba a revelação do Espírito Santo e, por fraqueza, imaturidade e falta de temor de Deus, falar além do que devia. Portanto, “quem profetiza deve ter o cuidado de falar apenas o que o Espírito Santo mandar, não alegando estar ‘fora de si’ ou ‘descontrolado’, pois ‘os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas’ (1Co 14.32)”.

Nem todas as pessoas têm o dom de profecia. Em nossos dias, temos visto que os termos ”profecia“ e ”profetizar“ têm sido mal utilizados. Muitas pessoas falam de si mesmas palavras boas como se estas fossem verdadeiras profecias, e ainda motivam outras pessoas a fazerem o mesmo. Paulo perguntou: “…Porventura são todos profetas?’” (1Co 12:29). Essa pergunta foi feita para mostrar que nem todas as pessoas são profetas, ou seja, nem toda pessoa possui o dom de profecia dado pelo Espírito Santo. Desejar uma bênção para o próximo ou ter palavras de vitória tem sido encarado como uma profecia, o que é um erro terrível, pois os verdadeiros profetas falavam o que recebiam do Senhor: “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”(2Pe 1:21). Portanto, à luz da Bíblia, nem todas as pessoas são profetas e a vontade do homem, por mais bondosa que seja, não pode originar uma profecia verdadeira.

CONCLUSÂO

Os dons ministeriais e os dons espirituais, como o de profecia, continuam sendo imprescindíveis ao propósito de Deus para a igreja. Deus sempre se comunicou com o seu povo e continua ainda hoje, quer através dos ministros escolhidos por Deus, conforme o seu dom, ou por meio do dom espiritual de profecia. A igreja que rejeitar ou for indiferente a esses dons, certamente, caminhará para a decadência, desviando-se para o mundanismo e o liberalismo quanto aos ensinos da Bíblia (1Co 14.3; cf. Mt 23.31-38; Lc 11.49; At 7.51,52); a política eclesiástica e a direção humana tomarão o lugar do Espírito (2Tm 3.1-9; 4.3-5; 2Pe 2.1-3,12-22).





Fonte de Pesquisa: Bíblia de Estudo-Aplicação Pessoal. Bíblia de Estudo Pentecostal. Bíblia de Estudo das Profecias. O novo dicionário da Bíblia. Revista Ensinador Cristão – CPAD nº 43. Guia do leitor da Bíblia. A Teologia do Antigo Testamento – Roy B.Zuck. Comentário Bíblico Beacon – CPAD - volume 4. Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento – William Macdonald. Através da Bíblia – Lucas – John Vernon McGee

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

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