25/10/2010

As 95 Teses de Lutero

Movido pelo amor e pelo empenho em prol do esclarecimento da verdade discutir-se-á em Wittemberg, sob a presidência do Ver. Padre Martinho Lutero, o que segue. Aqueles que não puderem estar presentes para tratarem do assunto verbalmente connosco, poderão fazê-lo por escrito. Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém !.




1. Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: "Arrependei-vos" etc., certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo arrependimento.



2. E esta expressão não pode e não deve ser interpretada como referindo-se ao sacramento da penitência, isto é, à confissão e satisfação, a cargo do ofício dos sacerdotes.



3. Todavia não quer que apenas se entenda o arrependimento interno; o arrependimento interno nem mesmo é arrependimento quando não produz toda sorte de mortificações da carne.



4. Assim sendo, o arrependimento e o pesar, isto é, a verdadeira penitência, perdura enquanto o homem se desagradar de si mesmo, a saber, até a entrada desta para a vida eterna.



5. O papa não quer e não pode dispensar outras penas, além das que impôs ao seu alvitre ou em acordo com os cânones, que são estatutos papais.



6. O papa não pode perdoar dívida senão declarar e confirmar aquilo que já foi perdoado por Deus; ou então faz nos casos que lhe foram reservados. Nestes casos, se desprezados, a dívida deixaria de ser em absoluto anulada ou perdoada.



7. Deus a ninguém perdoa a dívida sem ao mesmo tempo o subordine, em sincera humildade, ao sacerdote, seu vigário.



8. Canones poenitendiales, que são as ordenanças de prescrição da maneira em que se deve confessar e expiar, apenas são impostas aos vivos, e, de acordo com as mesmas ordenanças, não dizem respeito aos moribundos.



9. Eis porque o Espírito Santo nos faz bem mediante o papa, excluindo este de todos os seus decretos ou direitos o artigo da morte e da necessidade suprema.



10. Procedem desajuizadamente e mal os sacerdotes que reservam e impõem os moribundos poenitentias canonicas ou penitências para o purgatório afim de ali serem cumpridas.



11. Este joio, que é o de se transformar a penitência e satisfação, previstas pelas cânones ou estatutos, em penitência ou apenas do purgatório, foi semeado quando os bispos se achavam dormindo.



12. Outrora canonicae poenae, ou sejam penitência e satisfação por pecados cometidos eram impostos, não depois, mas antes da absolvição, com a finalidades de provar a sinceridade do arrependimento e do pesar.



13. Os moribundos tudo satisfazem com a sua morte e estão mortos para o direito canónico, sendo, portanto, dispensados, com justiça de sua imposição.



14. Piedade ou amor imperfeitos da parte daquele que se acha às portas da morte necessariamente resultam em grande temor; logo, quanto menor o amor, tanto maior o temor.



15. Este temor e espanto em si tão só, sem falar de outras cousas, bastam para causar o tormento e horror do purgatório, pois que se avizinham da angústia do desespero.



16. Inferno, purgatório e céu parecem ser tão diferentes quanto o são um do outro o desespero completo, incompleto ou quase desespero e certeza.



17. Parece que assim como no purgatório diminuem a angústia e o espanto das almas, nelas também deve crescer e aumentar o amor.



18. Bem assim parece não ter sido provado, nem por boas razões e nem pela Escritura, que as almas no purgatório se encontram for a da possibilidade do mérito ou do crescimento no amor.



19. Ainda não parece ter sido provado que todas as almas do purgatório tenham certeza de sua salvação e não receiem por ela, não obstante nós teremos absoluta certeza disto.



20. Por isso o papa não quer dizer e nem compreende com as palavras "perdão plenário de todas as penas" que todo o tormento é perdoado, mas apenas as penas por ele impostas.



21. Eis porque erram os apregoadores de indulgências ao afirmarem ser o homem perdoado de todas as penas e salvo mediante a indulgência do papa.



22. Com efeito, o papa nenhuma pena dispensa às almas no purgatório das que segundo os cânones da Igreja deviam ter expiado e pago na presente vida.



23. Verdade é que se houver qualquer perdão plenário das penas, este apenas será dado aos mais perfeitos, que são muito poucos.



24. Assim sendo, a minoria do povo é ludibriada com as pomposas promessas do indistinto perdão, impressionando-se o homem singelo com as penas pagas.



25. Exactamente o mesmo poder geral, que o papa tem sobre o purgatório, qualquer bispo e cura de almas tem no seu bispado e na sua paróquia, quer de modo especial e quer para com os seus em particular.



26. O papa faz muito bem em não conceder o perdão em virtude do poder das chaves ( ao qual não possue ), mas pela ajuda ou em forma de intercessão.



27. Pregam futilidades humanas quantos alegam que no momento em que a moeda soa ao cair na caixa a alma se vai do purgatório.



28. Certo é que no momento em que a moeda soa na caixa vêm o lucro e o amor ao dinheiro, cresce e aumenta; a ajuda porém, ou a intercessão da Igreja tão só correspondem à vontade e ao agrado de Deus.



29. E quem sabe, se todas as almas do purgatório querem ser libertadas, quando há quem diga o que suceder com Santo Severino e Pascoal.



30. Ninguém tem certeza da suficiência do seu arrependimento e pesar verdadeiros; muitos menos certeza pode ter de haver alcançado pleno perdão dos seus pecados.



31. Tão raro como existe alguém que possui arrependimento e pesar verdadeiros, tão raro também é aquele que alcança indulgência, sendo bem poucos os que se encontram.



32. Irão para o diabo juntamente com os seus mestres aqueles que julgam obter certeza de sua salvação mediante breves de indulgência.



33. Há que acautelar-se muito e ter cuidado daqueles que dizem: A indulgência do papa é a mais sublime e mais preciosa graça ou dádiva de Deus, pela qual o homem é reconciliado com Deus.



34. Tanto assim, que a graça da indulgência apenas se refere à pena satisfatória estipulada por homens.



35. Ensinam de maneira ímpia quantos alegam que aqueles que querem livrar almas do purgatório ou adquirir breves de confissão não necessitam de arrependimento e pesar.



36. Todo e qualquer cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados, sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe pertence mesmo sem breve de indulgência.



37. Todo e qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, é participante de todos os bens de Cristo e da Igreja, dádiva de Deus, mesmo sem breve de indulgência.



38. Entretanto se não deve desprezar o perdão e a distribuição por parte do papa. Pois, conforme declarei, o seu perdão constitui uma declaração do perdão divino.



39. É extremamente difícil, mesmo para os mais doutos teólogos, exaltar diante do povo ao mesmo tempo a grande riqueza da indulgência e ao contrário o verdadeiro arrependimento e pezar.



40. O verdadeiro arrependimento e pesar buscam e amam o castigo; mas a profusão da indulgência livra das penas e faz com que se as aborreça, pelo menos quando há oportunidade para isso.



41. É necessário pregar cautelosamente sobre a indulgência papal para que o homem singelo não julgue erroneamente ser a indulgência preferível às demais obras de caridade ou melhor do que elas.



42. Deve-se ensinar aos cristão, não ter pensamento e opinião do papa que a aquisição de indulgência de alguma maneira possa ser comparada com qualquer obra de caridade.



43. Deve-se ensinar aos cristãos proceder melhor quem dá aos pobres ou empresta aos necessitados do que os que compram indulgências.



44. É que pela obra de caridade cresce o amor ao próximo e o homem torna-se mais piedoso; pelas indulgências porém, não se torna melhor senão mais segura e livre da pena.



45. Deve-se ensinar aos cristãos que aquele que vê seu próximo padecer necessidade e a despeito disto gasta dinheiro com indulgências, não adquire indulgências do papa, mas provoca a ira de Deus.



46. Deve-se ensinar aos cristão que, se não tiverem fartura, fiquem com o necessário para a casa e de maneira nenhuma o esbanjem com indulgências.



47. Deve-se ensinar aos cristãos, ser a compra de indulgências livre e não ordenada.



48. Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa precisa conceder mais indulgências, mais necessita de uma oração fervorosa de que de dinheiro.



49. Deve-se ensinar aos cristãos, serem muito boas indulgências do papa enquanto o homem não confiar nelas; mas muito prejudiciais quando, em consequências delas, se perde o temor de Deus.



50. Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa tivesse conhecimento da traficância dos apregoadores de indulgências, preferiria ver a catedral de São Pedro ser reduzida a cinzas a ser edificada com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.



51. Deve-se ensinar aos cristãos que o papa, por dever seus, preferiria distribuir o seu dinheiro aos que em geral são despojados do dinheiro pelos apregoadores de indulgência, vendendo, se necessário fosse, a própria catedral de São Pedro..4



52. Comete-se injustiça contra a Palavra de Deus quando, no mesmo sermão, se consagra tanto ou mais tempo à indulgência do que à pregação da Palavra do Senhor.



53. São inimigos de Cristo e do papa quantos por causa da prédica de indulgências proíbem a Palavra de Deus nas demais igrejas.



54. Esperar ser salvo mediante breves de indulgências é vaidade e mentira, mesmo se o comissário de indulgências, mesmo se o próprio papa oferecesse sua alma como garantia.



55. A intenção do papa não pode ser outra do que celebrar a indulgência, que é a causa menor, com um sino, uma pompa e uma cerimónia, enquanto o Evangelho, que é essencial, importa ser anunciado mediante cem sinos, centenas de pompas e solenidades.



56. Os tesouros da Igreja, dos quais o papa tira e distribui as indulgências, não são bastante mencionadas e nem suficientemente conhecidos na Igreja de Cristo.



57. Que não são bens temporais, é evidente, porquanto muitos pregadores a este não distribuem com facilidade, antes os ajuntam.



58. Tão pouco são os merecimentos de Cristo e dos santos, porquanto estes sempre são eficientes e, independentemente do papa, operam salvação do homem interior e a cruz, a morte e o inferno para o homem exterior.



59. São Lourenço aos pobres chamava tesouros da Igreja, mas no sentido em que a palavra era usada na sua época.



60. Afirmamos com boa razão, sem temeridade ou leviandade, que este tesouros são as chaves da Igreja, a ela dado pelo merecimento de Cristo.



61. Evidente é que para o perdão de penas e para a absolvição em determinados casos o poder do papa por si só basta.



62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.



63. Este tesouro, porém, é muito desprezado e odiado, porquanto faz com que os últimos sejam os primeiros



64. Enquanto isso o tesouro das indulgências é sabidamente o mais apreciado, porquanto faz com que os últimos sejam os primeiros.



65. Por essa razão os tesouros evangélicos outrora foram as redes com que se apanhavam os ricos e abastados.



66. Os tesouros das indulgências, porém, são as redes com que hoje se apanham as riquezas dos homens.



67. As indulgências apregoadas pelos seus vendedores com ao mais sublimes graça decerto assim são considerados porque lhes trazem grandes proventos.



68. Nem por isso semelhante indulgência não deixa de ser a mais íntima graça comparada com a graça de Deus e a piedade da cruz.



69. Os bispos e sacerdotes são obrigados a receber os comissários das indulgências apostólicas com toda a reverência.



70. Entretanto têm muito maior dever de conservar abertos olhos e ouvidos, para que estes comissários, em vez de cumprirem as ordens recebidas do papa, não preguem os seus próprios sonhos.



71. Aquele, porém, que se insurgir contra as palavras insolentes e arrogantes dos apregoadores de indulgências, seja abençoado.



72. Quem se levanta a sua voz contra a verdade das indulgências papais é excomungado e maldito.



73. Da mesma maneira em que o papa usa de justiça ao fulminar com a excomunhão aos que em prejuízo do comércio de indulgências procedem astuciosamente.



74. Muito mais deseja atingir com o desfavor e a excomunhão àqueles que, sob o pretexto de indulgência, prejudiquem a santa caridade e a verdade pela sua maneira de agir.



75. Considerar as indulgências do papa tão poderosa, a ponto de poderem absolver alguém dos pecados, mesmo que ( cousa impossível ) tivesse desonrado a mãe de Deus, significa ser demente.



76. Bem ao contrário, afirmamos que a indulgência do papa nem mesmo o menor pecado venial pode anular no que diz respeito à culpa que constitui.



77. Dizer que mesmo São Pedro, se agora fosse papa, não poderia dispensar maior indulgência, significa blasfemar São Pedro e o papa.



78. Em contrário, dizemos que o atual papa, e todos os que o sucederem, é detentor de muito maior indulgência, isto é, o Evangelho, as virtudes, o dom de curar, etc. , de acordo com o que diz I Coríntios 12.



79. Afirmar ter a cruz de indulgências adornada com as armas do papa e colocada na igreja tanto valor como a própria cruz de Cristo, é blasfémia.



80. Os bispos, padres e teólogos que consentem em semelhante linguagem diante do povo, terão de prestar contas deste procedimento.



81. Semelhante pregação, a enaltecer atrevida e insolentemente a indulgência, faz com que mesmo a homens doutos é difícil proteger a devida reverência ao papa contra a maledicência e as fortes objeções dos leigos.



82. Eis um exemplo: Por que o papa não tira duma vez todas as almas do purgatório, movido por santíssima caridade e em face da mais premente necessidade das almas, que seria justíssimo motivo para tanto, quando em troca de vil dinheiro para construção da catedral de São Pedro, livra um sem número de almas, logo por motivo bastante insignificante?



83. Outrossim: Por que continuam as exéquias e missas de ano em sufrágio das almas dos defuntos e não se devolve o dinheiro recebido para o mesmo fim ou não se permite os doadores busquem de novo os benefícios ou prebendas oferecidos em favor dos mortos, visto ser injusto continuar a rezar pelos já resgatados?



84. Ainda: Que nova piedade de Deus e do papa é esta, que permite a um ímpio e inimigo resgatar uma alma piedosa e agradável a Deus por amor ao dinheiro e não resgatar esta mesma alma piedosa e querida de sua grande necessidade por livre amor e sem paga ?



85. Ainda: Por que os cânones de penitência, que de fato, faz muito caducaram e morreram pelo desuso, tornam a ser resgatados mediante dinheiro em forma de indulgências como se continuassem bem vivos e em vigor ?



86. Ainda: Por que o papa, cuja fortuna hoje é a mais principesca do que a de qualquer Credo, não prefere edificar a catedral de São Pedro de seu próprio bolso em vez de o fazer com o dinheiro de fiéis pobres ?



87. Ainda: Que ou que parte concede o papa do dinheiro proveniente de indulgências aos que pela penitência completa assiste direito à indulgência plenária ?



88. Afinal: que maior bem poderia receber a Igreja, se o papa, como já o fez cem vezes ao dia, concedesse a cada fiel semelhante dispensa e participação da indulgência a título gratuito.



89. Visto o papa visar mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que revoga os breves de indulgência outrora por ele concedidos, aos quais atribuía as mesmas virtudes ?



90. Refutar estes argumentos sagazes dos leigos pelo uso da força e não mediante argumentos da lógica, significa entregar a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e desgraçar os cristãos.



91. Se a indulgência fosse apregoada segundo o espírito e sentido do papa, aqueles receios seriam facilmente desfeitos, nem mesmo teriam surgido.



92. Fora, pois, com todos estes profetas que dizem ao povo de Cristo: Paz! Paz! e não há paz.



93. Abençoados seja, porém, todos os profetas que dizem à grei de Cristo: Cruz! Cruz! e não há cruz.



94. Admoestem-se os cristãos a que se empenham em seguir sua Cabeça Cristo através do padecimento, morte e inferno.



95. E assim esperem mais entrar no reino dos céus através de muitas tribulações do que facilitados diante de consolações infundadas.

MARTINHO LUTERO - A REFORMA PROTESTANTE

"É preciso exortar os fiéis a entrarem no céu por meio de muitas tribulações, em vez de descansarem na segurança de uma falsa paz" 95ª tese.
No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero fixou suas famosas teses (total de 95) contra a venda de indulgências, na porta da Igreja Católica do Castelo de Wittenberg, na Alemanha, contrariando os interesses teológicos e, principalmente, econômicos da Igreja Católica. O impacto foi tamanho, que se comemora nessa data o início da Reforma Protestante.


Lutero não foi, como alguns pensam, o fundador de uma nova religião, o protestantismo. A Reforma Protestante, da qual foi impulsionador, foi além do movimento da libertação nacional, que resultou na formação de igrejas nacionais entre os anos de1517 a 1563. Foi, sem dúvida, o grande precursor da liberdade religiosa atual e quem mais contribuiu para um retorno do cristianismo às Escrituras.

Para não admitir suas falhas, são diversas as acusações da Igreja Católica a Lutero, de louco a rebelde orgulhoso.


A preparação para a Reforma

No decorrer dos séculos, desde os tempos de Cristo, tem havido um desvio daquilo que Jesus ensinou. Sempre se levantaram vozes em defesa da pureza do Evangelho.


Apesar do zelo, sempre existiram aqueles que se desviavam, trazendo para dentro da Igreja práticas de outras religiões. Esses desvios, a princípio em número reduzido, foram aumentando a ponto de paganizar a Igreja, transformando-a no que conhecemos hoje por Igreja Católica.


No começo, foi apenas a inclusão da hierarquia onde o papa era o líder supremo; depois vieram o batismo para a salvação, a adoração de santos, e outros, atingindo um patamar tal, que por volta do século XIV, a Igreja Católica estava completamente envolvida no paganismo. Daí a salvação passou a ser comercializada como qualquer outro objeto.

Enquanto o cristianismo romano se paganizava, muitas pessoas às quais o nome "cristão" fora negado, lutavam para que a Igreja retornasse aos princípios do Novo Testamento. Entretanto, ela já havia se institucionalizado, e esses reformadores passaram a ser acusados de hereges. Geralmente eram expulsos de suas congregações e perseguidos, pagando, muitas vezes com a vida, pelo zelo cristão.

Até o século XIV, os protestos dessas pessoas foram abafados; porém com o advento de uma nova mentalidade, que deu origem às transformações políticas, sociais, científicas, literárias e mais, foram sendo notados. Naquele período, as grandes descobertas marítimas, a invenção da imprensa, a descoberta do maravilhoso mundo clássico da literatura e arte, até então perdidos, produziram um despertar da natureza humana, que se processou de forma intensa e geral. Esse período ficou conhecido como Renascença, movimento que produziu a energia necessária para a revolução religiosa que se daria no século XVI.


O grande nome dessa revolução religiosa foi Martinho Lutero, monge agostiniano. que, revoltado contra a venda de indulgências, levantou a bandeira da liberdade religiosa frente à corrompida Igreja Católica.


Peregrinação espiritual


Lutero nasceu em 1483, em Eisleben, Alemanha, onde seu pai, de origem camponesa, trabalhava em minas. A sua infância não foi feliz. Seus pais eram extremamente severos. Durante toda a sua vida foi prisioneiro de períodos de depressão e angústia profunda, quando aspirava pela salvação de sua alma.


Em 1505, antes de completar 22 anos, ingressou - contra a vontade de seu pai, que sonhava com a carreira de advogado para ele - no mosteiro Agostinho de Erfurt. Dos motivos que o levaram a tal passo, esse acontecimento foi decisivo: duas semanas antes, quando sobremaneira o temor da morte e do inferno o afligia, prometeu a santa Ana caso se salvasse se tornaria um monge. Portanto, a razão principal, foi o seu interesse pela própria salvação.

Ingressou no mosteiro como filho fiel da Igreja no propósito de utilizar os meios de salvação que ela lhe oferecia e dos quais o mais seguro lhe parecia o monástico. Acreditava que, sendo um sacerdote, as boas obras e a confissão seriam as respostas para suas necessidades, almejadas desde a infância. Mas não bastava.

Embora tentasse ser um monge perfeito - repentinamente castigava seu corpo, a conselho de seu superior - tinha consciência de sua pecaminosidade e cada vez, por isso, tratava de sobrepor-se a ela. Porém, quanto mais lutava contra esse sentimento, mais se apercebia de que o pecado era muito mais poderoso do que ele.


Frente a essa situação desesperadora, o seu conselheiro espiritual recomendou que lesse as obras dos místicos, mas não adiantou; então, foi proposto que se preparasse para dirigir cursos sobre as Escrituras na Universidade de Wittenberg.


A grande descoberta


É certo que, quando se viu obrigado a preparar conferências sobre a Bíblia, Lutero começou a ver nelas uma possível resposta para suas angústias.


Em 1513, começou a dar aulas sobre Salmos, os quais interpretava cristologicamente. Neles, era Cristo quem falava. E assim, viu Cristo passando pelas angústias semelhantes às que passava. Esse foi o princípio de sua grande descoberta, que aconteceu provavelmente em 1515, quando começou a dar conferências sobre a Epístola aos Romanos. Lutero confessou que encontrou resposta para as suas dificuldades, no primeiro capítulo dessa Epístola.


Essa resposta, no entanto, não veio facilmente. Não ocorreu de um dia para outro. A grande descoberta foi precedida por uma grande luta e uma amarga angústia.


O texto básico é Romanos 1.17, no qual é dito que o Evangelho é a revelação da justiça de Deus, e era precisamente essa justiça que Lutero não podia tolerar e dizia que odiava a frase "justiça de Deus". Nela, esteve meditando dia e noite para compreender a relação entre as duas partes do versículo que diz "a justiça de Deus se revela no evangelho", e conclui dizendo que "o justo viverá pela fé".


O protesto
A resposta foi surpreendente. Lutero concluiu que a justiça de Deus, em Romanos 1.17. não se refere ao fato de que Deus castigue os pecadores, mas ao fato de que a justiça do justo não é obra sua, mas dom de Deus. Portanto, a justiça de Deus só tem quem vive pela fé: não porque seja em si mesmo justo ou porque Deus lhe dê esse dom, mas por causa da misericórdia de Deus que, gratuitamente, justifica o pecador desde que este creia.


A partir dessa descoberta, a justiça de Deus não passou mais a ser odiada; agora, ela tornou-se em uma frase doce para sua vida. Em conseqüência as Escrituras passaram a ter um novo sentido para ele. Inconformado com a Igreja Católica, Lutero compôs algumas teses, que deveriam servir como base para um debate acadêmico.


Naquele período, teve início, por ordem do papa Leão X, a venda de indulgências por Tetzel, através da qual o portador tinha a garantia de sua salvação. Não concordando com a exploração de seus compatriotas, Lutero fixou suas famosas 95 teses na porta da Igreja (local utilizado para colocar informações da universidade) do Castelo de Wittenberg.
As teses foram escritas acaloradamente com sentimento de indignação profunda, mas com todo o respaldo Bíblico. E além do mais. ao atacar a venda de indulgências, colocava em perigo os projetos dos exploradores, dentre eles, a ganância do papa Leão X em arrecadar dinheiro suficiente para terminar a construção da Basílica de São Pedro. Os impressos despertaram o povo e produziram um sentimento de patriotismo, o que facilitou a Reforma na Alemanha.


A importância de Lutero para o protestantismo moderno não deve ser esquecida. Foi ele quem teve mais sucesso na investida contra Roma. Foi ele o grande bandeirante da volta às Escrituras como regra de fé e prática. Foi um dos poucos homens que alterou profundamente a História do mundo. Através do seu exemplo, outras pessoas seguiram o caminho da Reforma em seus próprios países, e em poucos anos quase toda a Europa havia sido varrida pelos ventos reformadores.


Lutero foi responsável por três pontos básicos do protestantismo atual: a supremacia das Escrituras sobre a tradição; a supremacia da fé sobre as obras; e a supremacia do sacerdócio de cada cristão sobre o sacerdócio exclusivo de um líder. Humanamente falando, deve-se a Lutero um retomo à leitura da Bíblia.


A Contra-Reforma e os jesuítas


Lutero teve de enfrentar o tremendo poderio da Igreja Católica que, imediatamente organizou a Companhia de Jesus (jesuítas) para atacar a Reforma. Vide o juramento dos jesuítas (livro Congregacional de Relatórios, página 3.362) que em resumo, diz: "Prometo na presença de Deus e da Virgem Maria e de ti meu pai espiritual, superior da Ordem Geral dos Jesuítas... e pelas entranhas da Santíssima Virgem defender a doutrina contra os usurpadores protestantes, liberais e maçons sem hesitar. Prometo e declaro que farei e ensinarei a guerra lenta e secreta contra os hereges... tudo farei para extirpá-los da face da terra, não pouparei idade, nem sexo, nem cor... farei arruinar, extirpar, estrangular e queimar vivo esses hereges. Farei arrancar seus estômagos e o ventre de suas mulheres e esmagarei a cabeça de suas crianças contra a parede a fim de extirpar a raça.

Quando não puder fazer isso publicamente usarei o veneno, a corda de estrangular, o laço, o punhal e a bala e chumbo.

Com este punhal molhado no meu sangue farei minha rubrica como testemunho! Se eu for falso ou perjuro, podem meus irmãos, os Soldados do Papa cortar mãos e pés, e minha garganta; minha barriga seja aberta e queimada com enxofre e que minha alma seja torturada pelos demônios para sempre no inferno!"


Preocupada em conter o avanço dessas ideias, a igreja Romana iniciou através do Tribunal da Santa Inquisição a perseguição mais infame e sangrenta da história, onde, no caso da França, numa única noite, chamada de "Noite de São Bartolomeu", três mil protestantes foram assassinados e seus corpos

23/10/2010

Reforma Protestante - 31 de outubro de 1517

Reforma Protestante


Lutero com 46 anos









Erasmo de Roterdão.






João Calvino.

John Wycliffe.

John Knox.



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A Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão iniciado no século XVI por Martinho Lutero, que, através da publicação de suas 95 teses,[1] protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica, propondo uma reforma no catolicismo. Os princípios fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos como os Cinco solas.[2]
Lutero foi apoiado por vários religiosos e governantes europeus provocando uma revolução religiosa, iniciada na Alemanha, e estendendo-se pela Suíça, França, Países Baixos, Reino Unido, Escandinávia e algumas partes do Leste europeu, principalmente os Países Bálticos e a Hungria. A resposta da Igreja Católica Romana foi o movimento conhecido como Contra-Reforma ou Reforma Católica, iniciada no Concílio de Trento.
O resultado da Reforma Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os católicos romanos e os reformados ou protestantes, originando o Protestantismo.

Pré-Reforma

A Pré-Reforma foi o período anterior à Reforma Protestante no qual se iniciaram as bases ideológicas que posteriormente resultaram na reforma iniciada por Martinho Lutero.
A Pré-Reforma tem suas origens em uma denominação cristã do século XII conhecida como Valdenses, que era formada pelos seguidores de Pedro Valdo, um comerciante de Lyon que se converteu ao Cristianismo por volta de 1174. Ele decidiu encomendar uma tradução da Bíblia para a linguagem popular e começou a pregá-la ao povo sem ser sacerdote. Ao mesmo tempo, renunciou à sua atividade e aos bens, que repartiu entre os pobres. Desde o início, os valdenses afirmavam o direito de cada fiel de ter a Bíblia em sua própria língua, considerando ser a fonte de toda autoridade eclesiástica. Eles reuniam-se em casas de famílias ou mesmo em grutas, clandestinamente, devido à perseguição da Igreja Católica, já que negavam a supremacia de Roma e rejeitavam o culto às imagens, que consideravam como sendo idolatria.[3]


John Wycliffe.No seguimento do colapso de instituições monásticas e da escolástica nos finais da Idade Média na Europa, acentuado pelo Cativeiro Babilônico da igreja no papado de Avignon, o Grande Cisma e o fracasso da conciliação, se viu no século XVI o fermentar de um enorme debate sobre a reforma da religião e dos posteriores valores religiosos fundamentais.
No século XIV, o inglês John Wycliffe,[4] considerado como precursor da Reforma Protestante, levantou diversos questionamentos sobre questões controversas que envolviam o Cristianismo, mais precisamente a Igreja Católica Romana. Entre outras idéias, Wycliffe queria o retorno da Igreja à primitiva pobreza dos tempos dos evangelistas, algo que, na sua visão, era incompatível com o poder político do papa e dos cardeais, e que o poder da Igreja devia ser limitado às questões espirituais, sendo o poder político exercido pelo Estado, representado pelo rei. Contrário à rígida hierarquia eclesiástica, Wycliffe defendia a pobreza dos padres e os organizou em grupos. Estes padres foram conhecidos como "lolardos". Mais tarde, surgiu outra figura importante deste período: Jan Hus. Este pensador tcheco iniciou um movimento religioso baseado nas ideias de John Wycliffe. Seus seguidores ficaram conhecidos como Hussitas.[5]



 Reforma

Na Alemanha, Suíça e França

No início do século XVI, o monge alemão Martinho Lutero, abraçando as idéias dos pré-reformadores, proferiu três sermões contra as indulgências em 1516 e 1517. Em 31 de outubro de 1517 foram pregadas as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, com um convite aberto ao debate sobre elas.[6] Esse fato é considerado como o início da Reforma Protestante.[7]


Martinho Lutero, aos 46 anos de idade.Essas teses condenavam a "avareza e o paganismo" na Igreja, e pediam um debate teológico sobre o que as indulgências significavam. As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. Após um mês se haviam espalhado por toda a Europa.[8]


Após diversos acontecimentos, em junho de 1518 foi aberto um processo por parte da Igreja Romana contra Lutero, a partir da publicação das suas 95 Teses. Alegava-se, com o exame do processo, que ele incorria em heresia. Depois disso, em agosto de 1518, o processo foi alterado para heresia notória.[9] Finalmente, em junho de 1520 reapareceu a ameaça no escrito "Exsurge Domini" e, em janeiro de 1521, a bula "Decet Romanum Pontificem" excomungou Lutero. Devido a esses acontecimentos, Lutero foi exilado no Castelo de Wartburg, em Eisenach, onde permaneceu por cerca de um ano. Durante esse período de retiro forçado, Lutero trabalhou na sua tradução da Bíblia para o alemão, da qual foi impresso o Novo Testamento, em setembro de 1522.[10]


Extensão da Reforma Protestante na Europa.Enquanto isso, em meio ao clero saxônio, aconteceram renúncias ao voto de castidade, ao mesmo tempo em que outros tantos atacavam os votos monásticos. Entre outras coisas, muitos realizaram a troca das formas de adoração e terminaram com as missas, assim como a eliminação das imagens nas igrejas e a ab-rogação do celibato. Ao mesmo tempo em que Lutero escrevia "a todos os cristãos para que se resguardem da insurreição e rebelião". Seu casamento com a ex-freira cisterciense Catarina von Bora incentivou o casamento de outros padres e freiras que haviam adotado a Reforma. Com estes e outros atos consumou-se o rompimento definitivo com a Igreja Romana.[11] Em janeiro de 1521 foi realizada a Dieta de Worms, que teve um papel importante na Reforma, pois nela Lutero foi convocado para desmentir as suas teses, no entanto ele defendeu-as e pediu a reforma.[12] Autoridades de várias regiões do Sacro Império Romano-Germânico pressionadas pela população e pelos luteranos, expulsavam e mesmo assassinavam sacerdotes católicos das igrejas,[13] substituindo-os por religiosos com formação luterana.[14]
Toda essa rebelião ideológica resultou também em rebeliões armadas, com destaque para a Guerra dos camponeses (1524-1525). Esta guerra foi, de muitas maneiras, uma resposta aos discursos de Lutero e de outros reformadores. Revoltas de camponeses já tinham existido em pequena escala em Flandres (1321-1323), na França (1358), na Inglaterra (1381-1388), durante as guerras hussitas do século XV, e muitas outras até o século XVIII. A revolta foi incitada principalmente pelo seguidor de Lutero, Thomas Münzer,[14] que comandou massas camponesas contra a nobreza imperial, pois propunha uma sociedade sem diferenças entre ricos e pobres e sem propriedade privada,[14] Lutero por sua vez defendia que a existência de "senhores e servos" era vontade divina,[14] motivo pelo qual eles romperam,[15] sendo que Lutero condenou Münzer e essa revolta.[16]


O Muro dos Reformadores. Da esquerda à direita, estátuas de Guilherme Farel, João Calvino, Teodoro de Beza e John Knox.Em 1530 foi apresentada na Dieta imperial convocada pelo Imperador Carlos V, realizada em abril desse ano, a Confissão de Augsburgo, escrita por Felipe Melanchton [17] com o apoio da Liga de Esmalcalda. Os representantes católicos na Dieta resolveram preparar uma refutação ao documento luterano em agosto, a Confutatio Pontificia (Confutação), que foi lida na Dieta. O Imperador exigiu que os luteranos admitissem que sua Confissão havia sido refutada. A reação luterana surgiu na forma da Apologia da Confissão de Augsburgo, que estava pronta para ser apresentada em setembro do mesmo ano, mas foi rejeitada pelo Imperador. A Apologia foi publicada por Felipe Melanchton no fim de maio de 1531, tornando-se confissão de fé oficial quando foi assinada, juntamente com a Confissão de Augsburgo, em Esmalcalda, em 1537.[18]
Ao mesmo tempo em que ocorria uma reforma em um sentido determinado, alguns grupos protestantes realizaram a chamada Reforma Radical. Queriam uma reforma mais profunda. Foram parte importante dessa reforma radical os Anabatistas, cujas principais características eram a defesa da total separação entre igreja e estado e o "novo batismo" [19] (que em grego é anabaptizo).[20]


João Calvino.Enquanto na Alemanha a reforma era liderada por Lutero, Na França e na Suíça a Reforma teve como líderes João Calvino e Ulrico Zuínglio .
João Calvino foi inicialmente um humanista. Nunca foi ordenado sacerdote. Depois do seu afastamento da Igreja católica, este intelectual começou a ser visto como um representante importante do movimento protestante.[21] Vítima das perseguições aos huguenotes na França, fugiu para Genebra em 1533 [22] onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se um centro do protestantismo europeu e João Calvino permanece desde então como uma figura central da história da cidade e da Suíça. Calvino publicou as Institutas da Religião Cristã,[23] que são uma importante referência para o sistema de doutrinas adotado pelas Igrejas Reformadas.[24]
Os problemas com os huguenotes somente concluíram quando o Rei Henry IV, um ex-huguenote, emitiu o Édito de Nantes, declarando tolerância religiosa e prometendo um reconhecimento oficial da minoria protestante, mas sob condições muito restritas. O catolicismo se manteve como religião oficial estatal e as fortunas dos protestantes franceses diminuíram gradualmente ao longo do próximo século, culminando na Louis XIV do Édito de Fontainebleau, que revogou o Édito de Nantes e fez do catolicismo única religião legal na França. Em resposta ao Édito de Fontainebleau, Frederick William de Brandemburgo declarou o Édito de Potsdam, dando passagem livre para franceses huguenotes refugiados e status de isenção de impostos a eles durante 10 anos.
Ulrico Zuínglio foi o líder da reforma suíça e fundador das igrejas reformadas suíças. Zuínglio não deixou igrejas organizadas, mas as suas doutrinas influenciaram as confissões calvinistas. A reforma de Zuínglio foi apoiada pelo magistrado e pela população de Zurique, levando a mudanças significativas na vida civil e em assuntos de estado em Zurique.[25]

No Reino Unido

O curso da Reforma foi diferente na Inglaterra. Desde muito tempo atrás havia uma forte corrente anticlerical, tendo a Inglaterra já visto o movimento Lollardo, que inspirou os Hussitas na Boémia. No entanto, ao redor de 1520 os lollardos já não eram uma força ativa, ou pelo menos um movimento de massas.

Henrique VIII.Embora Henrique VIII tivesse defendido a Igreja Católica com o livro Assertio Septem Sacramentorum (Defesa dos Sete Sacramentos), que contrapunha as 95 Teses de Martinho Lutero, Henrique promoveu a Reforma Inglesa para satisfazer as suas necessidades políticas. Sendo este casado com Catarina de Aragão, que não lhe havia dado filho homem, Henrique solicitou ao Papa Clemente VII a anulação do casamento.[26] Perante a recusa do Papado, Henrique fez-se proclamar, em 1531, protetor da Igreja inglesa. O Ato de Supremacia, votado no Parlamento em novembro de 1534, colocou Henrique e os seus sucessores na liderança da igreja, nascendo assim o Anglicanismo. Os súditos deveriam submeter-se ou então seriam excomungados, perseguidos [27] e executados, tribunais religiosos foram instaurados e católicos foram obrigados à assistir cultos protestantes,[28] muitos importantes opositores foram mortos, tais como Thomas More, o Bispo John Fischer e alguns sacerdotes, frades franciscanos e monges cartuchos. Quando Henrique foi sucedido pelo seu filho Eduardo VI em 1547, os protestantes viram-se em ascensão no governo. Uma reforma mais radical foi imposta diferenciando o anglicanismo ainda mais do catolicismo.[29]
Seguiu-se uma breve reação católica durante o reinado de Maria I (1553-1558). De início moderada na sua política religiosa, Maria procura a reconciliação com Roma, consagrada em 1554, quando o Parlamento votou o regresso à obediência ao Papa.[26] Um consenso começou a surgir durante o reinado de Elizabeth I. Em 1559, Elizabeth I retornou ao anglicanismo com o restabelecimento do Ato de Supremacia e do Livro de Orações de Eduardo VI. Através da Confissão dos Trinta e Nove Artigos (1563), Elizabeth alcançou um compromisso entre o protestantismo e o catolicismo: embora o dogma se aproximasse do calvinismo, só admitindo como sacramentos o Batismo e a Eucaristia, foi mantida a hierarquia episcopal e o fausto das cerimônias religiosas.
John Knox.A Reforma na Inglaterra procurou preservar o máximo da Tradição Católica (episcopado, liturgia e sacramentos). A Igreja da Inglaterra sempre se viu como a ecclesia anglicanae, ou seja, A Igreja cristã na Inglaterra e não como uma derivação da Igreja de Roma ou do movimento reformista do século XVI. A Reforma Anglicana buscou ser a "via média" entre o catolicismo e o protestantismo.[30]
Em 1561 apareceu uma confissão de fé com uma Exortação à Reforma da Igreja modificando seu sistema de liderança, pelo qual nenhuma igreja deveria exercer qualquer autoridade ou governo sobre outras, e ninguém deveria exercer autoridade na Igreja se isso não lhe fosse conferido por meio de eleição. Esse sistema, considerado "separatista" pela Igreja Anglicana, ficou conhecido como Congregacionalismo.[31] Richard Fytz é considerado o primeiro pastor de uma igreja congregacional, entre os anos de 1567 e 1568, na cidade de Londres. Por volta de 1570 ele publicou um manifesto intitulado As Verdadeiras Marcas da Igreja de Cristo.[32] Em 1580 Robert Browne, um clérigo anglicano que se tornou separatista, junto com o leigo Robert Harrison, organizou em Norwich uma congregação cujo sistema era congregacionalista,[33] sendo um claro exemplo de igreja desse sistema.
Na Escócia, John Knox (1505-1572), que tinha estudado com João Calvino em Genebra, levou o Parlamento da Escócia a abraçar a Reforma Protestante em 1560, sendo estabelecido o Presbiterianismo. A primeira Igreja Presbiteriana, a Church of Scotland (ou Kirk), foi fundada como resultado disso.[34]

Nos Países Baixos e na Escandinávia


Erasmo de Roterdão.A Reforma nos Países Baixos, ao contrário de muitos outros países, não foi iniciado pelos governantes das Dezessete Províncias, mas sim por vários movimentos populares que, por sua vez, foram reforçados com a chegada dos protestantes refugiados de outras partes do continente. Enquanto o movimento Anabatista gozava de popularidade na região nas primeiras décadas da Reforma, o calvinismo, através da Igreja Reformada Holandesa, tornou a fé protestante dominante no país desde a década de 1560 em diante. No início de agosto de 1566, uma multidão de protestantes invadiu a Igreja de Hondschoote na Flandres (atualmente Norte da França) com a finalidade de destruir das imagens católicas,[35][36][37] esse incidente provocou outros semelhantes nas províncias do norte e sul, até Beeldenstorm, em que calvinistas invadiram igrejas e outros edifícios católicos para destruir estátuas e imagens de santos em toda a Holanda, pois de acordo com os calvinistas, estas estátuas representavam culto de ídolos. Duras perseguições aos protestantes pelo governo espanhol de Felipe II contribuíram para um desejo de independência nas províncias, o que levou à Guerra dos Oitenta Anos e eventualmente, a separação da zona protestante (atual Holanda, ao norte) da zona católica (atual Bélgica, ao sul).[34]
Teve grande importância durante a Reforma um teólogo holandês: Erasmo de Roterdã. No auge de sua fama literária, foi inevitavelmente chamado a tomar partido nas discussões sobre a Reforma. Inicialmente, Erasmo se simpatizou com os principais pontos da crítica de Lutero, descrevendo-o como "uma poderosa trombeta da verdade do evangelho" e admitindo que, "É claro que muitas das reformas que Lutero pede são urgentemente necessárias.".[38] Lutero e Erasmo demonstraram admiração mútua, porém Erasmo hesitou em apoiar Lutero devido a seu medo de mudanças na doutrina. Em seu Catecismo (intitulado Explicação do Credo Apostólico, de 1533), Erasmo tomou uma posição contrária a Lutero por aceitar o ensinamento da "Sagrada Tradição" não escrita como válida fonte de inspiração além da Bíblia, por aceitar no cânon bíblico os livros deuterocanônicos e por reconhecer os sete sacramentos.[39] Estas e outras discordâncias, como por exemplo, o tema do Livre arbítrio fizeram com que Lutero e Erasmo se tornassem opositores.


Catedral luterana em Helsinque, Finlândia.Na Dinamarca, a difusão das idéias de Lutero deveu-se a Hans Tausen. Em 1536 [40] na Dieta de Copenhaga, o rei Cristiano III aboliu a autoridade dos bispos católicos, tendo sido confiscados os bens das igrejas e dos mosteiros. O rei atribuiu a Johann Bugenhagen, discípulo de Lutero, a responsabilidade de organizar uma Igreja Luterana nacional.[41] A Reforma na Noruega e na Islândia foi uma conseqüência da dominação da Dinamarca sobre estes territórios; assim, logo em 1537 ela foi introduzida na Noruega e entre 1541 e 1550 [40] na Islândia, tendo assumido neste último território características violentas.
Na Suécia, o movimento reformista foi liderado pelos irmãos Olaus Petri e Laurentius Petri. Teve o apoio do rei Gustavo I Vasa,[42] que rompeu com Roma em 1525, na Dieta de Vasteras. O luteranismo, então, penetrou neste país estabelecendo-se em 1527.[40] Em 1593, a Igreja sueca adotou a Confissão de Augsburgo. Na Finlândia, as igrejas faziam parte da Igreja sueca até o início do século XIX, quando foi formada uma igreja nacional independente, a Igreja Evangélica Luterana da Finlândia.

Em outras partes da Europa

Na Hungria, a disseminação do protestantismo foi auxiliada pela minoria étnica alemã, que podia traduzir os escritos de Lutero. Enquanto o Luteranismo ganhou uma posição entre a população de língua alemã, o Calvinismo se tornou amplamente popular entre a etnia húngara.[43] Provavelmente, os protestantes chegaram a ser maioria na Hungria até o final do século XVI, mas os esforços da Contra-Reforma no século XVII levaram uma maioria do reino de volta ao catolicismo.[44]
Fortemente perseguida, a Reforma praticamente não penetrou em Portugal e Espanha. Ainda assim, uma missão francesa enviada por João Calvino se estabeleceu em 1557 numa das ilhas da Baía de Guanabara, localizada no Brasil, então colônia de Portugal. Ainda que tenha durado pouco tempo, deixou como herança a Confissão de Fé da Guanabara.[45] Na Espanha, as idéias reformadas influíram em dois monges católicos: Casiodoro de Reina, que fez a primeira tradução da Bíblia para o idioma espanhol, e Cipriano de Valera, que fez sua revisão,[46] originando a conhecida como Biblia Reina-Valera.[47]


Massacre de São Bartolomeu.Imediatamente após o início da Reforma Protestante, a Igreja Católica Romana decidiu tomar medidas para frear o avanço da Reforma. Realizou-se, então, o Concílio de Trento (1545-1563),[48] que resultou no início da Contra-Reforma ou Reforma Católica,[49] na qual os Jesuítas tiveram um papel importante.[50] A Inquisição e a censura exercida pela Igreja Católica foram igualmente determinantes para evitar que as idéias reformadoras encontrassem divulgação em Portugal, Espanha ou Itália, países católicos.[51]
O biógrafo de João Calvino, o francês Bernard Cottret, escreveu: "Com o Concílio de Trento (1545-1563)… trata-se da racionalização e reforma da vida do clero. A Reforma Protestante é para ser entendida num sentido mais extenso: ela denomina a exortação ao regresso aos valores cristãos de cada "indivíduo"". Segundo Bernard Cottret, "A reforma cristã, em toda a sua diversidade, aparece centrada na teologia da salvação. A salvação, no Cristianismo, é forçosamente algo de individual, diz mais respeito ao indivíduo do que à comunidade",[52] diferente da pregação católica que defende a salvação na igreja.[53]
O principal acontecimento da contra-reforma foi a Massacre da noite de São Bartolomeu. As matanças, organizadas pela casa real francesa, começaram em 24 de Agosto de 1572 e duraram vários meses, inicialmente em Paris e depois em outras cidades francesas, vitimando entre 70.000 e 100.000 protestantes franceses (chamados huguenotes).[54]
Um dos pontos de destaque da reforma é o fato de ela ter possibilitado um maior acesso à Bíblia, graças às traduções feitas por vários reformadores (entre eles o próprio Lutero) a partir do latim para as línguas nacionais.[55] Tal liberdade fez com que fossem criados diversos grupos independentes, conhecidos como denominações. Nas primeiras décadas após a Reforma Protestante, surgiram diversos grupos, destacando o Luteranismo e as Igrejas Reformadas ou calvinistas (Presbiterianismo e Congregacionalismo). Nos séculos seguintes, surgiram outras denominações reformadas, com destaque para os Batistas e os Metodistas.
A seguir, uma tabela ilustrando o surgimento a traves dos séculos das diferentes correntes ou ramos do Protestantismo.

Igreja Livro Sagrado Salvação humana Sacramentos Rito religioso Principais áreas de influência européia

Católica A Bíblia é a fonte de fé, mas devia ser interpretada pelos padres da Igreja. A tradição católica também é uma fonte de fé, assim como o Magistério da Igreja. Salvação pela fé com o auxílio das obras. São sete: batismo, crisma, Eucaristia, matrimônio, penitência, ordem e unção dos doentes. Missa solene em latim. Espanha, Portugal, Itália, sul da Alemanha, maioria da França, maioria da Irlanda.

Luterana A Bíblia é a única fonte de fé. Permitia-se seu livre exame. Salvação pela fé em Deus. São dois: batismo (adulto e infantil) e eucaristia. Culto simples (com liturgia) com o uso das línguas nacionais. Norte da Alemanha, Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlândia.

Calvinista A Bíblia é a única fonte de fé. Permitia-se seu livre exame. Salvação pela fé e graça de Deus (predestinação). As boas obras eram vistas como conseqüência da salvação. São dois: batismo (adulto e infantil) e Eucaristia. Culto bem simples (com liturgia) com o uso das línguas nacionais. Suíça, Países Baixos, parte da França (huguenotes), Inglaterra (puritanos), Escócia (presbiterianos).

Anglicana A Bíblia é a fonte principal de fé. Devia ser interpretada pela Igreja (tradição) e permitia-se seu livre exame (razão). Salvação pela fé e graça de Deus (predestinação). As boas obras eram vistas como conseqüência da salvação. Para os anglicanos o batismo (adulto e infantil) e a Eucaristia foram os dois sacramentos instituídos por Jesus Cristo. Os demais ritos sacramentais da Igreja também são aceitos, apesar de não terem sido instituídos por Cristo, mas são reconhecidos por serem, em parte, estados de vida aprovados nas Escrituras: a confirmação, penitência, ordens, matrimônio e a unção dos enfermos. Culto conservando a forma católica (liturgia, hierarquia da Igreja). Uso da língua nacional (inglês). Inglaterra.



Referências

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Lição 4 - A Oração em O Novo Testamento

I - Existem certas áreas claramente definidas nas quais se exibe ensinamento neotestamentário sobre a oração; porém, a fonte de onde todas as suas instruções concernentes à oração emanam, é a própria doutrina e prática de Cristo.



II – A ORAÇÃO NOS EVANGELHOS:

• (1) - Quanto à doutrina da oração de Jesus, essa se exibe principalmente em Suas parábolas:

• (A) - Lc 11:5-8 - Na parábola do amigo que queria tomar emprestados três pães à meia-noite, o Senhor inculca a importunação na oração; e a base sobre a qual se edifica a confiança, na oração importuna, é a generosidade do Pai (Mt 7:7-11).

• (B) – Lc 18:1-8 - A parábola do juiz injusto exorta à tenacidade na oração, que inclui tanto a persistência como a continuação. As demoras de Deus na resposta à oração não se devem à indiferença, mas sim, ao amor que deseja desenvolver e aprofundar a fé que é finalmente vindicada.

• (C) – Lc 18:10-14 - Na parábola do fariseu e do publicano, Cristo insiste sobre a humildade e a penitência na oração e adverte contra o senso de auto-superioridade. Auto-humilhação, na oração, significa aceitação perante Deus, enquanto que a auto-exaltação oculta a face de Deus.

• (D) – Mt 18:21-35 - Cristo exorta que se use de caridade na oração, na parábola do servo injusto. É à oração feita por um espírito perdoador que Deus responde.

• (E) - Simplicidade na oração é ensinada em Mt 6:5-8; 23:14; Mc 12:38-40; Lc 20:47. A oração precisa ser expurgada de todo fingimento. Sempre deve originar-se na simplicidade de coração e de motivo, expressando-se em simplicidade de linguagem e petição.

• (F) - O Senhor também exortou que se usasse de intensidade na oração (Mc 13:33; 14:38; Mt 26:41). Nesse caso, vigilância e fé se combinam para formar uma vigilância que não dormita.

• (G) – Em Mt 18:19-20, novamente a unidade na oração é destacada. Se um grupo de crentes, dotados da mente de Cristo, orarem no Espírito Santo, suas orações serão eficazes. Porém, a oração também deve ser feita de maneira expectativa (Mc 11:24).

• A oração que é apenas um tentativa pouco consegue; a oração que a esfera na qual a fé opera, na rendição à vontade de Deus, muito conseguirá (Mc 9:23).

• (2) - Quanto aos objetivos da oração, Jesus teve singularmente pouco a dizer. Indubitavelmente Ele estava contente em permitir que o Espírito Santo impulsionasse Seus discípulos na oração. Os alvos aos quais Ele se referiu, ao ensinar a respeito da oração, podem ser encontrados em Mc 9:28-29; Mt 5:1 6:11,13; 9:36-38; Lc 11:13.

• (3) - Quanto ao método da oração, o Senhor tinha duas coisas importantes a ensinar:

• (3.1) - Em primeiro lugar, a oração agora devia ser oferecida a Ele, na maneira pela qual Lhe era oferecida quando Ele estava neste mundo (por exemplo, Mt 8:2; 9:18).

• Assim como Ele insistia então sobre a fé (Mc 9:23), e testava a sinceridade (Mt 9:27-31), e desvendava ignorância (Mt 20:20-22) e a presunção pecaminosa (Mt 14:27-31), naqueles que faziam petições, semelhantemente faz Ele até hoje, na experiência daqueles que Lhe faz orações.

• (3.2) - Em segundo lugar, a oração deve ser agora oferecida em nome de Cristo (Jo 14:13; 15:16; 16:23-27), por meio de quem temos acesso ao Pai.

• Orar em nome Cristo é orar como o próprio Jesus oraria, é orar ao Pai conforme o Filho O tornou conhecido para nós — ora, para Jesus, o verdadeiro foco da oração era a vontade do Pai. Aqui temos a característica básica da oração cristã: um novo acesso ao Pai que Cristo assegura para o crente, e oração em harmonia com a vontade do Pai, visto ser oferecida em nome de Cristo.



• (4) - No tocante à prática do Senhor quanto à oração, é bem conhecido o fato que costumava orar em segredo (Lc 5:15 e 6:12); em períodos de conflito espiritual (Jo 12:20-28; Lc 22:39-46); e sobre a cruz também orou (Mt 27:46; Lc 23:46).

• Em Suas orações, Jesus ofereceu ação de graças (Lc 10:21; Jo 6:11; 11:41; Mt 26:27), buscou orientação (Lc 6:12-16), intercedeu (Jo 17:6-19, 20-26; Lc 22:31-34; Mc 10:16; Lc 23:34), e comungou com o Pai (Lc 9:28-36).

• O assunto principal de Sua oração sumo sacerdotal, em Jo 17, é a unidade da Igreja.

• (5) - Quanto à oração do Pai Nosso, será suficiente salientar que depois da invocação (Mt 6:9b) seguem-se seis petições (9c-13b), das quais as primeiras três se referem ao nome, ao reino e à vontade de Deus, enquanto que as três últimas se referem às necessidades humanas de pão, perdão e vitória. O Pai Nosso então se encerra com uma doxologia (13c) que contém uma tríplice declaração concernente ao reino, ao poder e à glória de Deus. É dessa maneira que o crente é exortado atualmente a orar.

III – A ORAÇÃO EM ATOS DOS APÓSTOLOS:

• O livro de Atos é um excelente elo entre os evangelhos e as epístolas, visto que nele a Igreja apostólica tenha posto em efeito o ensinamento de nosso Senhor acerca da oração.

• A Igreja nasceu na atmosfera de oração e em resposta, o Espírito foi derramado sobre ela (At 1:4; 2:4).

• A oração continuou sendo a atmosfera nativa da Igreja (At 2:42; 6:4, 6).

• Permanecia no pensamento da Igreja uma íntima conexão entre a oração e a presença e o poder do Espírito (At 4:31).

• Nos tempos de crise, a Igreja lançava mão do recurso da oração (At 4:23-31; 12:5, 12).

• Por todo o livro de Atos os líderes da Igreja aparecem como homens de oração (At 9:40; 10:9; 16:25; 28:8), os quais exortam aos crentes que orem consigo (At 20:23, 36; 21:5).

IV – A ORAÇÃO NAS EPÍSTOLAS PAULINAS:

• É significativo que imediatamente depois que Cristo se revelou a Paulo, na estrada de Damasco, diz-se sobre Paulo: ‘…ele está orando’ (At 9:11). Provavelmente pela primeira vez em sua vida, Paulo descobriu o que a oração realmente significa, tão profunda foi a transformação de seu coração, efetuada pela conversão. Desse momento em diante Paulo foi homem dedicado à oração. Na oração o Senhor lhe falava (At 22:17-21).

• Para Paulo, a oração significava ação de graças, intercessão, senso da presença de Deus (I Ts 1:2-3; Ef 1:1621).

• Ele descobriu que o Espírito Santo o ajudava em oração, ao procurar saber e fazer a vontade de Deus (Rm 8:14, 26).

• Em sua experiência havia uma íntima ligação entre a oração e a inteligência cristã (I Co 14:14-19).

• A oração, no conceito de Paulo, é algo absolutamente essencial para o crente (Rm 12:12).

• A armadura do crente (Ef 6:13-18) inclui a oração que Paulo descreve como ‘toda oração’, em ‘todo tempo’, com ‘toda perseverança’ a favor de ‘todos os santos’. E Paulo praticava aquilo que pregava (Rm 1:9; Ef 1:16; I Ts 1:2); isso explica sua insistência sobre a oração quando escrevia para seus irmãos na fé (Fp 4:6; Cl 4:2).

• Em suas epístolas, Paulo aparece constantemente a referir-se à oração, e é instrutivo examinar algumas de suas orações, por causa do conteúdo das mesmas:

• (A) - Em Rm 1:8-12, ele derrama seu coração a Deus em ação de graças (vers. 8), insiste em servir a Cristo com seu espírito (vers. 9a), intercede a favor de seus amigos em Roma (vers. 9b), expressa seu desejo de transmitir-lhes algum dom espiritual (vers. 10 e seg.), e declara que muito dependia deles para sua elevação espiritual (vers. 12).

• (B) - Em Ef 1:15-19, Paulo novamente agradece a Deus pelos seus convertidos (vers. 15 e seg), e ora para que recebam o Espírito mediante quem são alcançados o conhecimento de Deus e a iluminação do coração (vers. 17.18a), a fim de que possam conhecer a esperança do chamamento de Deus, a riqueza da herança dada por Deus e a grandeza do poder de Deus que fora demonstrada na ressurreição de Cristo (vers. 18b-l9).

• (C) - Novamente, em Ef 3:14-18, o apóstolo pleiteia perante o Pai (vers. 14 e seg) a favor de seus irmãos na fé, para que possam ficar crescentemente cônscios do poder de Deus (vers. 16), a fim de que Cristo possa neles habitar, e para que possam estar enraizados em amor (vers. 17), a fim de que cada qual, sendo aperfeiçoado juntamente com os demais, seja cheio de toda a plenitude de Deus (vers. 18 e seg.).

• Ambas essas orações da epístola aos Efésios são bem sumarizadas no tríplice desejo de Paulo que os crentes recebam conhecimento e poder cujo fruto é amor a Cristo, mediante o qual como indivíduos e como grupo, podem atingir a perfeição.

• (D) - Em Cl 1:9-14, Paulo novamente ora para que os crentes venham a conhecer a vontade de Deus através de sabedoria e compreensão espirituais (vers. 9), a fim de que a prática concorde com a profissão de fé (vers. 10), a fim de que possuam o poder de por sua fé em prática (vers. 11), e a fim da serem agradecidos pelo imenso privilégio e posição que receberam no Senhor Jesus (vers. 12 e seg.).

• Porém, talvez a maior contribuição de Paulo ao nosso entendimento sobre a oração cristã esteja no fato que ele estabeleceu a conexão entre a oração e o Espírito Santo.

• A oração é de fato um dom do Espírito (I Co 14:14-16). O crente ora ‘no Espírito’ (Ef 6:18; Jd 20); por conseguinte, a oração é uma cooperação entre Deus e o crente devido o fato que é oferecida ao Pai, em nome do Filho, através da inspiração do Espírito Santo que habita em nosso íntimo.

V – A ORAÇÃO EM HEBREUS, TIAGO E 1ª JOÃO:

• A epístola aos Hebreus faz uma significativa contribuição à compreensão da oração cristã.

• O trecho de Hb 4:4-16 mostra por qual motivo a oração é possível: é possível porque temos um grande Sumo Sacerdote que é ao mesmo tempo divino e humano, porque Ele está agora nos lugares celestiais, e por causa daquilo que Ele agora está fazendo ali. Quando oramos, é para receber misericórdia e achar graça.

• A referência à vida de oração do Senhor Jesus, em Hb 5:7-10, realmente ensina o que é a oração: as ‘orações’ e ’súplicas’ de Cristo foram ‘oferecidas’ a Deus e, nesse serviço espiritual, Ele ‘aprendeu a obediência, e, por conseguinte, foi ouvido’.

• Em Hb 10:19-25, a ênfase recai sobre a oração feita pelo povo de Deus em conjunto, bem como sobre as exigências e motivos que nisso estão envolvidos. O lugar da oração se descreve em Hb 6:19.

• A epístola de Tiago tem três passagens significativas sobre a oração:

• (A) - A oração em momentos de perplexidade se aborda em Tg 1:5-8;

• (B) - Os motivos corretos na oração se sublinham em Tg 4:1-3; e

• (C) - A significação da oração em tempo do enfermidade se deixa clara em Tg 5:13-18.

• Em sua primeira epístola, João salienta o caminho para a ousadia e a eficácia na oração (I Jo 3:21-24), enquanto que em I Jo 5:14-16 o apóstolo estabelece a relação entre a oração e a vontade de Deus, e demonstra que a eficácia na oração é especialmente relevante para a intercessão, mas que surgem situações nas quais a oração é impotente.

VI – CONSIDERAÇÕES FINAIS:

• O coração da doutrina bíblica da oração é bem expresso por Westcott:

• “A oração autêntica — a oração que necessariamente é respondida — é o reconhecimento pessoal e a aceitação da vontade divina (Jo 14:7; cf. Mc 11:24). Segue-se que o ouvir da oração que ensina a obediência não consiste tanto na outorga de uma petição específica, que o solicitador supõe ser o caminho para a finalidade desejada, mas antes, a certeza de que aquilo que é proporcionado conduz mais eficazmente a essa finalidade. Assim sendo, somos ensinados que Cristo aprendeu que todo detalhe de Sua vida e paixão contribuiu para a realização da obra que Ele veio cumprir, e por isso foi mui perfeitamente ‘ouvido’. Nesse sentido é que Cristo foi ‘ouvido’ por causa da Sua piedade” (Hb 5:7b).



Fonte de Consulta:

1) Douglas, J. D. – O Novo Dicionário da Bíblia – Edições Vida Nova

Publicado no blog Escola Bíblica Dominical para Todos

15/10/2010

Lição 3 - A Oração Sábia

Publicado em 13 de Outubro de 2010 as 08:29:55 AM Comente

Texto Base: 2Cr 6:12,21,36,38,39

“E, acabando Salomão de orar, desceu fogo do céu e consumiu o holocausto e os sacrifícios; e a glória do Senhor encheu a casa”(2Cr 7:1).
INTRODUÇÃO

Como podemos avaliar se uma oração é sábia? É claro que nós não podemos estipular algum parâmetro que possamos tomar como referencia para dizermos com precisão: “esta oração se enquadra dentro do parâmetro estabelecido, logo é uma oração sábia”, não. O Espírito Santo é o avaliador da oração; Ele ajuda as nossas fraquezas e aperfeiçoa os ingredientes certos do incenso (a nossa oração) a ser posto diante do Deus Pai(ler Rm 8:26). Todavia, não podemos deixar de destacar que a melhor maneira de apelarmos a Deus é quando vamos a Ele como servos. Muitos querem determinar que Deus faça isto ou aquilo, ao seu bel prazer, esquecendo-se que o Senhor nos ensina a servidão. Uma condição basilar a uma oração sábia e eficaz não deixa de ser a que nos comportemos diante do nosso Senhor com um coração de servo. Ser servo, humilde, submisso é essencial e indispensável para estarmos diante do Senhor em oração; é a essência do caráter cristão. Davi tinha um coração de servo! Deus mesmo o chamou de servo(Sl 78:70; 89:20). Jesus é o maior exemplo de servo humilde e obediente(João 4:34; Fp 2:5-8).

I. VIVENDO A DIFERENÇA

Salomão viveu num lar marcado por sucessivos problemas morais. Davi foi cuidadoso em construir um reino, trabalhou arduamente para isso. Como líder e administrador da monarquia, ele se saiu muito bem, todavia, quase nada vemos ser feito dentro de casa. Havia um dualismo reino-família que pareciam ser mutuamente excludentes. Os maiores inimigos de Davi não foram as nações vizinhas, mas uma anarquia generalizada que se instaurou dentro de sua própria casa: Amnon estupra sua irmã; Absalão mata seu irmão; as concubinas do rei são possuídas sexualmente pelo seu próprio filho; Adonias usurpa o trono, etc. São todos fatos de certa forma ligados à vida familiar. Uma família desestruturada assemelha-se a um trem que descarrilou; é uma tragédia. O que podemos dizer com segurança é que Davi se saiu muito bem como rei, mas o mesmo não pode ser dito como pai. Davi estruturou o seu reino, mas deixou sua casa ruir. Não adianta ganhar tudo e perder a família. Já ouvi alguém dizer acertadamente que nenhum sucesso justifica o fracasso da família.

O apóstolo Paulo bem disse em 1Corintios 16:19, quando se refere a um casal de crentes da Igreja Primitiva: “… muito vos saúdam Áquila e Priscila e, bem assim, a Igreja que está na casa deles”. A nossa casa deve ser uma extensão do Reino de Deus e o Reino de Deus precisa estar dentro de nossa casa. Um não pode existir sem o outro.

Conquanto tenha falhado na educação dos seus filhos por se dedicar ao reino de Israel, Davi deixou um legado, que foi referência na vida de Salomão: o legado espiritual. O próprio Salomão testemunhou isso, quando o Senhor lhe apareceu em sonho em Gibeão: “E disse Salomão: De grande beneficência usaste tu com teu servo Davi, meu pai, como também ele andou contigo em verdade, e em justiça, e em retidão de coração, perante a tua face; e guardaste-lhe esta grande beneficência e lhe deste um filho que se assentasse no seu trono, como se vê neste dia”(1Rs 3:6). Líder justo e inteiramente devotado a seu povo, Davi foi, acima de tudo, um homem da mais profunda fé, responsável por abrir as portas do arrependimento para todas as gerações futuras. Ele deixou a todos os judeus e a toda a humanidade, um legado de fé e coragem, bem como a dinastia real de Israel da qual viria o Messias.

Ao longo de sua vida, Davi demonstrou por diversas vezes que era dependente da orientação divina para realização de suas conquistas e de seus planos (1Sm 23.2; 30.8; 2Sm 2.1). E ele sabia que para o seu sucessor obter êxito no seu governo era necessário uma dependência total aos ditames da Palavra de Deus. Por isso, antes de morrer, deu a Salomão suas últimas instruções: “E tu, meu filho Salomão, conhece o Deus de teu pai e serve-o com um coração perfeito e com uma alma voluntária; porque esquadrinha o Senhor todos os corações e entende todas as imaginações dos pensamentos; se o buscares, será achado de ti; porém, se o deixares, rejeitar-te-á para sempre” (1Cr 28:9). Esse aviso foi bastante instrutivo, firme e contundente; e cabia a Salomão, juntamente com seus súditos, observar esse importante legado. E o povo de Israel não ficou livre dessa advertência, pois antes disso Davi lembrou ao povo a guardar todos os mandamentos do Senhor (1Cr 28.8).

Salomão levou em consideração o legado espiritual deixado por seu pai Davi. Ele começou seu reinado com fé no Senhor e amor a Ele(1Reis 3:3). Como uma demonstração de seu caráter piedoso, ele foi a Gibeão para lá sacrificar ao Senhor, e sacrificou mil holocaustos(1Rs 3:4). Nesse local apareceu-lhe o Senhor de noite, em sonho, e disse-lhe: “Pede o que quiseres que te dê”. Diante dessa oportunidade inigualável, Salomão proferiu uma das mais belas orações da Bíblia; uma oração que agradou a Deus (1Rs 3:10). Ele orou pedindo sabedoria e um coração entendido isto é, capacidade para tomar decisões coerentes com a verdade revelada na Lei de Moisés(1Rs 3:5-9). Com esse pedido, Salomão demonstrou reconhecer três verdades importantíssimas: (1) ele era humanamente incapaz de governar Israel; (2) seu sucesso dependia única e exclusivamente do favor de Deus; e (3) o povo de Israel não era propriedade sua, e sim do próprio Jeová, Deus de Israel. Deus se agradou de seu pedido(1Rs 3:10) e atendeu sua oração(1Rs 3:11-14). Todavia, o dom da sabedoria que Deus deu a Salomão não era uma garantia de que ele sempre andaria em retidão. Por essa razão, Deus acentuou que a vida longa de Salomão dependeria de “andares nos meus caminhos”(1Rs 3:14). A infidelidade de Salomão posteriormente, impediu a realização integral da vontade de Deus na sua vida(1Rs 11:1-8).

A oração de Salomão na inauguração do Templo(1Rs 8.1-9.9; 2Cr 5-7). Durante sete anos e meio Salomão construiu o Templo - entre o quarto ano do seu reinado, até o décimo primeiro ano(1Rs 6:37,38). Quando o Templo ficou todo pronto, Salomão convocou todo o Israel para uma grande festa de dedicação. Ele convocou os principais líderes do povo e todo o povo, e ordenou o translado da Arca da Aliança para o Templo. No dia do cortejo, que foi feito com grande pompa, em que todos os sacerdotes e levitas cantavam salmos e o povo festejava, foi imolado um imenso número de ovelhas e bois em sacrifício. A Arca foi colocada no local chamado de Santo dos Santos, sendo que aí somente uma vez por ano era permitida a entrada do sumo sacerdote. Depois de um breve discurso (2Cr 6:1-11), Salomão se dirigiu a Deus, com uma das mais belas orações da Bíblia (2Cr 6:14-42). Depois da dedicação do Templo, o Senhor apareceu mais uma vez a Salomão e ordenou que ele obedecesse à Lei e conduzisse o povo à obediência, com a promessa de que, sob estas condições, os olhos do Senhor estariam sempre sobre aquele lugar, mas caso Israel desobedecesse, seria submetido à severa disciplina (1Rs 9:1-9; 2Cr 7:11-22).

Davi começou muito bem; esteve muito mal, cometendo pecados terríveis, mas soube se erguer, não se deu por vencido; terminou os seus dias em comunhão com Deus, a ponto de o Senhor se agradar em fazer um pacto com ele, e prometer que o seu reino não teria fim. Com Salomão, infelizmente, os seus dias finais foram uma decepção, o que resultou na divisão do reino de Israel.

O que é mais admirável num crente não são os dons e prováveis unções que ele aufere, mas a capacidade espiritual de ultrapassar e vencer as barreiras inibidoras de sua jornada até ao alvo pretendido. A nossa maratona é de resistência. Não há classificação na chegada, mas há grande recompensa quem resistiu os obstáculos e chegou até o fim. Quem chegar no final da maratona será premiado. A maratona só termina com a glorificação do crente, e ela não acontece aqui na terra.

II. AS CARACTERISTICAS DA ORAÇÃO DE SALOMÃO

1. Salomão confessou que Deus é único(2Cr 6:14 -”e disse: Ó Senhor, Deus de Israel, não há Deus semelhante a ti, nem nos céus nem na terra, como tu, que guardas o concerto e a beneficência aos teus servos que caminham perante ti de todo o seu coração“. Salomão proferiu estas palavras ajoelhado(2Cr 6:13), como sinal de reverência e de submissão ao Deus supremo e único. Naquela época, era bastante incomum que um rei se ajoelhasse perante outro, sobretudo diante de seus súditos, porque o ato significava submissão a uma autoridade superior. Salomão demonstrou seu grande amor, submissão e respeito por Deus ao ajoelhar-se diante dele. Sua atitude revelou que reconhecia Deus como supremo Rei e Autoridade; isto encorajou o povo a fazer o mesmo.

A Bíblia Sagrada mostra-nos, com absoluta clareza, que, além de existir, Deus é único. Os estudiosos e historiadores ficam a indagar porque o povo hebreu chegou, ao contrário de todos os povos à sua volta, à concepção de um único Deus, mas, a verdade, como sabemos, é que isto não foi fruto de qualquer mente humana, mas o resultado da revelação divina, que, desde quando chamou Abrão para que saísse de Ur dos caldeus, revelou-Se ser um único Deus(Gn 15:7; Ne 9:7).

Moisés proferiu, também, que Deus é único: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor“(Dt 6:4). Deus, através de Isaias, foi enfático: “Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim”(Is 46:9). Jesus em sua oração sacerdotal também fez menção deste fato(João 17:3). O apóstolo Paulo também fez menção de que Deus é único(Rm 16:17; 1Tm 1:17). Judas versículo 25: “ao único Deus, Salvador nosso, por Jesus Cristo, nosso Senhor, seja glória e majestade, domínio e poder, antes de todos os séculos, agora e para todo o sempre. Amém”!.

2. Salomão proclama a fidelidade de Deus(2Cr 6:14,15) - “que guardaste ao teu servo Davi, meu pai, o que lhe prometeste; porque tu, pela tua boca, o disseste e, pela tua mão, o cumpriste, como se vê neste dia”. Salomão reconheceu que Deus é fiel e soberano sobre tudo; cumpre promessas e é misericordioso para com todos os que têm um coração reto. Ele mesmo, no momento da inauguração do Templo, estava vivendo o cumprimento das ricas e infalíveis promessas divinas feitas a Davi(1Cr 22:9,10; 2Sm 7:12,16).

Todos os pactos constantes na Bíblia que foram firmados entre Deus e o homem sempre tiveram, da parte de Deus, seu pleno cumprimento. No Éden, Deus prometeu vida ao homem enquanto ele não comesse da árvore do conhecimento do bem e do mal, o que foi rigorosamente cumprido.

A Noé, Deus prometeu salva-lo do dilúvio, juntamente com sua família, através da arca, o que cumpriu; posteriormente, prometeu nunca mais destruir a Terra com um novo dilúvio, o que tem se cumprido desde então, pois nunca mais houve um dilúvio universal.

A Abraão, homem sem filhos e já idoso, prometeu uma descendência e que dele sairiam povos e reis; Deus tem cumprido este compromisso, como podem testemunhar os milhões de judeus e árabes que hoje existem.

A Israel, Deus prometeu que seria sua propriedade peculiar, seu reino sacerdotal; e tem cumprido até aqui a sua parte no pacto, preservando a nação israelita, apesar da incredulidade dela, ao longo dos séculos, de forma evidentemente miraculosa, como foi a restauração do Estado de Israel na Palestina, como prova de mais um compromisso que Deus tem cumprido, a de entregar a Terra de Canaã a Israel.

A Davi, Deus prometeu que sua descendência governaria eternamente sobre Israel; e sabemos que a vinda de Cristo, que é descendente de Davi e vivo está, é a demonstração do cumprimento desta promessa, pois para sempre o Senhor reinará sobre Israel.

Aos homens pecadores, Deus prometeu perdão dos pecados aos que crerem em Jesus Cristo e tem cumprido este compromisso, como nós mesmos somos testemunhas, pois fomos alcançados por este amor e por este perdão e hoje desfrutamos da comunhão com o Senhor.

À Igreja, Jesus prometeu que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela(Mt 16:18), e isto tem sido cumprido, pois a igreja tem prevalecido sobre todas as sórdidas investidas de Satanás. Nosso Deus é Aquele que vela pela Sua Palavra para a cumprir (Jr.1:12).

Hoje, a igreja mística do Senhor Jesus espera o cumprimento da mais sublime promessa: a vinda do Senhor para levá-la ao Céu(João 14:1-3; 1Ts 4:17). Com absoluta certeza Ele virá; e, então, estaremos para sempre com Ele na sua glória (Ap 7:17; 21:4)

Portanto, Deus ao falar algo, ao assumir um compromisso, assume um compromisso com Ele mesmo(Is 55:10,11). Ele é fiel, como dizem as Escrituras (1Co1:9; 10:13; 2Co 1:18), ou seja, cumpre a sua Palavra, porque o caráter de Deus diz que Ele não muda (Ml 3:6), é a verdade (Dt.32:4; Jr.10:10), é justo (Ex.9:47; 2Cr.12:6; Sl.11:7) e que, portanto, sua Palavra só pode ser “sim e amém” (2Co 1:20).

3. Salomão era sensível ao bem-estar de seu povo(ler 2Cr 6:14 - 42). Pelas palavras de Salomão podemos observar este sentimento, que é próprio do líder que está em submissão e obediência ao Deus único e verdadeiro. O líder que é temente a Deus busca o melhor possível para os seus liderados, quer no aspecto social, moral ou espiritual. Foi assim com Moisés, com Josué, Samuel, Davi, Neemias e outros homens de Deus ao longo da história do povo de Israel.

Observe as palavras de Salomão dirigidas a Deus em oração, exaradas em 2Cr 6:24-40, solicitando o cuidado especial de Deus sobre o povo que escolhera para que fosse seu, entre todos os povos da terra(1Rs 8:51-53). Todavia, em sua oração, Salomão demonstra consciência de que as bênçãos e as provisões de Deus estão relacionadas a ações concretas no sentido de satisfazer aos requisitos e condições divinos. Esquecer esse fato é orar em vão.

O procedimento espiritual demonstrado por Salomão naquele momento diante do povo de Israel, o qual foi sincero, haja vista que Deus atendeu a sua oração de imediato(2Cr 7:1), deve ser o valor padrão na vida de todos os líderes hodiernos do povo de Deus. O líder cristão deve ser uma pessoa conhecida por meio de sua qualidade espiritual e atitude moral impoluta, e sua autoridade embasada diretamente na Palavra de Deus. Ele deve ser uma pessoa fervorosa em oração! Ele deve ser uma pessoa que vive sob os ditames da Palavra de Deus e através disso desafia os seus liderados a seguir o seu exemplo. O seu modo de vida, de agir, de falar, deve ser inteiramente controlado ou guiado pelo Espírito Santo.

O líder é alguém que deixa uma marca na vida, bem como no coração das pessoas. O seu proceder fará com que alguém sinta o desejo de fazer o que a Palavra de Deus diz. Ele procura causar um impacto na vida dos liderados não para querer receber glória ou querer aparecer, mas para que seja um fruto para toda a eternidade. Salomão, por ocasião da manifestação pública de sua submissão e adoração a Deus, apresentava uma marca visível a todo o povo de Israel, a marca da liderança e da submissão à autoridade de Deus.

III. A ORAÇÃO INTERCESSÓRIA

Orar de forma intercessória indica que entramos na presença de Deus para suplicar por outras pessoas, e que naquele momento não somos o alvo de nossas próprias orações. A oração intercessória é um imperativo; quem não o faz não exerce seu sacerdócio. Paulo é enfático ao dizer: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações e intercessões, ações de graça, em favor de todos os homens” (1Tm. 2:1). Na verdade, não oferecer oração intercessória a favor de outras pessoas é pecado; o profeta Samuel reconhecia isso: “Quanto a mim, longe de mim que eu peque contra o SENHOR, deixando de orar por vós…” (1Sm 12:23).

Interceder por alguém é estar na brecha como Ezequiel 22:30 menciona: “Procurei entre eles um homem que erguesse o muro e se pusesse na brecha diante de mim e em favor desta terra, para que eu não a destruísse, mas não encontrei nenhum”. A passagem de Ezequiel descreve a intercessão por uma nação inteira na sua rebelião contra Deus.

Portanto, a oração intercessória é puramente uma demonstração de amor, porque é desinteressada; ela se concentra nos outros. Através dela provamos que o bem-estar do semelhante está acima do nosso.

1. No Antigo Testamento. No Antigo Testamento, muitos homens de Deus foram fervorosos na prática da oração intercessória em favor de outrem. Através dela situações foram alteradas e reinos restabelecidos.

Abraão suplicou por Ló e este foi liberto da destruição de Sodoma e Gomorra. Moisés chegou a abdicar de sua bem-aventurança eterna ao interceder pelos filhos de Israel: “Agora, pois, perdoa o seu pecado; se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito” (Êx 32:32); esta sua intercessão foi tão eficaz, que levou Deus a poupar os rebelados israelitas.

Outra demonstração clássica de intercessão está em Números 14; ali é demonstrada uma das melhores narrativas sobre oração intercessória registradas na Bíblia; o povo se rebelou contra Deus provocando-o à ira, mas Moisés prontamente intercedeu pelo povo e Deus o perdoou(Nm 14:19,20).

Samuel orou constantemente pela nação de Israel(1Sm 12:23). Daniel orou pela libertação do seu povo do cativeiro (Dm 9:3). Davi suplicou pelo povo; intercedeu pelo seu filho(ler 2Sm 12:14-23). O patriarca Jó livrou-se de seu cativeiro quando intercedia por seus amigos (Jó 42:7-12).

Jeremias, interceu pelos filhos de Judá, mesmo sabendo que eles achavam-se afastados de Deus e mergulhados numa apostasia crônica. Ele nos dá exemplo de oração intercessória em tempo de calamidade. Trata-se uma oração motivada pela compaixão, pelo sofrimento do seu povo: “Os meus olhos derramem lágrimas de noite e de dia e não cessem porque a virgem, filha do meu povo, está ferida de grande ferida, de chaga mui dolorosa”(Jr 14:17). A “filha do meu povo” é Jerusalém, mergulhada em grande sofrimento por causa de uma seca prolongada, que provocava uma onda de crimes, de banditismo(Jr 14:18). Jeremias sente que, no meio da desgraça, pode fazer alguma coisa: compadecer-se, sofrer com os outros, interceder por eles. Salomão, em sua oração na dedicação do Templo, demonstrou o mesmo sentimento desses homens de Deus(2Cr 6:24-40).

2. No período interbíblico. Depois do cativeiro Babilônico, Deus continuou, ainda durante um tempo, levantando profetas para não permitir que o povo se mantivesse num indiferentismo em relação às coisas de Deus. Estes profetas foram Ageu, Zacarias e Malaquias. Porém, apesar das mensagens destes profetas o povo judeu manteve-se num indiferentismo e num formalismo que levariam o Senhor a não levantar profetas no meio do povo durante cerca de quatrocentos anos, período que é conhecido como o “período do silêncio” ou “período interbíblico”. Todavia, como nunca deixou de existir remanescente fiel a Deus, certamente, nesse período, houve alguém que esteve diante de Deus em temor e tremor, como se pode deduzir pelo capitulo 10 versículo 22 do evangelho de João, ou seja, a “Festa da Dedicação”, em memória à retomada do Templo pelos Macabeus, em 166 a.C., das mãos do rei sírio Antíoco IV, que tinha profanado o Templo de Deus (em 175 a.C). Lucas 2:25-38, também, denota o viver de pessoas piedosas, como Ana(a profetiza) e Simeão(homem justo) e muitos que esperavam a redenção de Jerusalém.

3. Em o Novo Testamento. No Novo Testamento, a Igreja é convocada para orar por nós mesmos (Mt.24:20; 26:41; Mc.13:18,33; Lc.22:40); uns pelos outros (Tg.5:16; Cl 1:3); pelos inimigos da Igreja (Mt.5:44; Lc.6:28); pelos ministros do Evangelho e pela obra do Senhor (Ef.6:19; 1Ts.5:25; Hb.13:18), como também pelas autoridades constituídas (1Tm.2:2), como por todos os homens (1Tm.2:1). Cristo rogou por Seus discípulos e fez especial intercessão por Pedro; também, intercedeu em favor dos seus inimigos (Lc 23:34). A Igreja orou por Pedro preso; Paulo é exemplo de constante intercessão(Cl 1:9-11).

O Novo Testamento declara que somos o sacerdócio santo (1Pe 2:4), o sacerdócio real (1Pedro 2:8) e um reino de sacerdotes (Ap 1:5). Observe que o apóstolo Pedro usa duas palavras para descrever este ministério sacerdotal: “Santo” e “real”. Santidade é algo necessário para que possamos comparecer perante o Senhor (Hb 12:14). Somos capazes de fazer isso apenas por causa da justiça de Cristo, não da nossa justiça. “Realeza” faz parte da autoridade majestosa a nós delegada como membros da “família real”, por assim dizer, com acesso legítimo à sala do trono de Deus.

Nos dias pelos quais passamos, em que muitos se têm deixado contaminar pelo amor de si mesmo (2Tm 3:1,2), poucos são os que se dedicam à tarefa intercessória nas igrejas locais. Há, na verdade, uma verdadeira banalização a respeito dos “pedidos de oração” que, em muitos lugares, nem sequer são lidos e que, uma vez apresentados à igreja, são imediatamente “jogados fora”, em cestos de lixo providencialmente colocados nos púlpitos. Não há acompanhamento dos pedidos de oração, não há envolvimento da igreja local no clamor ao Senhor. Urge voltarmos ao primeiro amor (vide At 2:46).

CONCLUSÃO

No exercício da oração intercessória, como cristãos piedosos da fé em Cristo, devemos nos dispor a interceder pela Igreja, pelos que ainda não são Igreja e pelos que a Igreja hão de alcançar. Ajamos assim, e teremos mais resposta dos céus e menos orações frustradas. “Orar e interceder pelos fracos da igreja e pelos perdidos do mundo é importante missão a ser desempenhada pelos que tem no coração o amor de Deus. Não ore de forma mecânica. Ore, suplique e interceda. Há muitos por quem orar!”(Souza, Estevão Ângelo. Guia Básico de Oração).

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço - Prof. EBD - Assembléia de Deus - Ministério Bela Vista. E-Mail: luloure@yahoo.com.br. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

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Fonte de Pesquisa: Bíblia de Estudo-Aplicação Pessoal. Bíblia de Estudo Pentecostal. Bíblia de Estudo das Profecias. O novo dicionário da Bíblia. Revista Ensinador Cristão - CPAD nº 44. Guia do leitor da Bíblia. A Teologia do Antigo Testamento - Roy B.Zuck. Comentário Bíblico Beacon - CPAD. Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento - William Macdonald. Através da Bíblia - Lucas - John Vernon McGee.